Esse mês vou atrasar em uma semana o texto sobre as
efemérides de outubro, pois não podia deixar passar essa data triste pra mim e
tantos outros amigos...
Na 5ª feira, dia 26/09, aconteceu a festa de despedida da
MTV Brasil Abril. Foi muito bom rever um monte de gente que só tenho tido
contato através do Facebook. Foi uma festa da nostalgia, claro. Não poderia ser
diferente. Quem fez a MTV de 1990 a 1997 fez história.
Agora sim a MTV Brasil se foi. A que virá não fará nada do
que foi feito nos anos 1990, nem terá produção própria, tudo terceirizado. Não
virá para causar, mudar ou movimentar o mercado da cultura pop. Do que li na imprensa e ouvi de pessoas nos bastidores, tudo indica um início
estranho.
O contexto também é outro. Certo é que a Abril devolve a
marca MTV para a Viacom com ela em baixa, principalmente entre os jovens, seu
público alvo.
Na televisão é péssimo que você tenha um programa que
comece na sequência de um programa de fracasso, sem ibope. Porqur além de ter que dar seu ibope, o
programa tem que recuperar o que foi perdido. É essa a situação da MTV Brasil Viacom. MTV
é sinônimo de vanguardismo e de cultura pop. A nova direção vai devolver isso à
marca?
Fenômeno igual ao da MTV nos anos 1990 só mesmo o Pânico!
quando estreou na Rede TV!, também quebrando paradigmas, reinventando linguagem
e mudando o comportamento. Hoje, o que o Pânico! fez se vê até mesmo na
poderosa Globo.
Acabei recentemente de ler “Como a Geração
Sexo-Drogas-E-Rock’n’Roll Salvou Hollywood” e, tomada às devidas proporções, há
semelhanças com a MTV dos 90. Eram pessoas que faziam o que faziam por
tesão, que trabalhavam com o que gostavam. A turma da MTV, da mesma forma como
era feito com os filmes, botava o coração em cada programa, matéria, vinheta ou
festa feita.
Estávamos no centro dos acontecimentos. Em termos de
linguagem jovem e cultura pop não havia nada mais importante que a MTV, tudo
chegava a nós. Todos os shows, todas as cenas, todas as bandas e artistas solo,
todos os lançamentos de todas as gravadoras majors e independentes, todas as
novidades. A MTV formava opinião. Todo mundo que era envolvido com cultura pop, que tinha algo a mostrar ou a
dizer, queria a MTV, dos menores aos maiores nomes. Em São Paulo só quem tinha
força parecida era a 89 FM, mas mesmo assim não como a MTV.
Experimentávamos pra valer, caíamos de cabeça em cada
produção. Cada viagem internacional, seja para cobrir o VMA ou para qualquer
outra produção, muitas vezes era uma grande aventura. Era inusitado para o
artista internacional dar entrevista para a MTV Brasil. Nesse último mês de MTV
Abril pudemos ver muita coisa de arquivo graças aos programas My MTV apresentados
pelos antigos VJs. Não era nada normal assistir a uma entrevista com o Rolling
Stones, David Bowie, U2, Metallica e Frank Zappa. Antes da MTV chegar ao Brasil
onde poderíamos assistir a entrevistas como estas? No programa Fantástico da
Globo??? O jeito de falar, de apresentar, as gírias, o texto, a forma de editar,
captar, em tudo se experimentava.
Isso mostra que tudo (tudo!), até coisas que hoje parecem
simples como uma entrevista, era novidade para quem via e fazia. Não tínhamos
as preocupações da TV aberta, do ibope, dos compromissos comerciais. Tínhamos
autonomia absoluta nos nossos programas. Eu experimentava tudo que podia, tanto
na captação, quanto na edição. O pessoal que trabalhava no dep. de Promo, onde
eram feitas todas as vinhetas gráficas, as aberturas, todo o visual da MTV,
também experimentava ao extremo, usando desde as ferramentas mais modernas até
o Super 8.
Muitos programas nem eram vistos pela chefia. Você
simplesmente fazia, entregava e ia ao ar. Era prazeroso ir trabalhar. Como já
disse aqui no Sete Doses de Cachaça, nada melhor do que ter que fazer um
programa especial sobre Ramones, Metallica ou Nirvana, escrever textos sobre
seus artistas favoritos, fazer pauta para entrevistar nomes que você admira
desde o início da adolescência, isso era bom demais. As notícias que vinham de
fora duravam mais, a velocidade das novidades era outra, mais lenta.
As transmissões ao vivo que aconteceram antes da MTV começar
a fazer os programas ao vivo, eram grandes aventuras. Flashs ao vivo no
Monsters of Rock, shows internacionais, Free Jazz, Dia Mundial de Combate à
aids. Era muito bom fazer tudo isso. Nos divertíamos e conseguíamos passar isso para o vídeo.
O Thunder fazia o CEP MTV (a cada dia uma aventura), Gastão
fez o “Gastão Redescobre o Brasil”, com viagens intermináveis pelo país, com
estrutura mínima; Massari cobriu grandes festivais internacionais e nacionais;
a Casa da Praia em 1993/94 e o MTV no Verão gravado no Rio em 1994/95; o
primeiro VMB bancado pela coragem de André Vaisman (que, como chefe, na verdade
bancou um monte de ideias loucas); os Acústicos, o Suor MTV, Mochila... Era tudo feito na
raça, com baixo orçamento e muita vontade. Éramos uma família. Criávamos
juntos, no início ideias eram compartilhadas e discutidas por todos, nomes de
programas, a logística.
A partir de 1997 a MTV tomou uma nova direção, mudou o
editorial e aconteceu o que aconteceu. Infelizmente, tudo o que aconteceu na
Avenida Professor Alfonso Bovero 52 de 1990 até 1997, e que é muito
difícil tentar expressar em palavras, não vai acontecer novamente.
Agora, pra essa turma que fez a MTV dos primeiros anos, que
ajudou a fortificar a marca, fica a ressaca da nostalgia. Mas no bom sentido. Todo
aquele pessoal se espalhou por todos os cantos, em jornais, produtoras,
emissoras, agências de conteúdo, mas pela saudade, pelas boas histórias, enfim,
pelas boas lembranças que todos carregam, fica claro que nenhum outro ambiente de
trabalho foi ou será tão bom como na MTV dos 90.
Tenho muito orgulho de fazer parte dessa história.
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