É só prestar atenção no que ouvimos hoje nas rádios e trilhas de novelas. Sei lá de quem é a culpa disso, mas a qualidade das composições brasileiras, seja qual for o gênero, está cada vez pior e caindo vertiginosamente nesses últimos dez anos, incluindo aí compositores consagrados.
Minha teoria, que já expressei aqui em um dos textos da Série Mais do Mesmo, é que todas as notas já foram tocadas, todos os acordes já foram inventados e todas as combinações possíveis entre eles também. Pode perceber que é cada vez mais raro surgir algo bom e diferente, assim como não surgirá mais nenhum bom letrista. Não teremos mais um Noel Rosa, Cazuza ou Chico Buarque.

(Por favor, quando cito nomes, leve em consideração que acabo não lembrando de todos que gostaria de citar e posso até esquecer de citar alguém de suma importância).
A música começou a mudar quando Luiz Caldas apareceu com “Fricote” (Nega do cabelo duro...) e quase dez anos depois, em 1995, apareceu o É o Tchan! que acabou descendo ainda mais o nível. Nesse mesmo período Mamonas Assassinas vendia milhões de discos por segundo, e junto a tudo isso o pagode bombava. Todos esses nomes faziam letras de duplo sentido. Para o lado do rock tinha o Raimundos. Tudo isso foi dando um outro contexto para a música brasileira. E não adianta mais usar um instrumento diferente, um batom diferente, isso não engana mais o público. Foi nos anos 1990 que o papel da música brasileira mudou. Lembro até de pegar um CD de um artista bacanudo dos anos 1990 para escutar na MTV e, lendo as letras no encarte, me deparei com palavras como, por exemplo, derrepente.

As músicas de amor, hoje dominadas pelo sertanejo, pelo baby rock e pelo pagode, são todas iguais sem a menor sensibilidade e profundidade. Versos óbvios, palavras óbvias. O brasileiro não lê e isso fica evidente nos artistas que escrevem.
Em se tratando de rock então! Quem gosta de um bom rock brasileiro está perdido há tempos. Esse gênero está sem rumo, mais marginalizado que nunca, sem menor chance de voltar ao mainstream (como muitos gostariam). Também nem precisa, porque não tem muita coisa boa, tá tudo igual, com um ou outro nome mais legal, mas mesmo assim nada fenomenal. Não temos mais a figura do frontman, aquele que segura o público, que leva o show, que faz acontecer, que mata a cobra e mostra o pau, que tem postura, que nasceu pra coisa. Tá tudo sem tempero, sem coragem, sem tesão.

Fico questionando se vale a pena o artista perder tempo compondo músicas novas que sequer serão escutadas, mesmo que gravadas. Já ouvi da boca de grandes compositores do rock que não querem mais saber de compor e lançar discos. Tem artista que já perdeu o tesão e compõe, se muito, três músicas por ano.
Em SP o que há agora é uma onda de shows com repertórios especiais executados por bandas e artistas de médio porte. E são shows legais. O Mombojó com o China tem o Del Rey com repertório dedicado à Roberto e Erasmo Carlos, o pessoal da Nação Zumbi tem o show só de Jorge Benjor, o Vanguart fazendo Beatles Iê Iê Iê, Pública com Oasis, etc. Não são bem bandas cover como no início dos 1990, são shows homenagens muito divertidos. Esses shows pagam as contas! É isso que tem interessado muito as pessoas que vão, lotam as apresentações, entram na vibe e se divertem pacas.
Em questão de música já temos de tudo para nos satisfazer: canções de amor, política, comportamento, sexo, malandragem, nossa rotina, nosso humor, filosóficas. As grandes canções já foram compostas, as grandes letras já foram escritas.

Acredito que o grande último disco a ser tocado da primeira a última música foi As Quatro Estações da Legião Urbana que, quando saiu o V com a música “Teatro dos Vampiros”, ainda tocava nas rádios “Se Fiquei Esperando Meu Amora Passar”. Isso era reflexo da força do público diante da obra lançada. Depois esse tipo de coisa acabou. Essa força das músicas diante do público foi se esfriando. Hoje grava-se um CD com 14 músicas para aproveitar, se muito, duas. O jabá sempre existiu, mas havia discos que eram mais fortes que o esquema de divulgação. De meados da primeira década dos anos 2000 pra cá música autoral foi perdendo músculo, o mercado fonográfico foi perdendo folego (mas o jabá sempre firme e forte).
No Top 100 brasileiro da Billboard Brasil de maio/2012 há músicas com os seguintes títulos: “Assim Você Mata o Papai”, “Lê Lê Lê”, “Eu Quero Tchu Eu Quero Tcha”, “Tcha Tcha Tcha”, “Balada (Tchê Tchê Re Re)” e “Qui Belê”. Ou seja, pra quem já teve “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores”, “Alegria Alegria”, “Vai Levando”, “Eu Nasci há Dez Mil Anos Atrás”, “Detalhes” e “O Tempo Não Pára”, tá osso, né não?
Pra que então fazer música nova?