3 de setembro de 2010

Série Anos 1990 SP: 6 – No Olho do Furacão (1)

Logo que cheguei a São Paulo, em 1987, passei a trabalhar com publicidade. Comecei como assistente de produção em produtoras de filmes publicitários. Também trabalhei como assistente de fotógrafo. E tocava com Johnny Monster, tivemos três projetos juntos, até que em 1992 ele foi convidado para entrar no Rip Monsters. Aí eu conheci Gastão e Nego Lima (Renato Lima), e passamos a trabalhar juntos para a banda. Lima trabalhava como produtor na MTV e em 1993 ele me chamou para ajudá-lo na produção da Casa da Praia, primeiro projeto de verão da MTV Brasil.

Entrei na emissora em setembro de 1993, pouco antes de ela completar 3 anos. Nem fui à festa. Era um trabalho free lancer que terminaria no final de janeiro, quando eu voltaria para a publicidade ou fotografia. Mas a Astrid, que nesse período além de VJ era gerente do departamento de produção, tinha gostado do meu trabalho e me manteve lá. Já em março de 1994 eu estava cobrindo férias de todo o pessoal do departamento, o que me fez dirigir todos os programas de grade, porque quando um diretor chegava de férias, outro saía e assim fui de programa em programa, até que em outubro fui contratado. Outra pessoa muito querida que deu força para minha contratação foi a Cuca Lazarotto.
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Estávamos lá no departamento trabalhando tranquilamente, quando alguém do departamento de jornalismo entrou falando para todos que Kurt Cobain havia morrido. Ninguém acreditou. Ninguém sabia como. Tudo parou. E se fosse verdade? Todos pararam mesmo! Ainda não tinha programa ao vivo na MTV. Não havia meio de comunicação mais rápido que o telefone. Uma das pessoas do jornalismo ligou para a MTV em Nova Iorque e lembro de uma roda imensa de pessoas em volta do telefone.

Assim que houve a confirmação da morte, foi correria geral. Os redatores pegaram livros, revistas e todo o arquivo sobre Nirvana e Kurt Cobain. Hoje não sei, mas antigamente o dep. de produção mantinha um arquivo riquíssimo de matérias e reportagens, de jornais, revistas importadas como Rolling Stone, Kerrang!, Uncut, Melody Maker, New Musical Express e tantas outras (espero que ele ainda esteja lá, porque nele tinha material que a Internet jamais terá). Além, é claro, das revistas nacionais de Veja e Época à Contigo e Capricho.

Era um senhor arquivo muito bem organizado pela querida Carla Albuquerque. Tudo era separado por pastas. Então se você ia escrever algo sobre o Nirvana, era só pegar a pasta da banda e ver as últimas matérias que saíram. Também tinham os livros, biografias e publicações especiais que compunham o arquivo. Assim, se você quisesse um texto biográfico, teria que fazer de próprio punho. Em tempos sem Internet, as novidades não tinham tanta velocidade, por isso tinham um prazo de validade maior.

No momento da notícia Gastão estava na MTV, então todos correram para gravar um segmento com ele apenas dando a notícia no clássico texto: “Entro excepcionalmente para informar que Kurt Cobain morreu... estamos aqui trabalhando e a qualquer momento...”. Não sei dizer se a MTV Brasil foi a primeira a dar a notícia, mas pode ter sido.

Dep. de Produção e o arquivo ao fundo
Lembro que era por volta das três da tarde e em cinco minutos escreveram um texto, entraram em estúdio, gravaram, pegaram a fita e a levaram direto para o departamento de exibição. A colocaram no VT e foi para o ar. Na hora todos festejaram, claro que não a morte, mas por todo o trabalho e a tensão entre o boato e a confirmação da morte. Foi um alívio fazer algo tão importante, de forma rápida e correta.

A grande maioria das pessoas que trabalhavam na produção e jornalismo gostava de Nirvana. Todos passaram a trabalhar em textos e programas especiais. Kiko Ribeiro, que na época trabalhava no departamento de promo – onde eram feitas as vinhetas de programação, aberturas de programas – disse que estavam todos em reunião quando a ex-chefe Cali Cohen entrou na sala chorando para dar a notícia. No mesmo dia o departamento preparou uma vinheta em homenagem ao Kurt, que ficou passando ao longo da programação.

O impacto da morte do grande astro grunge foi sendo digerido aos poucos. Quando conseguimos parar para conversar e filosofar a respeito do acontecido, todos perceberam a importância daquele momento, todo mundo viu que era o fim de uma cena.

Estar na MTV dos anos 1990 era estar no olho do furação, não pela calmaria, mas sim por ser o centro de tudo o que acontecia em sua volta.

2 comentários:

dgc disse...

♥♥♥ adorei!! ♥♥♥

Anônimo disse...

valeu!
bj
P