2 de junho de 2010

Onde começa o emo?

Claro que não gosto de emocore. Ele é pobre. Ruim demais. Acompanho e conheço diversas dessas bandas que fazem sucesso. Há muita discordância quanto à origem desse estilo. Cada um tem sua tese. Quando fiz a 2ª temporada do programa ‘Que Rock é Esse?’ procurei, procurei, mas não há uma origem certa. Cada um fala uma coisa.
Porém ela é clara: Ramones.

Pelamordedeus! Não que Ramones seja emo, mas sendo a primeira em uma série de quesitos, entre eles está essa peculiaridade de falar de amor acompanhado de uma música barulhenta, e não necessariamente uma balada, apesar de Ramones ter várias maravilhosas.

Nunca se esqueça de que o rock é pontuado como AR/DR (Antes de Ramones e Depois de Ramones). No liquidificador da banda tinha Beatles, Kinks, Beach Boys, Stooges. Falar de amor não era problema, assim como não era problema falar de drogas.
Depois mais um monte de bandas punks gravaram músicas de amor: Buzzcocks, Damned, Stranglers, Generation X e outras tantas já nos anos 1970 faziam letras, riffs e acordes emocionais com peso. De certa forma isso tudo era paródia com as músicas de amor que rolavam no auge do flower power. Uma espécie de: “olha aqui, não escrevo bem e nem toco direito, mas também sei fazer uma canção de amor e ela é tão verdadeira quanto a sua.” Numa cena punk onde se pregava ‘no future’ (sem futuro), não havia motivos para falar de amor, certo?

A coisa toda foi evoluindo, vieram os anos 1980 que foram intensos e cheios de novidades, e foi quando o rock finalmente achou sua veia comercial de forma definitiva, tanto no Brasil quanto fora dele. Surgiu a MTV bem no auge da new wave e do início da era tecnopop. Era tudo ao contrário do punk, com todo mundo feliz, colorido da cabeça aos pés, tudo era festa e motivo pra dançar.

Essa coisa de rock pesado, guitarras distorcidas e da figura bad boy do punk estava em baixa, em segundo ou até terceiro plano. O punk e o hardcore nunca deixaram de existir, mas não eram mais a novidade.

Aí, na segunda metade dos anos 1980 veio outra peste chamada ‘poser’. Coisa horrorosa, mas que é de suma importância para o universo emo, pois aí todas as bandas que eram recheadas de bad boys tinham suas músicas de amor, e pior, eram baladas melosas com direito a interpretação em videoclipe. Mas fora as baladas, outras músicas posers pesadas também falavam de amor. Com a palavra Jon Bon Bovi: “Yes. Voxê êxxta cierto Paolo. All right.” Pois é.

Aí depois de uma década de soft rock no mainstream, os anos 1990 entra mais sem medo e sem vergonha. O grunge peidou na cara do poser e a influência punk veio à tona novamente. Mas o grunge não só resgatou o punk (Nirvana), mas também o metal (Soundgarden e Alice in Chains) e o folk e surf (Pearl Jam). Mas como quem reinou foi o Nirvana, então o punk voltou forte, mas também junto com Mudhoney, Melvins...

Antes disso tudo, ainda nos anos 1980, em paralelo a new wave e o tecnopop, acontecia uma cena também forte, mas no underground, e conhecida agora como ‘alternativa’. Tinha o Husker Du, REM, U2, Replacements, Fugazi, Sonic Youth.
O Husker Du é outra banda que outras pessoas dizem fazer parte das principais influências do emo, mas duvido que alguma dessas bandas emo conheça sequer duas músicas do HD. Mas é certo que a banda fez até mais que Ramones, trazendo para as baladas barulhentas acordes bastante emocionais. Isso era coisa de Bob Mould, fera em fazer baladas barulhentas. Mas falar eu Husker Du é emo é heresia. Além disso, tanto Mould quanto Grant Hart tinham mania de algumas vezes cantar chorosamente.

Depois vieram, nos anos 1990, outras bandas que se tornaram referências. Estou falando de At the Drive-In (longe de ser emo) e Sunny Day Real Estate.

Mas pra mim o que marcou muito a sonoridade dessa cena emo, principalmente a das primeiras bandas, foram Bad Religion e Offspring. Não que essas duas bandas sejam emo, mas a sonoridade das guitarras, o jeito de cantar e até a postura no palco acusam a forte influência.

O rock pesado e emocional na verdade sempre existiu, mas não havia denominação para esse tipo de música até chegarmos aos anos 2000 e o mercado fonográfico precisava de outra coisa que não fosse o britpop.

Me divirto com o emo assim como me divertia o poser. Ainda mais hoje que existem bandas que levam a sério essa coisa de emo.

O pior é que pelo visto nenhuma dessas bandas emos conhecem essas referências que citei: Husker Du, Buzzcocks, Generation X... talvez conheçam alguma coisinha de Ramones.

A maioria delas tem duas guitarras na formação, seus integrantes fazem uma pose rebelde incrível sem deixar o visual desmanchar, mas parecem ‘bandinhas de radinho de pilha’, se é que você me entende.

3 comentários:

Renato Nunes disse...

Pauleira, acho que o Ramones chega bem diluído e terceirizado nessas bandas aí. Pra mim, a culpa disso tudo é do Bad Religion, hehehehe

Abs

Renato Nunes disse...

Apesar do BR ter músicas muito boas, sempre achei aquilo meio choradeira, hahahaha. Na época chamavam de Hardcore Melódico, o nome do estilo já é um contrassenso pra quem cresceu ouvindo DK e Exploited.

Cara, até o GBH embarcou nessa onda. Lembra do disco dos "olhinhos"?

Abrax

Paulo Marchetti disse...

Sim! Concordo! Hardcore melódico é uma coisa muito fresca, incoerente. Esse termo me dá arrepios.
GBH parei depois que incorporou o metal. Sou dos tempoos de Sick Boy...
abç