15 de junho de 2010

Modest Mouse

Gosto muito de coisas esquisitas, principalmente aquelas que têm forte ligação com o pós-punk.

Quebrar as regras não é fácil. Derrubar paradigmas não é fácil. Ano passado mesmo tive essa incumbência numa emissora de televisão: fazer um programa que quebrasse os paradigmas, que trouxesse algo novo. No fim das contas, até quem me pediu isso e deu carta branca, ficou com medo e voltou atrás. Não é fácil querer se arriscar. Claro que para uma emissora de TV é mais difícil, por todos os compromissos comerciais. Mas em se tratando de música, é preciso se arriscar. Você tem que se arriscar. A não ser que você queira ser como Creed, Nickelback, Bush ou Silverchair, que já de cara usa uma fórmula de sucesso com composições caretas e sem personalidade, para ir direto ao comercial melado e sem tempero.

Não basta também apenas querer soar diferente. Isso geralmente acontece naturalmente, é uma coisa que vem já com a pessoa, pela forma como vive, o que escuta, o que lê, onde mora, enfim. E se você consegue transmitir às pessoas através da música que você é diferente, que pensa diferente, então você pode se dar bem.

Dos anos 1990 brasileiro posso dar como exemplo três bandas: Raimundos, Chico Sience & Nação Zumbi e Planet Hemp. São bandas com sonoridade diferentes. Dá pra sentir no primeiro acorde que a mistura sonora é uma coisa natural para todas elas. O forró e o discurso safado era normal para o Raimundos, assim como o Maracatu para o CSNZ e a maconha com rap e samba do Planet Hemp. Dá pra saber no primeiro acorde se a banda ou o artista solo está sendo natural ou forçado. Ao contrário dessas bandas citadas, hoje no Brasil o que não falta é artista forçando a barra.

Lembro em 1988, quando fui a casa onde moravam Skowa e Carlos Eduardo Miranda, bem na época em que Miranda tinha acabado de produzir a coletânea ‘Sanguinho Novo’. Ele me mostrou um vinil com uma moça linda na capa e com os seios de fora. Disse que era uma banda de respeito e que merecia atenção. Era o ‘Surfer Rosa’ do Pixies. Um ano depois, minha irmã Mila voltou de uma viagem à Londres com um fita cassete do álbum Doolittle e a partir dali nunca mais larguei o Pixies. Pra quem já gostava de Hurker Du, não era tão estranho o Pixies. Aliás pra quem já gostava de pós-punk e coisas esquisitas como XTC, Stranglers, PIL e Tones on Tail, Pixies foi só alegria. Mesmo dentro da cena alternativa o Pixies soava diferente.

Mas toda essa história de música esquisita é apenas para falar de Modest Mouse, que surgiu profissionalmente em 1996 para salvar-nos das garras entediantes de Oasis, Korn e Marilyn Manson (pelo menos pra mim).

Modest Mouse faz parte daquele hall de bandas que precisaram lançar dois álbuns (ou mais) para chamar a atenção. A tal quebra de paradigma e a sonoridade esquisita fazem com que isso aconteça. O Metallica só foi estourar com o ‘Black Album’ e Red Hot Chili Peppers com o ‘Blood Sugar...’. Coincidentemente as duas bandas só foram se tornar realmente grandes quando lançaram o 5º álbum, ambos de 1991.

Com Modest Mouse aconteceu a mesma coisa. A banda foi formada em 1993 e em 1994 gravou o 1º álbum ‘Sad Sappy Sucker’. Porém ele só foi lançado em 2001. Oficialmente o primeiro lançamento é ‘This is a Long...’, de 1996. Mas MM só foi mesmo chamar a atenção nos EUA e Europa em 2000 com o maravilhoso The Moon & Antarctica (relançado em abril 2010 numa edição especial de aniversário de 10 anos). Este foi o 4º lançamento, mas o 5º gravado.

O núcleo da banda é formado por Isaac Brock (voz, guitarra, banjo e composições), Jeremiah Gree (bateria e percussão) e Eric Judy (baixo). Junto com eles desde 2004 estão Joe Plummer (bateria e percussão) e Tom Peloso (guitarra, baixo e banjo). Mas é normal ver um entra e sai na formação.

O ex-guitarrista do Smiths, o grande Johnny Marr, estava com a banda até final do ano passado. Ele entrou para a banda na época da gravação do ‘We Were Dead...’ de 2007 e saiu para tocar no The Cribs. Mas saiu sem oficializar a saída, assim como acontece com outros.

O doidão mesmo (no bom sentido) é Isaac Brock, que tem uma personalidade forte, não tem muita paciência para lidar com os bastidores da música, dificilmente dá entrevistas, não é difícil vê-lo de mau humor (com os jornalistas), odeia a comparação com o Pixies, já foi acusado de estupro (acusação falsa já comprovada), tem placa de metal na cabeça, já teve a mandíbula quebrada, foi acusado de tentativa de homicídio (num caso confuso, por dirigir bêbado, mas claramente um engano), ficou preso por 10 dias, e escreve boas letras de humor negro.

Não é só o som do MM que chama a atenção, mas os textos e títulos que Isaac dá aos álbuns e músicas: ‘This is a Long Drive For Someone With Nothing to Think About’ e ‘Gods News For People Who Love Bad News’ são exemplos. Os timbres das guitarras, as afinações, seu modo de cantar, os timbres e linhas de baixo e bateria, o banjo como instrumento constante, tudo isso diferencia o Modest Mouse de todas as outras bandas, assim como Pixies em sua época. Não há pose de alternativo cool. É o que eu já escrevi aqui no blog: o cara gosta do que faz, entende de rock, gosta de ler e tem conhecimento. Essas coisas acabam refletindo numa música de personalidade.

O lançamento mais recente ‘We Were Dead Before the Ship Even Sank’, de 2007, chegou ao topo da Billboard. No final do ano passado foi lançado ‘No One’s First and You’re Next’ que é uma compilação de 8 músicas lançadas ao longo de 2009 como singles.

Se você ainda não conhece Modest Mouse pode ouvir qualquer coisa, mas adianto que há uma evolução em cada álbum. Mesmo sendo esquisita a sonoridade da banda foi ficando mais, digamos, acessível a cada lançamento. O The Moon & Antarctica tem longas partes instrumentais porque foi durante as gravações que Isaac quebrou sua mandíbula.

Aqui percebo que são pouquíssimas pessoas que conhecem Modest Mouse. Apesar de cultuada por diversos artistas de respeito como Trent Reznor, Bob Mould e Yo La Tengo.
Não entendo o motivo pelo qual a banda não “vingou” aqui no Brasil. Já a indiquei para amigos empresários (para trazer ela pra cá) e achei no google notícia que a banda pode vir pra cá em julho. Boatos.

A parte visual também é de suma importância para a banda e é perfeitamente compatível ao som que faz. As capas dos álbuns e singles são ótimas. Vale ir ao You Tube pra ver a todos os clipes. Um mais incrível que o outro. Eles me fazem lembrar as esquisitices que o Cure costumava fazer. Infelizmente a incorporação dos clipes é proibida e o que postei aqui são apresentações em programas de TVs que valem a pena ver.











Documentário da banda realizado em 1997 (parte 1 de 5)

Um comentário:

Rodrigo Jacques disse...

Legal seu post, deem também uma olhada no nosso em http://nerdwiki.com/2014/01/09/modest-mouse/ Obrigado.