Era início de 1986 e nós do Filhos de Mengele tocávamos em qualquer lugar, independente de qualquer coisa. O negócio era divulgar a banda. Nunca, em momento algum, nos quase 3 anos que fiquei na banda chegamos a falar de gravar discos e sonhar com sucesso nacional. Queríamos mesmo era nos divertir e divertir aos outros, por isso, a nossa única preocupação era onde seria o show do próximo fim de semana.
O show que aconteceu no Núcleo Bandeirante ainda era com a formação original, sem Digão na bateria: Eu no vocal, Danilo na guitarra, Celso no baixo e Paulinho na bateria. Paulinho, ao lado de Danilo, era o principal compositor da banda e grande baixista, mas depois de tocar baixo em várias bandas, resolveu que no Filhos seria baterista. Ok.
O show aconteceu num sábado à tarde, numa pequena arena com um palco circular de concreto de uns cinco metros de diâmetro, imagino. E acho que um metro de altura. O equipamento, pra variar, era uma coisa absolutamente tosca e nem retorno de palco havia. A bateria era mais tosca que a pior Pingüim imaginável e, só pra se ter ideia, o único pedestal de prato que havia, saia direto do bumbo e o prato, claro, era horroroso e rachado (Paulinho não tinha equipamento de bateria e, às vezes, pegava algo emprestado de seu irmão, que era baterista de fato. Paulinho só tinha dois pares de baquetas).
O Filhos de Mengele tocaria com duas outras bandas, uma delas era o Stutzépcion (na verdade não se escreve assim, mas fala-se assim) e a outra não lembro. Sei que acabou que não foi nenhuma das duas e o show que seria de umas 5 ou 6 músicas foi se esticando, pois nenhuma das outras bandas chegava e, por isso, acabamos tocando o repertório inteiro. Havia um punhado de gente, pois os Mengeles já estavam relativamente conhecido e o legal foi que durante o show, os skatistas ficavam fazendo manobras no palco - teve um lá que até quebrou o skate quando pulou do palco para o chão. Foi realmente bastante divertido e ali certamente conquistamos mais alguns fãs. Os skatistas falavam que éramos a “banda do boy”, por causa da música “Ele é Boy”, que eles se amarravam.
A gente ali tocava sem escutar nada do que estávamos fazendo e por quase todo o show eu fiquei ao lado do P.A. para eu poder escutar minha voz.
Mas esse show ficou memorável e marcado por causa da tremenda confusão que deu no final. A última música que tocamos foi “Religião”, uma crítica pesada aos padres e a igreja católica.
Há alguns metros do palco havia uma igreja e, no final do show, iniciou-se uma missa. E não é que, mesmo com o tosco som do show, a igreja se incomodou com o barulho e com a letra de “Religião”!? Eu só me perguntava como os fiéis e padre conseguiram entendê-la. A confusão, na verdade, tinha começado pouco antes do final do show, mas nós não havíamos percebido que alguns punks amigos foram lá bater boca com as beatas e o padre. O bicho pegou feio, a discussão virou briga, a polícia foi chamada e, antes dela chegar, pediram para que nós déssemos o fora. Dessa parte final só me lembro de umas 7 ou 8 pessoas apertadas na velha Variant de Celso e assim demos no pé. Depois nos falaram que até o padre apanhou. Sacanagem!
Show Revival realizado no Aeroanta em abril 1996:
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