Em agosto de 2006 me pediram para contar como foi feita a edição do Acústico da Legião Urbana. Republico ele agora aqui no Sete Doses:
Eu estava de férias, no Rio, começando a fazer meu livro. Tinha marcado uma conversa com algumas pessoas, entre elas Dado e Bonfá. Quando cheguei lá, liguei pra todos e fique sabendo que os integrantes da Legião estavam fora do país, acho que em Londres, mixando o Acústico MTV. Não dei muita bola, pois, além de estar de férias, tinha meu livro na cabeça e toda uma logística a seguir.
Passada as férias, logo que voltei fui convocado a editar a versão integral do Acústico da Legião. Aí que me toquei: “Dado e Bonfá estavam mixando o áudio e, claro, tem o programa”.
O Acústico foi gravado em 1992, foi um dos primeiros, tudo meio mambembe ainda. Fez parte da primeira leva junto com Marcelo Nova (piloto), João Bosco e Barão Vermelho.
Já havia se passado seis anos da captação e ninguém da emissora sabia o que tinha de material guardado e fui fazer o levantamento. Simplesmente não havia nenhuma câmera paralela e o material bruto era, além das músicas do show, mais alguns takes 2 de algumas músicas que não ficaram boas durante a apresentação. Pelo que me lembre a banda refez em torno de seis músicas.
Chamamos de câmera paralela, aquelas câmeras que são gravadas em tempo integral, geralmente a da grua, uma geral ou a do trilho do palco, se tiver. Assim, quando há um plano no show que não ficou legal, tipo fora de foco ou tremido, você recorre às câmeras paralelas para substituir aquele plano errado. Só que no caso desse acústico, não havia as paralelas, e tinham muitos takes ruins para substituir. Muitas câmeras trêmulas, movimentos errados e outros defeitos técnicos. Um exemplo é o plano inicial do acústico, uma grua, não ficou legal, mas eu não tinha como substituí-lo, pois não havia material para substituí-lo.
Para substituir esses planos tive que recorrer às imagens das músicas que ficaram fora do acústico, em sua 1ª exibição de apenas meia hora. Foi realmente uma dor de cabeça. Se pelo menos eu tivesse algo em torno de 5 minutos de imagens de público, o trabalho seria absurdamente menor, mas nem isso eu tinha. Reparem os planos em ‘slow motion’. Todos eles são para cobrir algum take errado. A maioria das vezes tive que recorrer as imagens de Bonfá, pois era mais fácil inserí-lo num take fora de sincronismo, do que Dado ou Renato.
Foram quase três meses de edição. Primeiro chegou a mim um CD master com o áudio já pronto. Passei para uma fita beta e toda a edição foi feita em cima do áudio, já o sincronizando com o vídeo. Lembro muito bem que empacarmos no cover de Neil Young. Essa música foi tocada duas vezes e quando mixaram o áudio, pegaram a introdução do take 1 e ‘colaram’ com o resto da música que foi a do take 2. Até descobrirmos isso demorou acho que 2 ou 3 dias. O vídeo não sincronizava de maneira alguma com o áudio. Foi realmente dureza. Tudo foi feito analógico, pois as ilhas de edição digitais naquela época ainda estavam sendo implantadas (1998).
Além de tudo isso, tive que preparar um programa especial com esse Acústico e, pra isso, gravei uma entrevista com Dado e Bonfá juntos, falando um pouco de cada música e/ou o disco em questão. Também não foi fácil, pois nesse período, apesar desse lançamento, nem Dado e nem Bonfá estavam com ânimo para falar de Legião. Estavam os dois com a cabeça no futuro e tentando se desvincular um pouco deste passado. Completamente compreensível. Então não quis abusar e fiz uma entrevista mais direta, em cima do acústico mesmo.
Foi muito bom fazer esse trabalho, mas foi uma overdose, pois foram dois programas, mais o 1º clipe deste Acústico e, além de tudo, estava iniciando meu livro.
Pra fechar com chave de ouro, depois de meses vendo e ouvindo Legião, tive que fazer uma apresentação especial para a imprensa no SESC Pompéia. Desde então nunca mais vi e ouvi o Acústico Legião Urbana.
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