Volta e meia nós na MTV falávamos como cada um escrevia, porque em 1996 foi extinta a pequena redação do departamento de produção e cada diretor passou a escrever seu programa.
Gerava dúvida, por exemplo, no que era certo quando se falava de um disco que tinha o mesmo nome do artista. O costume é falar “lançou o CD homônimo”, mas porque não falar epônimo? Não seria a mesma coisa?
Em relação a um trabalho musical, eu não gosto de me referir a ele como CD ou álbum. Falo disco mesmo, afinal CD é disco também (disco compacto, certo?). Não gosto de álbum, quando possível prefiro achar uma palavra mais coloquial e comum a todos. Eu nunca ouvi alguém, numa conversa de boteco, dizer “você já ouviu o novo álbum de fulano?”, todo mundo diz disco ou CD. Em meus textos para TV sempre escrevo disco, mas como também faço trabalho só de texto, sem dirigir, tem diretores que na hora de gravar substitui disco por álbum. Isso também acontece quando escrevo para alguma revista, jornal ou site. Não ligo. É questão de preferência.
Hoje há até uma nova forma de lançamento que é o virtual, onde não cabe falar disco, CD e nem álbum. Quando é assim eu escrevo “lançou um novo trabalho direto na internet” ou “lançou 14 novas músicas em seu site”.
Quando o caso é nome de grupo musical, não sei se vai da preferência de cada um, isso já é discutível, eu escrevo sempre me referindo de forma oculta à banda ou grupo. Por exemplo, quando me refiro ‘ao’ Titãs coloco o singular: “o Titãs lançou novo disco...”, ou seja, “o (grupo) Titãs lançou novo disco...”.
Veja no texto que transcrevi sobre As Aventuras da Blitz. Os jornalistas escrevem ‘o’ Blitz, porque na época era mais comum se referir as bandas (ou grupo) de rock como conjunto. Por isso era “o (conjunto) Blitz”. Isso hoje soa estranho, mas era assim que todos escreviam. Era ‘o’ Legião Urbana, ‘o’ Plebe Rude. O termo banda passou a ser mais usado nos anos 1990 e prevalece até hoje. Apesar de doer demais ouvir ou ler coisas como “desde setembro ‘a’ Fresno está em estúdio”, “ontem ‘a’ Cachorro Grande tocou músicas novas”, acho horrível, assim como não dá pra dizer “a Barão Vermelho” ou “a Raimundos”. Na verdade errado não está, mas aí deve se prevalecer o bom senso.
Quando a banda tem um artigo no nome eu uso a chamada elisão, que é a supressão de vogal: “o disco d’Os Inocentes”, “o show d’O Rappa”.
Para televisão sempre dou preferência à escrita que se aproxima da palavra falada. Quando é para mídia impressa, consigo usar palavras que cabem apenas no papel.
Não gosto e não acho certo o uso do plural: “os Titãs chegaram de viagem”, “os Raimundos lançaram novo clipe”. Dessa forma mais parece que você se refere aos integrantes . “Os (oito) Titãs chegaram de viagem”, “os (quatro) Raimundos lançaram novo clipe”. É errado? Pode não ser, mas eu não gosto. Tudo bem, os oito Titãs realmente chegaram de viagem ou lançaram um disco, mas eles todos estão dentro de um grupo chamado Titãs. Os oito formam ‘o’ grupo Titãs. Não seria esquisito escrever ou falar "depois do show os NXZero voltaram para o hotel?". Então...
A mesma coisa serve para os grupos que tem no nome artigo no plural: “foi nesse dia que a banda Os Inocentes entrou em estúdio”, “Por isso o grupo Os Paralamas do Sucesso cogitou um show extra”. Discutível, não?
A mesma coisa serve para os grupos que tem no nome artigo no plural: “foi nesse dia que a banda Os Inocentes entrou em estúdio”, “Por isso o grupo Os Paralamas do Sucesso cogitou um show extra”. Discutível, não?
Agora, uma coisa que me irrita profundamente, mas muito mesmo, tanto na fala quanto na escrita, é quando a pessoa começa se referindo ao grupo no singular e, do nada, vai para o plural: “Metallica acabou de chegar de viagem, os caras estavam cansados”, “U2 lançou disco novo, os caras piraram de vez”, “daqui a pouco tem show do Red Hot Chili Peppers e dizem que o show dos caras...”. Jesuuuuuuuiiis, o que é isso? Realmente não entendo. Mas......... gosto é gosto. Já teve gente que inclusive me deu um toque para escrever os textos de determinado trabalho dessa forma. Como eu já havia escrito, pedi à ele para que mudasse na hora da gravação, assim delicadamente não precisei fazer isso.
Hoje leio resenhas de discos, e volto para os anos 1980. Parece que estou lendo Som Três, Roll, Bizz. Os termos, a construção, as comparações, as invenções de termos. Muito ruim. As melhores críticas são as mais, digamos, autorais, onde a pessoa que escreve tem mais domínio, mais leitura, portanto, mais repertório no vocabulário. Como dizia, entre outros, Renato Russo, é difícil escrever de forma simples. É preciso tanto repertório quanto para escrever difícil. Isso fica claro nessas críticas que, em uma comparação esdrúxula, parece entrevista com jogador de futebol depois do jogo, que são todas iguais. Tenho amigo que estudou jornalismo comigo, e que não lia sequer dois livros por ano. Aí fica difícil, não?
Cada um tem seu vício, seu jeito de escrever, seu estilo. E cada leitor tem sua preferência. Eu gosto de textos simples, diretos, coloquiais, objetivos. Seja em jornal, revista, internet ou livro.
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