Não sou ecochato. Pelamor! Esse texto nada tem a ver com a poluição ou emissão de gases venenosos. Aqui falo de liberdade e socialização. Seria ótimo se em São Paulo houvesse muuuito menos carro na rua. Todo mundo ganharia com isso. Mas a culpa desse trânsito infernal é de quem? Do cidadão trabalhador que passa a vida praticamente pagando impostos? Claro que não! A culpa é do governo corrupto e incompetente.
Em 2001 vendi meu Golzinho 87 porque ele ficava parado na garagem. Eu era obrigado a ligá-lo só para fazer o motor funcionar um pouco. Pagava estacionamento, seguro, impostos e manutenção para não usá-lo. Vendi.
Ao contrário de muita gente, nunca vi problema em usar transporte público e andar a pé. É muito melhor. Ainda mais hoje que ter carro é uma dor de cabeça, por todos esses motivos que citei, somados ao trânsito e a revisão obrigatória. Aqui em SP nem vaga na rua tem mais. Na região da Av. Berrini, um lugar moderno, cheio de empresas, não há metrô e linhas de ônibus suficientes para a demanda. Tem muita gente que trabalha lá, que entra às 9h da manhã, mas que chega de carro as 6h só para esperar uma vaga na rua. A pessoa fica até três horas dentro do carro estacionado só esperando uma vaga. Ela dorme, lê jornal, ouve música, livro. Um horror!
No carro você é um individuo isolado, vivendo em um mundo a parte. Usando transporte público você tem a percepção ampliada, está junto do coletivo, percebe melhor o movimento da cidade, consegue ver coisas que não enxerga de dentro de um carro. Nota melhor os detalhes, a arquitetura, a rotina e o dia-a-dia das pessoas. É mais vida.
Claro que, mesmo sendo melhor que há 10 anos, o transporte público paulistano continua sendo um verdadeiro lixo. Porém agora que a água bateu na bunda – no Brasil é sempre assim – as autoridades (in)competentes já pensam com mais carinho nessa questão. É mais do que urgente tirar carros da rua. Pra mim os corredores de ônibus deveriam ter, no mínimo, duas faixas. Danem-se os carros, eles que se espremam em uma faixa única andando a 3 km/h (e a tendência é essa).
O porteiro lavando a calçada do prédio, o carteiro andando pra lá e pra cá, um grupo atravessando a rua, um casal olhando a vitrine, os botecos movimentados, as pessoas conversando, o tiozinho na janela, e até mesmo o trânsito visto de fora é um atrativo. Dessa forma você está dentro do contexto, consegue ouvir a música ou a rádio que as pessoas escutam, ouve também as conversas, alguns perdidos te param para pedir indicação de caminho, você cumprimenta o jornaleiro, o balconista da padaria. Consegue perceber tudo o que acontece em sua volta.
Tem gente que não consegue se ver em um ponto de ônibus, ou entrando no metrô. Tem gente que diz ter preguiça de andar até o ponto, ou de ter que pegar dois ônibus. Tudo é uma questão de costume, de prática e disciplina. Qual o problema de sair meia hora mais cedo? Dependendo para onde for, pode ser até mais rápido pegar busão.
Eu mesmo, dependendo de onde estou trabalhando, volto para casa a pé para fazer exercício. Aqui em São Paulo qualquer chuvinha faz a cidade parar e não estar de carro me dá inclusive a opção de sair do ônibus e fazer o caminho a pé. Foi assim no dia do PCC, com a cidade toda parada e eu a pé vendo toda aquela bagunça. Parava na padaria e comprava um sorvete, depois uma água, e assim cheguei em casa numa boa.
Há muito deixei de ficar nervoso dentro de um carro. Tem gente que já chega estressado no trabalho as 8h da manhã só por causa do trânsito. Aí vai embora pra casa e chega nervoso também por causa do trânsito. Será que vale a pena estragar a saúde física e mental por causa de trânsito?
Pode ser que seja impossível para você deixar o carro de lado, porque vai do trabalho para a faculdade, ou mora muito longe de tudo, ou leva e traz o filho, enfim, cada um com seus problemas. Não tô aqui querendo levantar bandeira alguma, nem conheço a fundo o trânsito de todas as grandes cidades brasileiras, mas tenha certeza de que o dia muda para melhor não estando de carro num lugar como São Paulo.
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