Revista Bizz - fevereiro/1988
Debate Rock Brasileiro - Parte 6
Que barulho é esse?
Herbert - Hip hop não é divulgado no Brasil, nenhuma gravadora lança, e tem pelo menos um milhão de pessoas que dançam hip hop no Rio, todo fim de semana. ("Aqui também: emenda algum paulistano).
Renato - Eu só quero dizer uma coisa, pelo menos no que acontece em relação à gente: a única coisa que nós queremos é voltar a tocar para público pequeno. E a gente já sabe que não vai poder fazer isso, porque senão a garotada vai se machucar... Não dá para tocar para mil, mil e quinhentos jovens, senão eles se machucam. Em Belém aconteceu isso, ficaram seis mil do lado de fora, tinha dezesseis mil... Na Quinta da Boa Vista, no Rio, que é enorme, o pessoal não deixou... Eles disseram: "Uma coisa é a orquestra do Isaak Karabitchevisky tocando lá com papai, mamãe, mas se o Legião for,lá, gente vai se machucar".
Lemos - Se você quer fazer isso, usa outro nome, como os Pistols (ou os Stranglers, que de vez em quando dão shows em clubes minúsculos, na Europa, sob nome falso).
Scowa - A gente só está repisando coisas que a gente já sabe. A gente já sabe como funcionam as gravadoras, a gente já sabe o que cada um passou.
Gutje - É, a gente está se repetindo. Agora, a maneira de sair disso, ninguém acha...
Scowa - (gritando, no meio da confusão que se instala). Mas é aí que está. Estamos aqui para conversar sobre as possibilidades...
Gutje - Eu acho que se for para achar uma saída, a coisa não vai ficar em uma, duas horas de conversa. Então, se alguém está a fim de fazer alguma coisa séria...
Scowa - Eu proponho que a gente vire a Grécia... (balbúrdia).
Hermano - Alguém aí sabe qual é o problema, para encontrar a saída? (nova gritaria).
Nasi - Eu acho que essa conversa está parecendo a conversa do primo rico com o primo pobre (risos).
Lemos - Eu não acredito em movimento de artistas (discussão).
Charles - (bocejando). Eu também não.
Nasi - Mas existem interesses comuns que podem ser trabalhados...
Lemos - Para mim, 87 foi o ano mais importante para o rock nacionaL Foi o primeiro ano que teve discos bem produzidos com som de peso, tá evoluindo pra c.!
Paulo Ricardo - É que contrastando com 86 ele fIcou esquisito, mas a gente não percebe que é o primeiro ano de uma nova ordem!
Lemos - Esqueça as vendagens, olhe o som!
Sônia - Eu queria passar o microfone de mão em mão, e ver qual é o ataque final de cada um...
Paulo Ricardo - Em fevereiro agora a gente vai laçar o fotomix com a música "Quatro Coiotes".
Lemos - O que é fotomix?
Paulo Ricardo - É um picture disco.
Thomas - É a história do disco gravado em inglês, citado na revista (americana) Billboard?
Paulo Ricardo - Essa história é a seguinte: nós, na nossa ávida conquista do sucesso, fomos a Nova York encher o saco da CBS, que a gente queria lançar um disco em inglês de qualquer jeito, e eles marcaram para setembro. Mas aí, quando a gente acabou, ficou tudo tumultuado. Essa entrevista para o cara da Billboard eu dei antes...
Thomas - Você acha que o disco ia vender?
Paulo Ricardo - Eu acho que ia vender pra c., porra!
Scowa - Vocês sentiram firmeza? (risos)
Paulo Ricardo - ...Depois,lá pelo dia 20 de março, vamos lançar o LP, e lá para abril a gente vai para a estrada, a via saem...
Lemos - Quando a BIZZ sair com este debate, a gente já vai estar na estrada desde 9 de janeiro, com palco novo, e fazendo o terceiro LP, pra nosso querido Alex não falar que é lixo... (risos).
Charles - A gente, aqui, se bateu, não debateu. Eu vou me restringir a falar do mercado. Eu acho que as bandas têm também que pensar no fator da economia, que tá fodida, e levar isso em consideração. Então, a qualidade do show talvez possa cair com isso, cenografia, luz e som. A gente pensa nisso porque nosso show é supercaro. Inclusive uma coisa que atrapalha é essa coisa de todo mundo aqui ficar se espelhando no que acontece fora do Brasil. "Na Inglaterra é assim".
Scowa - Eu, quero convidar todos aqui para verem meu show. Cabe só duzentas pessoas, mas se apertar cabem 250... Acho que se o Butantã estivesse aqui, bicho, ia ter muito soro aí pra fazer... (o microfone é passado para Carlos Maltz. dos Engenheiros).
Scowa - Ele não falou nada ainda (todo mundo em coro:Fala!! O que você,caladão aí, achou de toda essa história.?
Carlos - Eu me sinto constrangido porque a gente tem muito pouca coisa a acrescentar, a gente não veio do circuito underground - mas respeito pra caramba quem batalhou alí. Somos três garotos classe média que não tinham nada pra fazer... Até tenho pouca vontade de ser sincero aqui com vocês. Prefiro ser sincero no trabalho... Pega a biografia do Dylan: 90 por cento é fantasia, e é o que interessa. Os outros dez por cento são números de vendas... Tirante a fantasia e os número de vendas, sobra pouca coisa. Passou cinco anos; quem é que vai se lembrar? Eu só acho que não dá para abrir mão das tuas canções... Aí, ó: ser virgem nas canções, na composição. Na divulgação, sou uma putana.
Paulo Ricardo - (gritando) Muito bem! Exatamente! Definiu, definiu...
Carlos - Na real: todo mundo tá cada um na sua, esse sindicato aí eu estou fora. Acho que é cada um por si, e é até divertido esse lance. De repente, a gente é tão pequeno na jogada... A Volkswagen acabou com o Fusca, que era muito mais histórico do que todo mundo aqui junto. Na maior. (risos, cortina rápida).
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