20 de outubro de 2010

Histórias da MTV: Casa da Praia

MTV Brasil está mais velha. Completa 20 anos em outubro de 2010 e hoje (20/10) é dia de festa! Há tempos tenho escrito a respeito de minha passagem pela MTV (1993-2000). Tem post sobre o Central, Fúria Metal, Teleguiado, Monsters of Rock e outros programas que fiz e/ou participei.  Fora este, o texto mais recente é o do dia em que Kurt Cobain morreu (Série Anos 90 SP: O Olho do Furacão (1)).
Agora é a vez da Casa da Praia, que foi meu primeiro trabalho na emissora, ainda como produtor. Em uma das dez semanas que gravamos lá (acho), levei minha câmera vhs e registrei alguns momentos. Como gosto de fazer, tirei fotos dos frames dessas imagens em vídeo, que são absolutamente inéditas e exclusivas (tem mais um monte).
Estou preparando outros posts de memórias da MTV e aos poucos publico.


Quando entrei na MTV, ela estava completando seus três anos. Ainda procurava seu espaço. Como telespectador, digo que nesses três anos a MTV pouco foi vista, era mais falada do que assistida. Quando só pegava no UHF, a imagem da minha tv era péssima, toda chuviscada. Mesmo assim fui conhecer Lenny Kravitz com ela, logo em seu começo. Lembro que no show do The Cult no Ginásio do Ibirapuera tinha uma equipe realizando uma pesquisa sobre sua programação.

Mas nessa mesma época as TVs a cabo TVA e NET começaram a investir pesado em seus pacotes e a comercialização deses produtos ajudou na divulgação da MTV. Lembro de ver os próprios artistas falando que não assistiam MTV. Quando conheci Gastão, no início de 1992, eu nunca tinha o visto na televisão, mas sabia quem era.

os fundos da Casa que dava direto para a praia
A Casa da Praia, primeira produção especial de verão da MTV, foi uma forma de mostrar ao público, artistas, gravadoras, mídia que havia algo diferente ali. Lembro de ver diversos meios de comunicação fazendo matérias lá. Era o primeiro chacoalhão de outros que ainda viriam.

Tudo aconteceu em uma casa cenografada que ficava em frente a Praia de Camburi, no litoral norte de São Paulo, cerca de 2h00 da capital. Na verdade são duas praias, apenas separadas por um pequeno córrego: Camburizinho e Camburi.

Foi levado o maior número possível de artistas: Sublimes, Marcelo Nova, Titãs, Capital Inicial, Dinho Ouro Preto, Edu K, Sepultura, Plebe Rude, Nenhum de Nós, Engenheiros do Hawaii, Little Quail, Muzzarelas, Pin Ups, Rip Monsters, Laerte, Glauco, Angeli, o campeão brasileiro de pipa, origami, capoeira, chef de cozinha, entre outras personalidades.

Gastão e André (op. de áudio). Fim de tarde.
Esses convidados costumavam chegar mais ou menos na hora do almoço e ficavam até o final do dia. Dependendo de quem era, participava de um a três programas (tinham aqueles que a própria banda escolhia os clipes ou comentavam os próprios clipes). O clima era tão bom que não teve um convidado que não curtiu o dia. Lembro do Sepultura discutindo se iria embora logo após a participação no Disk ou se aproveitava o dia; o Paulo Lima (Trip) foi lá para ser entrevistado pela Astrid, entrou no mar enquanto esperava a gravação e só saiu de lá oito da noite, ou seja, não rolou a participação no programa.

As gravações começaram na última semana de novembro/1993 e foram até antes do Carnaval em 1994. Quando chegamos, fomos proibidos de entrar na Casa, pois a equipe cenográfica ainda estava arrumando os últimos detalhes. Um dos grandes desejos de toda a equipe foi realizado: ter, por todo o verão, uma máquina Polaroid com filme à vontade (era o sonho de qualquer um). Astrid criou no Top 20 um painel só de Polaroids dos artistas que passaram pela Casa. Além disso, também tínhamos uma geladeira da Kibon que era abastecida uma vez por semana e milhares de sacos de batata Ruffles, que também semanalmente chegavam em muitas caixas. Teve um Disk com Edu K onde ele comeu uns 15 picolés em, no máximo, 40 minutos de gravação. Eu só voltei a comer Ruffles há uns 5 anos atrás. Sério. Teve muita gente da equipe que nunca mais comeu o picolé Milka (que era lançamento naquele verão).

Blues Etílicos
Logo nos primeiros dias Gastão e Astrid chegaram a dormir nos quartos da Casa, mas essa idéia foi logo abandonada, para preservá-la como cenário (que era de fato). Parte da equipe (incluindo eu) dormia numa casa em frente a Casa da Praia, outro pessoal ficava numa pousada a um quarteirão da Casa, e ainda outra parte da equipe dormia numa pousada no início de Camburizinho.

Eram duas equipes de gravação e os VJs que trabalharam lá foram Gastão, Astrid, Cuca, Cazé e Adriana Lessa. Thunder chegou a ir lá, mas já estava com um pé na Globo; Cazé e Adriana Lessa fizeram suas estréias na Casa da Praia. Pix, Gás Total, Disk, Top 20 e Pé da Letra eram os programas feitos na Casa. Por dia eram gravados uma média de cinco programas (Pix, Gás Total e Disk eram diários).

Sepultura no Disk
Foi nesse verão que melhor comi na minha vida. Foi contratado um maravilhoso chef conhecido por nós como Le Paul, que cuidava da alimentação de toda a equipe. Ele preparava café da manhã, almoço e jantar; e sua base era a casa da produção a qual eu ficava. Tanto no almoço, quanto no jantar, a comida era farta: salada, acompanhamentos e carnes. Trabalhávamos muito e debaixo de muito sol e calor, nada mais justo que uma alimentação no mínimo maravilhosa.

Passávamos a semana inteira em Camburi e os finais de semana em São Paulo. No final esse vai-e-vem já estava dando no saco! Íamos e voltávamos de ônibus fretado e os convidados iam de van. Tinha gente na equipe que aguentava fazer baladas noturnas, afinal estávamos em uma das principais prais do litoral norte paulista e em pleno verão. No dia seguinte, se dava 10 minutos de folga, era ronco na certa. Eu não fiz balada nenhuma. Era puxado. Era o primeiro a acordar e o último a ir dormir. Mesmo assim foi tudo maravilhoso.

O Márcio Garcia na época ainda era o apresentador do MTV Sports, e chegou a ir duas vezes até a Casa. Inclusive em uma dessas idas, ele foi por conta própria de carro, com a namorada, e ainda me roubou uma caixa fechada de Chicabon. Lembro d'eu correndo atrás do carro dele... Zeca Camargo, Chris Couto e Chris Nicklas iam lá uma vez por semana, ou menos, para gravar o MTV no Ar.

Capital Inicial e Astrid
 O Capital Inicial foi para divulgar o Rua 47, primeiro trabalho com o vocalista Murilo Lima. O Dinho também foi à Casa, mas para divulgar o Vértigo. O Pin Ups foi para fazer o programa em que a banda escolhia o clipe, mas não foi para o ar porque o Luis, vocalista, estava completamente bêbado (todo artista que ia lá tinha a sua disposição uma garrafa de Red Label, mas isso não durou muito). O Muzzarelas foi participar do Gás Total e um dos caras da banda ficou na roubada porque seu carro quebrou e ele teve que dormir lá. Um dos primeiros programas gravado pela Cuca na Casa, me lembro, foi o Pix com participação das Sublimes. Foi gravado dentro da Casa e com luz forte. A cada cabeça era preciso retocar a maquiagem de todas de tanto suor (porque não gravaram na praia???).

A Casa da Praia foi um tremendo sucesso em todos os sentidos. Foi uma delícia. Apesar de intenso, o relacionamento de toda a equipe foi muito bom. O objetivo foi alcançado. Ao final do verão a MTV já era outra. Aliás, logo após o fim da Casa da Praia, vieram mudanças radicais na cúpula da emissora.

Cazé hippie?

Sepultura levou João Gordo. Praticamente um profissional do Bodyboard.

Este programa com o Virna Lisi (talvez o Pix) foi o último gravado na Casa da Praia

Eu e o Rip Monsters. Gravação do Gás Total.

Philippe Seabra (Plebe Rude) participa do Disk com Astrid e Adriana Lessa

Astrid e Titãs. Nesse dia quem mais se divertiu foi Bento, filho de Branco Mello.

2 comentários:

Paulo Marchetti disse...

Neste link há dois ótimos posts de Zeca Camargo sobre a MTV:
http://g1.globo.com/platb/zecacamargo/

dgc disse...

cazé era grunge!!!