6 de agosto de 2010

Mais do Mesmo 4

Li um texto escrito pela Bruna Mariani em seu blog Evitando a Síncope onde ela reclama das novas bandas e suas músicas. Um texto que Bruna diz não entender como uma banda que nunca fez show poderia ter milhares de seguidores em seu site ou twitter, e como uma banda que não sabe tocar os instrumentos pode fazer sucesso no orkut, nas revistas e ter muitos fãs. Simples. Os tempos são outros. (aliás, essa colocação de não saber tocar os instrumentos acho injusta, já que Ramones, Sex Pistols, Clash e tantas outras fenomenais também não sabiam tocar). Gostei do texto dela, de certa forma entendo sua raiva.

Música não é moda. Tem sim seus representantes modistas, mas quem realmente faz música por gostar, não compõe músicas efêmeras (independente de serem hits ou não). Hoje vivemos em tempos de celebridade. O que é celebridade? Ao pé da letra significa ter fama, glória, boa reputação. Porém hoje até mesmo essa palavra ”celebridade” se banalizou. Se foi graças aos realitys shows, isso não importa. Fato é que hoje celebridade significa (também) fazer sucesso sem esforço, ser ignorante e importante, ser insignificante, porém com flashes. Hoje, mais do que nunca, qualquer idiota pode ser uma celebridade.

Com a Internet tudo se banalizou (já escrevi isso aqui umas mil vezes): música, filme, clipe, sexo, fama, gramática, conhecimento... e a culpa é de quem? Nossa ora bolas.

Há 30 anos para eu ver um peitinho na TV, eu tinha que esperar as madrugadas dos finais de semana para assistir a uma pornochanchada, e mesmo assim isso não era garantia de seios nus, porque tinha pornochanchada que só ficava na insinuação.

Há 30 anos era impossível escutar um disco recém lançado do U2, por exemplo. Era preciso esperar a boa vontade da gravadora em querer lançá-lo aqui no Brasil ou então esperar algum amigo que fosse para a gringa para trazer os novos lançamentos.

Há 30 anos eu tinha que esperar uma eternidade para ler uma reportagem do Talking Heads em alguma revista especializada como era a Roll ou a Som Três, e mesmo assim quando saía uma nota ou reportagem, tudo aquilo que estava escrito já estava velho, porque a revista era mensal, então essa novidade, na verdade, já tinha no mínimo 2 meses. O que dizer então de bandas como XTC, Stranglers, Dead Kennedys... praticamente nunca lia nada sobre elas, nem mesmo eu tinha como ver fotos delas. Hoje as coisas mudaram e temos que nos adaptar aos novos tempos.

O rock se banalizou não só por causa da Internet, mas também por causa de seu sucesso que cresceu, principalmente nos anos 1980 e 1990. As grandes corporações aprenderam a ganhar dinheiro com o rock e ele chegou aos canais infanto juvenis. Hoje há rock no Disney Channel, na Nickelodeon, no Animax, no Disney XD, no Cartoon, no Boomerang. Hoje minha filha que acabou de completar 9 anos gosta de rock, gosta de Restart, Jonas Brothers, Demi Lovato (pra mim a Joan Jett da Disney). É isso.

Não dá pra esperar que ainda vá surgir um novo Beatles, um novo U2, um novo Nirvana ou um novo Strokes. Não vai. A coisa se espalhou demais. Há muita banda de rock, há muito artista pop. Hoje vivemos na era da quantidade e não da qualidade. Quer exemplo mais significativo do que uma biografia de Justin Bieber (o garoto tem apenas 16 anos!!!!). É como as redes sociais virtuais: você escolhe quem você quer para ficar ao seu lado. Hoje você pode gostar de 300 bandas e eu não conhecer nenhuma delas.

Ninguém engana ninguém. A gravadora precisa de dinheiro e acaba lançando essas porcarias de bandas emo ou metal com mulher cantando ou sei lá que moda.... fato é que o jabaculê ainda impera nos meios de comunicação e a troca de favores é cada vez mais indecente. Só depende de nós aceitar ou não esse tipo de música ruim. Exemplo bom são essas premiações que as tvs fazem, pode notar que em todas elas são as mesmas caras, os mesmos vencedores, os mesmos números musicais.
(com o dinheiro que uma gravadora paga para seu artista tocar durante um mês na rádio eu poderia comprar um apartamento de dois quartos em área nobre de SP)

O romantismo acabou. O pior é que esses meninos que tocam nessas bandecas ruins, eles também são enganados ao acreditarem que fazem música boa, ao acreditarem que são ídolos de verdade, ao acreditarem que serão tão eternos quanto Raul Seixas, Cazuza, Renato Russo ou Chico Science. Quer coisa pior que o principal produtor dessas bandecas declarar que Velvet Underground ou Leonard Cohen não significam nada para a história da música? A ignorância impera, o desconhecimento impera. E o pior é que isso vem de cima!

Esses garotos que tocam hoje, e até alguns que já estão aí há algum tempo, na verdade não têm conhecimento musical algum, só conhecem Nirvana, Oasis e Blink 182. Esperar o quê de uma artista pobre assim? Esperar o quê de alguém que não tem leitura alguma?

Minha filha vai crescer, todas essas meninas e meninos irão crescer e passar a ver esses artistas como uma modinha da infância, como minha esposa vê hoje o RPM e o Menudo. Pior, tem gente hoje que gostava de RPM, Menudo ou Mamonas Assassinas e que tem vergonha de assumir isso.

Ainda bem que música é como um quadro de Salvador Dali ou um livro de Saramago: o que de fato faz a diferença fica eternizado. Não precisamos mais de música de verdade, nós já a temos: Beatles, Rolling Stones, Led Zepellin, Talking Heads, REM, Nirvana, Secos & Molhados, Titãs, Barão Vermelho, Ira!... há uma infinidade de coisas boas que estão aí e que nos dão respaldo suficiente para não precisarmos de novidades para o resto de nossas vidas. Se o cenário hoje está pobre, cheio de músicas de mentira, então é só ignorá-lo.

Nada será como antes e lembro mais uma vez: hoje vivemos na era da quantidade e não da qualidade.







8 comentários:

Renato Nunes disse...

Pô, Mamonas era massa, hehehe.

Anônimo disse...

Comentário: sem comentários... hehe.
Duvido que um 2º cd deles fizesse sucesso....
abç
P

Bruna Mariani disse...

Muito obrigada pela citação! Belo texto, aliás.

Sobre as bandas que não sabem tocar seus instrumentos, não estou falando de bandas como Ramones, Pistols ou Clash! Essas bandas sabiam o que estavam fazendo, não eram monstros instrumentistas e, com o que sabiam, fizeram música de qualidade que nunca vai morrer.

Estou falando de bandas onde a baterista, por exemplo, não sabe onde está, não consegue nem terminar uma música, mas faz cara de fodona e sai numa revista especializada só porque é gostosa. Entende? É osso!

Anônimo disse...

Olá Bruna! Sim, entendi sobre a falta de conhecimento. Obrigado pela inspiração!
P Marchetti

Vitor disse...

é incrivel ! a tempos procurando um alguém que disesse exatamente tudo aquilo que eu tenho pra dizer , mas não consigo coordenar os fatos e as palavras , sobre musica . Eu tenho 17 anos , vivo na geração da musica vazia e sem futuro . Aos 13 ouvia Simple Plan e dizia que era rock de verdade quando criticavam , e hoje sinto vergonha de ter gostado (mesmo ainda sendo adolescente) . Curti bandas plasticos americanas e mexicanas , curti rock futil e infantil sem o mínimo conteúdo .. até que eu parei pra focar em musicas que cresci ouvindo , e que antecederam minha geração : musica que realmente entrou pra historia . Atualmente ouço e estudo por mim mesmo musica brasileira da época de meus pais : Cazuza , Legião Urbana , Raul Seixas , Barão Vermelho , Novos Baianos , Cássia Eller (até um pouco mais recente) , Rita Lee entre outros ... quando paro pra refletir vejo que ainda estou nos nomes mais famosos , ainda existem cantores e bandas nacionais que eu nem escutei ,

Anônimo disse...

musicas desses que já conheço que ainda escutarei , e isso porque nem pensei em começar a estudar a verdadeira musica internacional de qualidade . Existem um acervo ilimitado de musica boa de verdade , e eu tenho facil acesso a ele , então porque vou escutar o som banal e vazio de minha geração ? Vamos concordar que nem tudo de hoje é ruim , mas fazer musica boa nesse mundo musical que segue têndencia e só quer vender não leva a muito longe artisticamente falando . Suporto criticas de amigos que curtem a musica da geração , porque sei que futuramente irão se envergonhar de ouvir isso , e começarão a dar valor a frases como " vou ficar concerteza maluco beleza" e "o tempo não pára" , que ouviram desde que nasceram por seus pais e muitos outros , inclusive na midia que abriga seus cantores de hoje , futeis e vazios .

Anônimo disse...

Valeu Vitor. Pense pelo lado positivo: pelo menos você se ligou, deixou de lado as coisas ruins e logo descobriu o que realmente faz a diferença.
abç
P Marchetti

Dalgomir disse...

Pow, notícias de mais de 2 anos atrás e continuam atuais. E o pior de tudo não são os ídolos teen do momento, não são restart, Michel teló, justin bieber, e por aí vai. tipo hoje nós olhamos pra coisas do tipo é o tchan, Sidney magal, beto barbosa, e damos muita risada. tudo isso é inofensivo, o pior de tudo são essas bandas, duplas ou seja lá o q for q tiram a inocência das crianças, que pregam preconceitos, machismo e q serão os pilares das futuras gerações. podemos impedir isso? não, mas podemos tentar, hoje tem moleque aí aprendendo a ouvir Noel Rosa, Zenilton, Mutantes, vanguarda ,contracultura, udigrudi, rock do sul[...] um caldeirão bem brasileiro, divulguemos então pra mais pessoas!