Lembro que o que me deixou feliz no Rock in Rio 3 foi a presença de Neil Young. Porém fiquei embasbacado quando vi que, perguntado se iria tocar músicas novas, Neil disse que não tocaria por causa do Napster. Pô, fiquei decepcionado. Como se o fã de Neil Young àquela altura de sua carreira fosse deixar de comprar um trabalho novo por conta de uma ou duas músicas novas ao vivo vazadas na internet. A primeira coisa que fiz, já que trabalhava de editor de música em um site e tinha acesso à tecnologia e queimador de CD, foi abrir o Napster e fazer uma coletânea ao vivo de Neil Young. Dupla! Ficou ótima e a escuto até hoje.
Deixei Metallica de lado depois que Lars Ulrich se posicionou contra a troca de arquivos na rede. Idiota. Hoje se arrepende, mas agora é tarde demais. Aposto que se existisse Napster quando Ulrich estava começando com o Metallica, ele iria baixar um monte de discos.
O que me chama a atenção nesses casos é que não se trata de artistas em início de carreira, mas sim já consagrados, e com o pé na aposentadoria. Quero dizer que eles já deram sua contribuição, e que dificilmente irão lançar algum outro grande clássico, já ajudaram a mudar o rumo da música, influenciaram e influenciam gerações. Já estão com a vida feita.
É sabido que vender disco não dá dinheiro para o artista, a não ser que venda zilhões.
Até tento me colocar no lugar deles. Mas aí penso que hoje eles continuam tocando e gravando porque amam o que fazem e, mais do que qualquer outro tempo, se divertem. Neil Young teve a década de 70 pra se firmar e Metallica a de 80. Depois da conquista de seu espaço dá pra relaxar e se divertir mais na estrada e no estúdio. No começo rola aquela obrigação de fazer bons discos, e os dois ou três primeiros são fundamentais. Vender discos, ganhar confiança da gravadora, conseguir espaço na mídia, vender shows, conquistar fãs, dar boas entrevistas, participar de tudo quanto é programa de rádio e tv. Ralação absoluta!
Depois, conforme o crescimento da carreira conquista-se respeito, escolhas vão sendo feitas, liberdades são conquistadas. O artista já passa, por exemplo, a escolher melhor os programas que participará, terá um orçamento melhor para gravar disco novo, melhor divulgação. Terá um tratamento melhor nos lugares que for, ficará em hotel 5 estrelas, e até mesmo escolher onde e quando tocar.
Aí, depois que conquistou esse respeito todo – e merecido, vem à fase da bonança. Vende-se shows aos montes, novos contratantes surgem, o cachê aumenta cada vez mais, discos são vendidos também aos montes sendo bons ou ruins. Esse é o momento de ganhar grana, e desfrutar tudo o que não pode nos primeiros anos de ralação.
Dependendo de seu talento, aqui estou falando de dois exemplos Neil Young e Metallica, chega o momento de renovar o contrato com a gravadora e aí, ao invés de você chorar, é a gravadora que vai implorar pra você ficar com ela. Então você passa a ter mais dinheiro investido em marketing e porcentagem maior na vendagem. Ou seja, é a fase de colocar o máximo de grana no bolso, investir, comprar imóveis, aplicar, fazer render e garantir o futuro das próximas gerações da família.
Depois vem outra fase da carreira, que é a de se divertir sem obrigações. É quase como os avós com os netos. Já criaram os filhos, ralaram para dar uma vida digna a eles, e agora é só festa com os netos. É ter um novo neném sem ter que cuidar dele. Que maravilha! Com artista consagrado é assim. Afinal o que ainda querem Rolling Stones, Bob Dylan, Paul McCartney, Chuck Berry, U2? Apenas diversão. O que vai mudar para eles mais um disco baixado de graça ou mais uma biografia não autorizada lançada? A história já está escrita!
Um comentário:
Paulo, não conhecia o blog e com certeza lerei muitos posts ainda. Sobre esse texto, vou discordar um pouco. Acho que o Lars e o velho Neil estavam certos. Talvez a posição deles tenha sido impopular e por isso foram achinchalhados na época. Mas outro dia assisti a uma entrevista do Lars no "That Metal Show", da VH1, e ele revelou que vários artistas concordavam com a briga que ele comprou, mas que, na hora de firmar posição a respeito, acabavam "amarelando". E veja o que aconteceu com a música... Não que eu tenha pena dos grandes conglomerados ou dos artistas de um single só, mas toda a cadeia foi quebrada. Redes de lojas desapareceram, a música sumiu da MTV, etc. O Jim "Reverend Horton" Heath declarou recentemente que o merchandising é o novo disco. Pra suprir a falta da receita proveniente da venda de álbuns, eles têm que comercilizar camisetas, canecas, bonés, etc. Ou seja, as bandas ganhavam dinheiro com discos, sim. Entrevistei há alguns anos Blaine Cartwright, do Nashville Pussy, outra "hardworking band", e o cara confessou que é extremamente desgastante fazer tantas turnês, mas que eles, e tantos outros, são obrigados a ficarem na estrada pois não podem mais contar com venda de discos. As turnês viraram uma cansativa obrigação. Acho que é momento de reavaliar a posição do Neil, Lars e outros. Mas a batalha já foi perdida há uns 10 anos.
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