15 de maio de 2013

Sou De Lugar Nenhum, Sou de Nenhum Lugar

Nasci em 15 de maio de 1970, em Piracicaba, interior de São Paulo. Um ano depois fui morar em Columbus, no estado de Ohio, nos Estados Unidos. Meu pai ganhou bolsa para Doutorado (ele era engenheiro agrônomo) e lá fomos nós. Voltei para Piracicaba em 1973. Meses depois, no início de 1974, estava em Brasília. Da capital federal só fui sair em abril de 1987, quando cheguei a São Paulo. Já se vão 26 anos e ainda me sinto um peixe fora d’água. Não me sinto paulistano, ainda acho estranho alguns costumes dessa cidade enorme. Me assustei ao chegar aqui. Não conhecia nada.

Amo Piracicaba. Amo Brasília. Em minha cidade natal morei nesse início dos 1970 e também em 1985. Essa segunda ida para Pira eu estava na expectativa, apesar de estar muito ligado a Brasília, foi quando comecei a ter minhas namoradas, foi formado o Filhos de Mengele. Sabia que era apenas um ano, e queria ver como era a cidade onde nasci. Foi um ano intenso, muitas aventuras e descobertas aos 15 anos. Conheci muita gente e, como em Brasília, convivia com pessoas com 5, 8, 10 anos a mais que eu. Adorei morar em Piracicaba e aproveitei-a ao máximo. Pra mim, que adoro caminhar, andar por Brasília e Piracicaba sempre foi especial.

Sede  da ESALQ
Piracicaba e Brasília, duas cidades interioranas, onde as relações humanas eram iguais, mais próximas, onde amigos praticamente viravam parentes. Todo mundo sabia de tudo, fofocas corriam soltas. Nunca se tinha o que fazer, então se inventava um monte de coisas pra fazer. O combustível? Sexo, drogas e rock’n’roll. Mas a grande maioria sobreviveu.

Aqui em São Paulo as pessoas, quando me conhecem, logo perguntam se eu sou do Rio de Janeiro, porque para o paulistano basta forçar o ‘R’ para ser carioca. Quando vou para Brasília os amigos tiram sarro do meu sotaque paulistano, por conta das gírias. Até hoje não sou muito chegado à pizza. Como, mas não me atrai. Em Brasília não havia o costume de comer pizza como em SP, pelo menos não enquanto morei lá, quando tinha apenas uma pizzaria, a Cazebre 13 (era isso??? Não lembro direito...).

Minha formação toda foi em Brasília, minha infância inteira nos 1970 e 90% de minha adolescência. A capital é terra ianque, então cresci com baiano, pernambucano, mineiro, gaúcho, mato-grossense, paraibano, cearense, paulista, carioca, inglês, alemão, nigeriano, africano, americano, francês.
Um dia eu ia a um almoço que tinha pato na maniçoba, outro dia em um churrasco, no final de semana comia um tutu, depois um vatapá, chimarrão com pão de queijo...

Já são 26 anos de São Paulo e uma filha linda e muito amada que não conhece Piracicaba e nem Brasília. Várias vezes me pego pensando sobre minhas raízes. Onde estão? Meus pais são de São Paulo. Minha mãe nasceu em Campinas, mas logo foi para SP. Infância, adolescência, juventude, início da vida adulta, tudo foi em SP, tudo foi no bairro de Perdizes. Nasci em Piracicaba porque a família da minha avó paterna é de lá, e meu pai estudou agronomia na ESALQ. Quando nasci morávamos na Rua Gomes Carneiro. Era uma delícia. Eu sou daquelas pessoas em que a memória começa cedo. Tenho lembranças de quando tinha 3 anos.

Da mesma forma como tenho orgulho de ser canhoto, também tenho orgulho de ser caipira. Me considero duas vezes caipira. Há pouco mais de dois anos me separei, e a primeira coisa que pensei foi em ir embora de SP. Fiz contato com Pira e com BsB. Desde que me mudei pra cá, nunca descartei a hipótese de sair daqui. Faço o máximo possível para que minha vida aqui em SP seja pacata. Moro na Pompéia, um bairro muito mais residencial do que comercial (coisa cada vez mais rara em SP). Apesar de ser um morro, adoro caminhar por aqui. Moro ao lado do Palmeiras, clube que sou sócio e torcedor. Em Brasília há a tradição de ir ao clube, e aqui em SP não perdi esse costume. Nado toda semana, vou e volto a pé. Aliás, como já disse aqui no blog, vendi meu carro em 2001, porque já naquela época não aguentava o trânsito.

Só saio da Pompéia para trabalhar e, algumas vezes, até dou sorte de arrumar trabalho por perto. Aqui ando pela rua, cumprimento todo mundo, conheço o jornaleiro, o açougueiro, as vovozinhas, a atendente da padaria, todo mundo dos mercados e restaurantes próximos. Estou no mesmo lugar há 15 anos.

Até hoje dá saudades de Brasília, mesmo sabendo que a cidade não é mais a mesma. Tenho saudades das caminhadas, de pegar o Grande Circular, o L2 Norte / W3 Sul, de ir à casa dos amigos filar uma piscina, de sair pra night de camelinho, de sentar no Beirute pra reclamar da cidade, comprar pão na Delícia, comer um sanduíche no Good’s, o Food’s e o Giraffa’s (que não era a porcaria que é hoje), passar embaixo de um bloco qualquer durante uma caminhada.

Mas isso não é nostalgia, saudosismo ou coisa assim. Apenas lembranças que veem quando penso a respeito de minhas raízes. Esses tempos não voltam, e o bom é isso.

Me sinto mais brasiliense por causa dessa experiência rica que Brasília proporciona de poder conhecer várias culturas em um único lugar. Eu sou assim, formado com um pouco de cada cultura que conheci, mas com essa coisa bucólica do interior no sangue. E melhor, por onde passei, estive nos lugares certos e nos momentos certos.

A verdade (e a conclusão) é que eu gosto de me sentir assim, sendo de nenhum lugar. É algo especial e diferente.

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