1 de dezembro de 2011

Série Coisa Fina: 9 - Mates of State

Pense em Eurythmics, B-52’s, XTC, Talking Heads, Stranglers, Duran Duran, Devo, Elvis Costello, Blondie, Ultravox, Trio, Thompson Twins, Tears for Fears, Missing Persons. Artistas que trabalham bem com teclados, música pop de qualidade, coisa fina mesmo. Mas pense também em rock progressivo, em Pink Floyd, Genesis, Yes. Pense também em Carpenters e Abba. Mates of State é um pouco disso tudo, hoje deixando o progressivo, digamos, mais apagado. O progressivo aqui é em relação aos teclados e mudanças bruscas de andamento e harmonia.

Mountaintops, o 7º da carreira do Mates of State é assim: álbum pop de primeira linha, atemporal, com sonoridade moderna, mas soando, ao mesmo tempo, vintage. “Palomino”, “Maracas”, “Basement Money” são maravilhosas para qualquer pista de dança, fácil. E também tem as lindas baladas “Unless I’m Led”, “Mistakes” e “Change”. Lindas!

São 10 músicas que somam 37 minutos. Foi lançado em setembro e é daqueles que, quando acaba, você aperta o play de novo. Ele lembra muito os bons momentos criativos da música pop.

A linda tecladista Kori Gardner sabe muito bem misturar timbres antigos com atuais e assim, por ter noção de balancear esses timbres, é que o som consegue ser moderno e vintage. O baterista Jason Hammel lembra muito Jason Finn do The Presidents of the USA (dois Jason!). Toca com um set pequeno de caixa, bumbo, ximbau, um pandeiro, um tom, surdo e dois pratos (um ataque e um condução). Bateria baixa e ele comprido. Seco, curto e grosso. Com viradas de caixa e muita porrada nos pratos (principalmente nos primeiros discos). Com os anos, a relação com os instrumentos melhorou, a química e a forma de tocar e cantar também.

São vários fatores que chamam a atenção no Mates of State, mas um deles é que é difícil, nos tempos atuais, vermos bandas estáveis, com carreira regular e evolutiva, sem necessariamente estarem na grande mídia como artista e celebridade, essa coisa que engole muita banda. Não consigo me expressar direito, mas quero dizer que hoje, com a tecnologia, todo mundo quer aparecer, e que são poucos os artistas que hoje tem uma carreira firme, feita de maneira gradativa, de forma tranqüila e na maior harmonia, sem polêmicas, atitudes ou declarações para chamar a atenção da imprensa.

Principalmente dos anos 1980 para trás há vários exemplos de carreira sólida e evolutiva: Beatles, Who, Stones, Clash, Stranglers, Elvis Costello, U2, REM, Red Hot Chili Peppers. Já nos anos 1990, com o lance do sucesso rápido, muita coisa surgia e sumia deixando carreira curta e 2 ou 3 lançamentos, sendo significativos ou não. São os tais 15 minutos de fama.

Conheci Mates of State por acaso, em 2003, fazendo pesquisa na rede. Na época tinha acabado de lançar Team Boom, o 3º trabalho. A primeira coisa que me chamou a atenção foi a formação. Um duo composto pelo casal Jason Hammel e Kori Gardner. É isso: bateria e teclado, com os dois dividindo os vocais. Hoje, apesar de ter um guitarrista como músico de apoio, essa característica inicial permanece e prevalece.

Os dois eram da mesma escola, tocavam em bandas juntos e aos poucos foram fazendo músicas em parceria, sempre nos intervalos dos ensaios ou quando os outros integrantes não podiam ir, eles se encontravam, até que em 1997 resolveram formar o Mates of State. Casaram-se em 2001. São americanos, de Kansas, da pequena cidade de Lawrence, que tem 87 mil habitantes.

No início era um som mais experimental, cheio de notas e partes diferentes, parecendo com o rock progressivo que, de um segundo pro outro, muda a harmonia, o andamento, mas é a mesma música. Os dois praticamente gritam com melodias vocais muito herméticas. Mas mesmo assim lá no fundo dá pra sentir o lado pop. Aos poucos o experimental foi perdendo espaço para o pop, mas de forma natural, numa crescente, nítida evolução em composição e química.

A partir do Bring It Back, de 2006, aflorou de vez o pop. As baladas são incríveis, e quando resolvem fazer algo pra dançar também não fazem feio. Mas outra coisa muito legal e que faz a diferença é o próprio casal que tem uma relação bacana, com duas filhas lindas, que acompanham o Mates of State sempre que podem. Kori inclusive tem um blog (Band on the Diaper Run) onde conta sua aventura de ser mãe artista, posta fotos da família em turnê, as meninas na passagem de som. Recentemente ela abriu um novo negócio junto com outras amigas que é uma agência especializada em babás para artistas. Ideia muito boa.

Esses empresários de festivais (ou não) podiam trazer em 2012 o Mates of State (e também o Stone Roses que anunciou sua volta). Não sei se o duo um dia vai virar um grande nome, mas não é necessário isso acontecer. Mates of State pode continuar sendo para poucos. O importante é que a família esteja feliz e que continue lançado canções que toquem o coração.

Mountaintops é delicioso e lindo. Mates of State é água no deserto e uma prova de que música boa é a que vem do coração.


Band on the Diaper Run
http://blogs.babble.com/babble-voices/band-on-the-diaper-run/

Mates of State
http://www.matesofstate.com/

Quase todos os clipes do Mates of State estão aqui. A ordem é do mais recente ao primeiro clipe. Também coloquei alguma coisa ao vivo onde o vídeo e o áudio estão com boa qualidade.












































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