Antes de tudo quero dizer que o título do post é uma clara homenagem ao Olho Seco, que registrou “Haverá Futuro?” na coletânea (do festival) O Começo do Fim do Mundo, que tenho escutado bastante nas últimas semanas...
É difícil pra mim escrever sobre esse assunto. Trabalho nesse segmento. É delicado. Mas acima de tudo sou telespectador. Faço, mas também assisto. Cresci em Brasília, mas não faço política. Tem gente que me fala que isso é um erro, mas prefiro continuar a acreditar no meu trabalho. Em primeiro lugar vem o tesão por ele, até porque nenhum pai passa a mão na cabeça do filho dizendo orgulhoso: “esse aqui quando crescer vai trabalhar em televisão. Vai ser Diretor! Vocês vão ver”. Então a televisão deveria ser feita só por quem realmente gosta disso, mas infelizmente essa não é a realidade. Nela há pessoas que estão em suas posições, mas pensando mais no status, nas trocas de favores, nos bens materiais, na política. O que realmente importa fica em 5º plano. Tô falando besteira?
Claro, sou amigo de produtores, roteiristas, diretores (artísticos, de produção, de fotografia, de arte...), executivos, empresários do vídeo, enfim. Como free lancer passei por emissoras e produtoras e conheci equipes das mais diversas, formas diferentes de trabalho e de se pensar e gerir. Isso não é pra mim. Meu negócio é criar, desenvolver, colocar em prática uma ideia (minha ou não). Faço isso porque amo televisão. Sou tele maníaco e com a chegada a MTV no Brasil vi a possibilidade de trabalhar com minhas duas paixões: música e televisão. Perfeito! Trabalhar lá foi incrível, mas depois ficou esquisito e chato. Pulei fora.
A marca MTV foi muito importante para várias gerações desde quando começou em 1983. Pelo bem ou pelo mal, ela ajudou a construir a cultura pop contemporânea. A MTV Brasil dos anos 1990 deixava artistas estrangeiros de boca aberta. Até Jello Biafra falou bem. Muitos artistas saiam daqui impressionados com as entrevistas e pautas do Gastão, Massari e de boa parte da produção (artistas que passam anos em turnê pelo mundo). Sim, porque muitas vezes as entrevistas também eram feitas off câmera por diretores, produtores e até redatores.
Era muito amor pela música. Dedicação mesmo. A equipe vestia a camisa como se fosse uma banda. Pô, quer coisa melhor do que poder fazer a pauta para uma entrevista com Metallica, Ozzy Osbourne, Red Hot Chili Peppers, Oasis, Ramones, Nirvana, Lou Reed. Pegar um carro e ir se encontrar com esses artistas. Era um prazer. É a sorte de fazer o que gosta e ainda receber por isso.
O que fizeram com a MTV de 1990 até (+ ou -) 1999, depois foi destruído. Nunca entendi, por exemplo, programa de namoro em uma emissora musical (gosto pessoal). Como disse não sou executivo, mas não posso engolir se a desculpa for patrocínio. Então na reunião faltou alguém dizer para o patrocinador que o “M” da MTV quer dizer música.
Também não sou a favor de ser apenas música e só música e mais música. Cultura pop. Namoro na TV definitivamente não é cultura pop. Programa de esporte pode até ser, dependendo de como for feito. Aquele bom e velho Hermes e Renato, de quando eles mandavam as fitas com os programas para São Paulo, não existe mais. Quando era cult, mal feito. Tem o Comédia MTV que é a reformulação de outro que já havia na grade, mas com outro nome. Acho bom, dou boas risadas nas poucas vezes que vejo. Me lembra muito a turma da TV Gazeta de 1987/88: TV Mix, Astrid, Serginho Groisman, Ricardo Corte Real, Grace Gianoukas, Marcelo Mansfield, Ângela Dip e outros. Era bom demais. Mas questiono esse humor em uma emissora como MTV.
Em algumas rodas de conversa pela cidade, seja em um show, bar, festa ou qualquer outro evento, já ouvi de tudo sobre o futuro da MTV Brasil. Até mesmo de que vai acabar. Isso eu acho difícil.
Não sei o motivo pelo qual houve tanto descaso com a emissora nesses últimos 10 anos. A culpa não foi só dos executivos da emissora, mas também de quem, do Grupo Abril, estava designado a tomar conta do negócio. Eu, como telespectador, vejo que o estrago foi tão grande que é preciso recomeçar do zero. A renovação já começou, mas no modo operação tartaruga... por diversos motivos.
Quem gosta de música quer ver, obviamente, programas musicais e é isso que todos esperam da MTV. Programas que mostrem clipes de todos os segmentos. Programas com música ao vivo, shows (como os que o Multishow compra), programas de debates, entrevistas, um bom jornal (o Sportcenter da ESPN Brasil é um bom exemplo de ótimo jornal com um editorial segmentado). Ninguém explora a música como ela deve e pode ser explorada.
Como falei, é ultra difícil pra mim publicar um texto como esse. Apesar de todos os cortes feitos no último ano, ainda tenho muitos amigos na MTV, torço por eles e pela emissora (eles sabem disso). É uma marca muito forte, por isso, não acredito que irá acabar, mesmo com esse momento difícil. O que falta é fazer o que ela fazia muito bem: surpreender.
2 comentários:
Perfeito exemplo esse da ESPN. Na verdade, os canais de esporte tem muito a ensinar para os "musicais". O que não falta é matéria-prima. Mas, acho que o problema principal é que o povo brasileiro tem um nível cultural muito baixo, não há interesse no universo da música. Querem dançar os hits bundalescos e pronto. Por isso, a MTV foca não o fã de música, mas os idioteens...
Haverá futuro pra esse pessoal? Haverá futuro?
Certíssimo cara! Triste para nós que gostamos de música ver essa indiferença apesar do alto consumo de shows, discos, DVDs...
abç véi!
P
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