Logo no primeiro dia de 2011 assisti a dois filmes que há tempos queria ver. Um deles, Gainsbourg, Vie Héroïque, eu estava apenas esperando seu lançamento em DVD, já que não fui ao cinema. O outro, Sex, Drugs and Rock’n’Roll, não sabia que veria tão cedo, até porque a possibilidade de ser lançado no Brasil é quase nula (filme inglês independente sobre um ídolo que não fez sucesso no Brasil).
Não lembro se foi em 2004 ou 2005 que ganhei a biografia de Serge Gainsbourg chamada Por Um Punhado de Gitanes. Mesmo irregular, foi uma leitura muito boa. Ouço Gainsbourg desde que nasci, porque meus pais adoravam escutar música francesa, principalmente Serge e Edith Piaff.
Mulherengo, fumante inveterado, de humor fino, doidão de carteirinha, Serge Gainsbourg tinha o dom do verbo e mesmo feião conquistou mulheres maravilhosas, como Brigitte Bardot e Jane Birkin. Era uma espécie de Raul Seixas francês.
Uma delícia assistir a um filme tão bom, incluindo aí os momentos lúdicos e ficcionais que o diretor Joann Sfar criou. As cenas em que Gainsbourg contracena com um boneco de sua caricatura que é seu amigo imaginário, seu alter-ego, são muito boas. Inclusive o boneco foi desenhado por Joann que, na verdade, é um dos quadrinistas mais talentosos de sua geração e já ganhou todos os principais prêmios dessa área. Arriscou-se no cinema e se deu bem. É filme que dá gosto de ver. Único ponto ruim, mas que não estraga nada, foi a falta de ver em certos momentos o Serge Gainsgourg mais escrachado.
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Outro que dá gosto de ver é o filme sobre Ian Dury, Sex, Drugs and Rock’n’Roll. O título do filme é o mesmo de seu maior hit, lançado em 1977. Tem uma ótima fotografia, ótimo casting - Andy Serkis está perfeito como Ian Dury (Andy fez Gollun na saga O Senhor dos Anéis). Perfeita caracterização. Como em Gainsbourg, esse filme não tem longos momentos musicais. Ele é mais voltado para o lado pessoal de Ian Dury, sua relação com a família, o filho e os amigos. O filme mostra que Ian era um cara difícil, complicado, de humor corrosivo, além de já ter a típica arrogância inglesa.
Sex, Drugs and Rock’n’Roll mostra os momentos mais importantes da carreira de Ian. A abertura do filme é muito boa e a animação que entra em algumas passagens também. Não é um filme fiel a todos os acontecimentos, tim tim por tim tim. É preciso entender que Ian Dury foi e é muito conhecido na Inglaterra e claramente o filme deixou de explicar alguns acontecimentos, talvez por achar desnecessário. Ele não mostra claramente nos anos 1980 quando a carreira musical de Ian decaiu e ele se arriscou fazendo trabalhos como ator e compositor de trilhas, assim como não mostra seu início de carreira profissional, nem nas artes e nem na música - o filme começa quando o Kilburn and The High-Roads já está no fim, por volta de 1974/75. Os flashbacks se concentram mais em sua relação com o pai, a poliomielite e o período em que ficou em um internato.
O roteiro não vai até sua morte. Não encena os anos 1990, a volta de Ian aos estúdios e seu último lançamento em 1998 quando gravou com The Blockheads depois de quase 20 anos separados (o incrível e m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o Mr. Love Pants). Mas apesar dessas faltas, não deixa de ser um grande filme.
O roteiro não vai até sua morte. Não encena os anos 1990, a volta de Ian aos estúdios e seu último lançamento em 1998 quando gravou com The Blockheads depois de quase 20 anos separados (o incrível e m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o Mr. Love Pants). Mas apesar dessas faltas, não deixa de ser um grande filme.
A forma como ele é narrado também é muito legal: o próprio Ian Dury (Andy Serkis) aparece em alguns momentos num palco de um teatro no meio de um show onde ele conta passagens que amarram o roteiro. Muito bom.
Os dois filmes são bons nos mesmos quesitos. Nenhum deles tem uma linguagem linear careta, como se fosse uma grande reportagem. Tanto para Serge Gainsbourg quanto para Ian Dury, daria para produzir várias cinebiografias de maneiras diferentes, já que as duas histórias são ricas em acontecimentos pessoais e profissionais. O que aumenta o valor desses dois filmes é exatamente o fato de terem acertado em cheio na maneira como foram roteirizados e produzidos.
É diversão até pra quem não conhece bem as biografias. Um presentão para quem gosta da mistura cinema, música e cultura pop.
Mais sobre Ian Dury no Sete Doses:
http://setedoses.blogspot.com/2010/05/ian-dury.html
http://setedoses.blogspot.com/2010/12/pub-rock.html
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