14 de outubro de 2010

Pixies


Conheci Pixies quando também conheci (Carlos Eduardo) Miranda. Na época ele era um jornalista que escrevia para a Bizz e estava trabalhando em sua primeira grande produção musical: a coletânea Sanguinho Novo.

Era 1988 e o vinil que Miranda pôs para eu escutar era importado (Surfer Rosa). Depois disso fiquei muito tempo sem ouvir Pixies, mas voltei a escutar muito Husker Du (Black Francis era o novo Bob Mould!).

Quando escutei Pixies identifiquei muitas coisas boas: PIL, XTC, Stranglers, Modern Lovers, Gang of Four, Husker Du, Violent Femmes, Neil Young, Fall.

Só fui ver a banda ao vivo em um vídeo que passou antes de um show do Yo Ho Delic, em 1992. Uma verdadeira decepção por ver que todo aquele poderoso som era executado ao vivo de maneira fria. Até então imaginava a banda ensandecida no palco. Decepção absoluta. Confesso que cheguei a ficar com raiva, mas depois vi mais alguns vídeos e era tudo com a mesma frieza, então eu entendi. Kim Deal sempre foi a mais simpática no palco.

Pra mim, essa falta de ânimo ao vivo foi uma das causas da dissolução da banda. Claro que as intermináveis brigas entre Black Francis e Kim Deal também ajudaram, mas a gota d’água foi abrir para o U2, na turnê do Achtung Baby, e receber pouca atenção. O fim do Pixies me entristeceu pacas. Era a mais européia das bandas americanas.
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Na terça feira dia 12 de outubro acordei e fui em busca de notícias do festival SWU e da repercussão do show do Pixies. Assisti pela TV e achei incrível. Kim Deal realmente estava com excelente humor. Apesar de Black Francis ter dado um sorriso entre o fim do show e o bis, era o Pixies ao vivo de sempre. Um desfile de hits. Maravilhoso!

Falar que Black Francis é um mau humorado ao vivo é coisa de quem realmente não entende de Pixies. Pior é relegar a banda apenas como “a grande inspiração de Kurt Cobain para compor “Smells Like Teen Spirit””. Pixies é muito, mas muito mais que isso.

Aliás são só duas coisas que escrevem sobre a banda: que influenciou Kurt Cobain e que é um dos maiores nomes do rock alternativo dos anos 1980. Só. É muita preguiça! Pelamor!!!

O estudante de antropologia Charles Thompson, que depois passou a ser conhecido pelo nome artístico Black Francis, chegou a morar em Porto Rico para estudar espanhol (intercâmbio), mas abandonou o curso para formar o Pixies com Joey Santiago, que era seu amigo de quarto na Universidade de Massachusetts.

Boston é a cidade da banda e Black sempre foi fã de ficção científica, ovnis, bíblia (principalmente o Velho Testamento) e outros assuntos não comuns. Ele também é fã de surf music, folk, punk rock e pós-punk. (fiquei feliz de saber que ele, como eu, prefere PIL a Sex Pistols)


Só que a influência da ficção científica e ovnis, ia muito além do texto. Black transportou isso para uma sonoridade baseada nesses assuntos, até por isso alguns timbres de guitarra, na base e em solos, são diferentes e fazem lembrar sons, ruídos e barulhinhos, digamos, futuristas (tipo filmes B de ficção).

Em março de 1987 a banda lançou um EP com 8 músicas chamado Come on Pilgrim. Esse EP era, na verdade, uma demo com 18 músicas, gravada e bancada pela própria banda.

Quase todo mundo escreve que Pixies foi formado no final dos anos 1980. Mentira. Foi formado em 1986 e lançou dois discos ainda nessa década (Surfer Rosa, 1988 e Doolittle, 1989), ou seja, metade de sua discografia. Pixies influenciou tudo o que veio depois, incluindo aí o Grunge e o Britpop, dois movimentos que são o retrato dos anos 1990.

A segunda metade dos anos 1980 foi esquisita, principalmente entre 1987 e 1990. O que tinha sido underground na primeira metade da década, nessa época se tornou mainstream ou sumiu do mapa; nessa época as college radios tiveram um papel importante na renovação musical. Entre as bandas que frequentavam essas rádios estavam Red Hot Chili Peppers, Husker Du, REM, Sonic Youth, Replacements.

Pixies surgiu no meio disso tudo, quando Husker Du já dava sinais de fim de linha, e quando essas college radios começavam a ganhar a atenção de quem gostava do diferente ou de quem estava querendo garimpar algo novo.

É difícil apontar apenas um fator diferencial na música do Pixies, mas dá para enumerar alguns deles: a mistura inusitada de surf music e pós-punk, a sonoridade e timbres dos instrumentos, os riffs, a reverberação de estúdio, os vazios, as dinâmicas, a sonoridade pós-punk do baixo, a bateria esquisita de David Lovering, a perfeita combinação das guitarras de Joey Santiago e Black Francis. Kim Deal também trouxe um diferencial fundamental, além de dar um novo status para a mulher no rock. 

Em 1987/88 não havia nada parecido com “Bone Machine”, “Broken Face”, “Gigantic”, “Were Is My Mind” e “Vamos”. Até então não existia uma dinâmica vocal parecida com o que Black e Kim faziam. Também não tinha essa mistura que Black fez com a língua espanhola. NME, Melody Maker, Spin, Sound, várias foram as revistas que consideraram Surfer Rosa o melhor disco de 1988.

O Pixies causou um grande impacto em todas as bandas que já existiam quando surgiu. Fez todas elas repensarem seus conceitos. Quebrou paradigmas e mostrou novos caminhos.


PS: Das 65 músicas oficialmente gravadas pelo Pixies, 63 são de autoria de Black Francis, e duas são covers. Das 63 músicas de Black Francis, apenas três são escritas em parceria com Kim Deal e outros ("Levitate Me", "Gigantic" e "Silver"). As covers são "Cecilia Ann" (The Surftones) e "Head On" (Jesus and Mary Chain).







4 comentários:

Anônimo disse...

Excelente texto...! Soube falar o que realmente se deve falar sobre Pixies! Pixies é tudo isso comentado e muito mais! Não há nada igual a Pixies. Nunca houve antes. E, talvez nunca haverá.

Paulo Marchetti disse...

Obrigado!

Pio Junior disse...

Valeu pelo texto, velho! Pio

Paulo Marchetti disse...

Piooooooooooooooooo!!! Grande abraço cara!