6 de janeiro de 2009

Série O Resgate da Memória: 1 - Gang 90

Há uns 3 ou 4 anos atrás eu criei um blog chamado O Resgate da Memória. Minha intenção era reproduzir ali antigas matérias e entrevistas de revistas como Pipoca Moderna, Roll, Som Três e Bizz. Era muito trabalhoso transcrever tudo o que eu queria. Mesmo assim postei muita coisa. Depois passei a ter pouco tempo para continuar a transcrever as matérias e desisti do blog.
Agora vou voltar a postar essas antigas matérias e entrevistas, porém tudo ao meu tempo. Primeiro vou reaproveitar o que já havia publicado e depois outras coisas 'novas'.
Para começar publico aqui uma entrevista da Gang 90 realizada pela Bizz em 1987, quando a banda preparava o 3º e último disco chamado Pedra 90.
PS: Se não ponho o nome do jornalista responsável é porque na fonte não há nada.



GANG 90 - DE VOLTA À SELVA
Bizz - julho/1987

O primeiro capitulo se chama Gang 90 & Absurdettes. No começo, era uma espécie de brincadeira de Júlio Barroso, que, mesmo sem composições originais, trabalhando mais com colagens da new wave e covers, trazia um cheiro de novidade. E não deu outra: emplacaram Perdidos na Selva no festival da Globo de 81. gravaram um LP e, dois anos depois. "Louco Amor" estava na abertura da novela das oito. Enfim, o sucesso... mas a primeira Gang estava acabando. Júlio, agora com Taciana Barros (vocal), Beto Firmino (teclados), Gilvan Gomes (guitarra) e Gigante Brazyl (bateria), abandonava o rock-piada para partir para um som mais consistente. Este segundo capítulo nem chegou a ser registrado em vinil porque as gravadoras não deram ouvidos . E porque Júlio morreu em 84. Gang sem Júlio demorou mais um ano para se recuperar e lançar Rosas e Tigres. Os problemas com a gravadora já começaram na mixagem - da qual o grupo foi sumariamente excluído -, continuaram com a displicência na divulgação e culminaram com a saída da Gang. Agora, na Continental, eles se preparam para o terceiro capítulo com um novo disco. Com a palavra, a Gang...

BIZZ - Vamos começar pelo disco.
Beto - Está com uma linha mais clara que o anterior. O repertório tem mais de um ano.
Paulinho - A gente resolveu gravar apenas oito faixas, embora existissem mais músicas que podiam ser utilizadas, justamente para fechar uma linguagem unitária. E também para desenvolver cada uma com mais tempo.
Gigante - A unidade deste disco é o resultado dançante. Tem uma pulsação muito forte.

BIZZ - Dançante de um modo geral ou segue alguma tendência mais especifica?
Gilvan - Você pode ter uma unidade musical atacando em diferentes frentes. A gente não radicaliza estilo.
Beto - Dá para reconhecer elementos de funk, samba, rock... Agora, o que não dá para definir é cada música em si, porque a gente mistura muito. Mesmo nas músicas que são mais rock você distingue elementos de swing, samba... embora não esteja rolando isso lá.

BIZZ - Como é trabalhar com Edgar Scandurra na produção?
Taciana - Ele tem uma concepção de som que é o que a gente procurava: buscar o som do instrumento.
Beto - A gente gosta muito dos timbres das guitarras, que é a hora em que o Edgar desempenha o máximo. E o instrumento dele.

BIZZ - O resultado, então, é mais rock?
Paulinho - A sonoridade que a gente conseguiu no estúdio, sim, e uma coisa do bom e velho rock´n´roll. Agora, nos arranjos não tem concepção roqueira, só influências.
Gigante - Música é universal. Os caras estão tocando xaxado lá fora. Eu vi o baterista da Siouxsie tocando xaxado (risos generalizados)! È mole?

BIZZ - Ainda em letra do Júlio neste disco?
Taciana - Tem uma dele, uma do Arnaldo Antunes (Titãs) e três do Alex Podre - por sinal, os caras que Júlio dizia que escreviam tão bem quanto ele.
Gilvan - júlio era um grande poeta. Tanto que Lobão e outros continuam aproveitando suas letras.
Taciana - E hoje até mais do que antes.

BIZZ - Ele ia participar do disco anterior?
Taciana - Ele iria participar desta banda, isso é uma coisa que muita gente não entende. Gang 90 & Absurdettes foi uma coisa que morreu muito antes do Júlio. A gente estava montando uma nova banda. Quando ele morreu, ficou uma imagem de que a gente se aproveitou do nome dele para se lançar. Sendo que, quando ele estava vivo, nenhuma gravadora queria saber. Inclusive a Som Livre (que acabou gravando o LP) desligou o telefone na cara dele. Ninguém queria saber. A gente até ouviu propostas de fazer sem o Júlio, porque ele arrumava muita confusão...
Gigante - Você viu Carne, a Estranha? Só faltou aparecer a mão do Júlio saindo do túmulo para pegar as pernas dos caras.
Beto - Nós ficamos muito traumatizados.
Gigante - O LP Rosas e Tigres foi um disco póstumo. Os caras (da gravadora) fizeram questão de não nos deixar desenvolver o instrumental, coisa que estamos fazendo agora. Com todo o respeito ao Júlio, mas é uma situação muito constrangedora.
Taciana - A gente gravou aquele disco em II dias...
Gigante - Depois passamos dois anos fazendo showzinho, ganhando mixaria... Os caras fizeram a gente se precipitar. O disco foi malfeito.
Taciana - As condições, hoje, são muito diferentes. Estamos trabalhando neste LP há três meses. Tem trombone, guitarras do Edgard...
Beto - Eu tenho muita vontade de ver isso pronto.
Gigante - Puta que pariu!

Um comentário:

Anônimo disse...

o que eu estava procurando, obrigado