15 de abril de 2025

Ira! e o Rock de Esquerda

Este recente episódio que aconteceu com o Ira!, por causa do preconceito de Nasi a quem pensa diferente dos integrantes da banda, é um bom motivo pra eu voltar a falar do que já escrevi aqui algumas vezes e até vídeo no YouTube já fiz: rock de esquerda não existe!

O bom é que, por conta do que aconteceu, surge junto um bando de gente que não consegue enxergar o que está bem em frente aos seus narizes. Aliás, segundo me disseram, o apelido Nasi é por causa de seu nariz, mas quem acompanhou o Ira! desde seu início (antes da exclamação), sabe que isso é pura balela e que o apelido vem por conta de seu pavio curto. Até pouco antes de lançar o 1º disco Mudança de Comportamento, o apelido era escrito com a letra “z”, era Nazi, no contexto de abreviação da palavra n@zist@. 

(Quem aí se lembra do episódio na Folha de SP, em 1984, quando Nasi partiu pra cima do jornalista Pepe Escobar?)

“Pobre Paulista” representa muito bem esse momento radical do grupo que se vestia como... bem, deixa pra lá...

Vou ser bem objetivo e claro porque, muitas vezes, nem assim certas pessoas conseguem entender.

Não existe rock em país comunista. Não existe sequer arte autoral em países comunistas. Tudo é o Estado! Na União Soviética, na Alemanha Oriental, na China, na Coreia do Norte, em Cuba, no Vietnã, em Laos existem ou existiram cenas musicais? Existem ou existiram gravadoras e selos independentes? Existe ou existiu mercado fonográfico nesses países? Quais os discos clássicos dos artistas autorais desses países?

Vou listar:  

União Soviética
Alemanha Oriental
China
Coreia do Norte
Cuba
Vietnã

Existe algum álbum de alguma banda ou artista solo que você gosta que seja Live in Russia ou Live in Xangai ou Live em Havana? Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Daniela Mercury, Gilberto Gil e outros artistas da Turma Rouanet já fizeram shows nesses países?

Os artistas que você gosta são desses países da lista acima ou são, em sua maioria, dos Estados Unidos e Reino Unido? Os artistas que você escuta nas plataformas de música, que você vai aos shows e que você compra camiseta são desses países da lista?

As gravadoras que produzem e distribuem a música que você ama são de gravadoras estatais de países comunistas ou são de gravadoras que estão em países do ocidente liberal capitalista?

A música que você escuta hoje, o rock, o pop e todas as suas vertentes existem graças ao mercado fonográfico dos países comunistas ou graças ao mercado fonográfico que estão nos países do ocidente liberal capitalista?

Se você contratar o Ira! ou qualquer um desses artistas que se dizem comunistas/socialistas e disser a eles que parte do cachê será doado ao MST e que eles ficarão hospedados em um hostel, você acha que eles vão aceitar? Será que no camarim deles basta uma aguinha, um cafezinho passado no coador e uns biscoitos? 

Os vídeos que Nasi, o ex-Nazi, publica nas redes sociais em que ele faz receitas gastronômicas que harmonizam com vinhos que ele indica, e os vídeos onde ele dá sugestão de filmes e séries, você acha que isso é coisa de socialista ou de burguês capitalista?

E os instrumentos e equipamentos? São comprados em lojas estatais de países comunistas ou em lojas do ocidente liberal capitalista? Fender, Gibson, Pearl, Roland, Rickenbacker, Ibanez, Marshall, Ampeg são de onde?

Todos sabem que o mercado fonográfico exerce um capitalismo selvagem e que tudo que gira em torno dele, inclusive ele mesmo, existe graças ao ocidente liberal capitalista. Então por que diabos há artistas e fãs que acham que são comunistas?

O que Nasi fez é completamente coerente com a ideologia que ele admira, pois o comunismo é autoritário, é preconceituoso, é censor e quer a eliminação de quem pensa diferente. Aliás, nada diferente das ditaduras “primas irmãs” do comunismo, digo o nazismo e o fascismo. Inclusive, Lenin e Stalin diziam que o fascismo era o progresso do comunismo marxista, mas tem muita gente que não está preparada para este fato, por exatamente desconhecer os fatos, ou sequer percebê-los. Para quem diz que o nazismo é direita, é só ler o nome do partido e ver a cor predominante de sua bandeira, além de ver o que o ditador de bigodinho fez com os empresários e empreendedores alemães e com quem pensava diferente dele. Essas ditaduras todas não gostam de quem pensa diferente.

Se você tem problemas em entender todo esse contexto, então te convido a procurar os bons livros que se baseiam em fatos e documentos, para poder entender a história. Assim você vai parar de abraçar e repercutir a opinião dos outros como se fosse sua (mas isso também é compreensível vindo de quem deseja um Estado que faça tudo pelo cidadão, inclusive pensar por ele).

O pior cego é aquele que não quer ver!

 

PS: O Ira!, por mais que tenha boas composições e bons álbuns, sempre foi uma "filial" do The Jam e extremamente influenciado por The Who, Kinks, Beatles e a cena Sixties! Todos artistas da União Soviética, ops, não, da Inglaterra!

24 de fevereiro de 2025

O Calendário do Rock Brasileiro

A ideia de publicar as efemérides do rock brasileiro surgiu logo após minha entrada na MTV Brasil, em setembro de 1993. Neste período analógico, as fontes para os textos escritos para os VJs vinham de um riquíssimo arquivo físico de conteúdo variado, e nele também havia livros estrangeiros apenas com datas do rock e do pop mundiais. Neles, estavam registrados lançamentos, shows e todo tipo de curiosidades possíveis do universo rock. Era uma fonte riquíssima de informação que gerava muito conteúdo, muito texto para o que chamávamos de “cabeça de VJ”, que eram os textos que eles falavam antes de chamar um videoclipe.

No 1º semestre de 2001, já fora da MTV, e com o livro O Diário da Turma 1976-1986 sendo diagramado e preparado pela editora, resolvi investir na pesquisa das efemérides e comecei a frequentar os bancos de dados de jornais atrás de material, pois naquela época ninguém ainda tinha arquivos digitais. Foi, literalmente, um investimento. De tempo e dinheiro. Além dos bancos de dados, comprei discos, revistas, livros, frequentei diversos sebos e também bibliotecas.

Desde então, até as divulguei publicando-as em blog e, depois, no Instagram. Uma enorme decepção. Ao invés do reconhecimento pelo trabalho, apenas roubo de informações, inclusive por parte de artistas, que poderiam ajudar na divulgação de um trabalho que valoriza sua história e sua obra, mas não.

Então, por volta de 2015, quando o rock brasileiro fez 60 anos, percebi que ninguém estava nem aí, nem mesmo os protagonistas, e abandonei tudo. Desisti de publicar e de continuar a pesquisa (que já estava mesmo mais lenta).

Eis que, juntando forças novamente, em 2024, resolvi retomar o projeto para lançá-lo em 2025, ano em que o rock brasileiro completa 70 anos. Graças também à tecnologia, que hoje facilita o trabalho independente. Assim, em paralelo com o último ano do meu mestrado, juntei todo material bruto que eu tinha pesquisado e que ainda não havia mexido, com novas pesquisas, e fiz de tudo para deixar este documento o mais completo possível. São mais de 1.800 datas reunidas e vindas das mais variadas fontes, a respeito de mais de 500 artistas, entre trabalhos solos, bandas, seus integrantes, festivais, filmes, álbuns de todas as cenas musicais do rock e pop brasileiros desde seu surgimento. De 1º de janeiro a 31 de dezembro, é um registro de acontecimentos que conta a história do rock brasileiro em seus menores detalhes.

É bom saber que a maior parte das efemérides, principalmente os lançamentos de álbuns clássicos e importantes, se concentram entre 1955 e 2000 mas, mesmo assim, há muitas datas de 2001 a 2024. Isso porque a ideia inicial era lançá-lo em 2002, então, a intenção era se concentrar na era pré internet. Como a ideia não vingou, a pesquisa continuou, mas com foco não nos lançamentos, mas nos acontecimentos gerais mais importantes.

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São vários os objetivos desta publicação, o principal deles, claro, é manter a memória viva. Hoje (2025), muitos dos nomes aqui presentes já estão esquecidos pela mídia e pelo público. Todas as fases do rock brasileiro são ricas em histórias, inclusive a primeira, entre 1955 e 1963.

O calendário do rock brasileiro vai manter os lançamentos, sejam eles clássicos ou não, vivos e revividos a cada ano. Toda vez que este livro for aberto por alguém em um dos 365 dias do ano, algum acontecimento, obra ou nome será lembrado e comemorado.

O Calendário do Rock Brasileiro foi também pensado para a mídia, as rádios, os podcasts, emissoras de TV, as produtoras de conteúdo que, com ele, terão material rico para trabalhar, porque aqui, conteúdo não falta.

Não há essa tradição da efeméride no Brasil. São pouquíssimas as datas históricas que comemoramos, algumas delas inclusive com distorções. Não à toa dizem que nós brasileiros não temos memória. Pelo que notei nessas décadas de pesquisa, isso também é culpa dos próprios artistas.

Alguns poucos deles, que publicam material comemorando esse ou aquele lançamento, fazem isso sem critério. Para uns vale a data de quando a gravadora recebeu o álbum pronto; para outros, o que vale é a data do show de lançamento; já a gravadora tem outras datas e os fãs-clubes outras diferentes. Outro dos objetivos deste livro é exatamente padronizar essas datas de lançamentos seguindo critérios. Seguindo uma lógica.

Se a história de nosso país é ignorada, o que dizer então da história da cultura jovem brasileira!? Por conta desse desdém – inclusive da mídia especializada – a maior parte dos acontecimentos históricos são ignorados. Pra não dizer totalmente ignorados, há datas clichês sempre comemoradas, como o nascimento e a morte de Renato Russo, Raul Seixas, Chico Science e Cazuza. Para a mídia brasileira, isso já basta. 

Em relação aos artistas, infelizmente, é a mesma situação, o mesmo desdém. Por isso, essa bagunça acaba por gerar falta de interesse pela história. Então, como não há uma padronização em relação às efemérides que envolvem o rock e o pop brasileiro e seu universo, resolvi, eu mesmo, criá-la. Não ao meu bel prazer, claro, mas de acordo com critérios que seguem uma lógica, explicada e detalhada mais adiante.

Evidentemente não são todos os acontecimentos e lançamentos do rock brasileiro que estão registrados, mas a grande maioria. Os clássicos sim, estão todos no Calendário, de todas as décadas desde 1955.

Esta pesquisa se preocupou, primeiramente, com os principais nomes de cada cena. É uma pesquisa que buscou os nomes mais populares dentro deste universo. Porém, em todos esses períodos, desde o início dos anos 1960, existe a cena alternativa - também conhecida como underground - que pode não ter chegado ao grande estrelato, mas que foi de suma importância, não só com alguns dos lançamentos, como também com personagens que se tornaram importantes com o tempo, sendo produtores, executivos e compositores. Então, ao dizer “nomes mais populares”, isso também serve para a cena alternativa / independente / underground, seja da Jovem Guarda, dos anos 1970 e da Geração 80. 

Já a cena alternativa dos anos 1990, com o aumento no número de artistas e selos independentes, como dito, a pesquisa seguiu o critério inicial de privilegiar o que foi mais relevante, seja mainstream, seja alternativo. No caso da cena alternativa das bandas que cantavam em inglês no início da década de 1990, ela não foi pesquisada; assim como toda a cena heavy metal ou toda a cena punk / hardcore, mas que tem aqui os principais nomes, principais lançamentos e principais acontecimentos. 

Certamente não há datas de todos os lançamentos de todos os artistas do Brasil, assim como não há todas as datas de nascimento e óbito de todos os músicos de todas as bandas. Evidente, isso seria praticamente impossível

Em um país que não se importa com história e com o passado, não é fácil ir atrás dos fatos, por isso, este não é só um trabalho de pesquisa, mas também de investigação. Muitas datas exigiram apurações e busca por detalhes que levaram dias para serem confirmadas ou para ter a informação completa. Aqui há datas que são verdadeiros tesouros e que, com o passar dos dias, você as encontrará.

Importante saber que este é um trabalho solitário, em todas as suas fases (inclusive edição e impressão), e que se iniciou em 1998.

O que me fez retomar esta ideia em 2024, foi o fato de o rock brasileiro completar 70 anos em 2025. Para comemorar esta data redonda, nada melhor do que algo inédito, divertido e único.

É o Calendário do Rock Brasileiro.

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Livro: O Calendário do Rock Brasileiro

Autor: Paulo Marchetti

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Tamanho: 16x23 com 358 Páginas

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