13 de junho de 2025

O Rock Brasileiro no Spotify

De curiosidade fui dar uma olhada no número de seguidores dos principais grupos de rock e pop brasileiros. Claro que não fui atrás de todos, mas dos principais nomes de cada geração a partir da Jovem Guarda

A importância do artista tem ligação com o número de seguidores que ele tem?

Há números que me surpreenderam, números que me deixaram com a pulga atrás da orelha e outros que já imaginava.

Depois de ver esses principais nomes do rock, fui ver os principais nomes populares, não para comparar, mas para saber o nível de interesse do brasileiro e, claro, encontrei números absurdos, principalmente dessa nova música sertaneja que não tem muito a agregar na história da música brasileira apesar de tantos seguidores. Neste gênero, seja dupla ou cantores(as) individuais, os números chegam a mais de 16 milhões, e a média fica entre 8 e 13 milhões. Isso inclui, Luan Santana, Marília Mendonça, Lauana Prado e mais um monte de nomes que nunca ouvi falar. Digo isso sem querer depreciar, cada um ouve o que quer, mas todos sabemos que já há décadas a música brasileira, principalmente a mais popular, se nivela por baixo, muito baixo.

Se formos falar do lado mais tosco de nossa música, que é esse funk porcaria, a Anitta tem mais de 33 milhões de seguidores, outros MCs chegam a também mais de 10 milhões, mas a qualidade musical é, literalmente, a pior que se possa imaginar. Isso vai muito de encontro com a qualidade da nossa educação, que também é a pior de todos os tempos.

A verdade verdadeira é que a qualidade atual da nossa música, independente do gênero, está no pior nível desde que ela existe. Você escuta rock e sente vergonha, você ouve a MPB elitista ou a do povão e é uma vergonha alheia. Isso me fez lembrar até de um show da Anitta em pleno Dia Internacional das Mulheres e ela lá rebolando o traseiro tatuado como um típico objeto sexual de baixa qualidade.

Mas indo, finalmente, para o rock e o pop, me surpreendeu ver que Charlie Brown Jr. é o maior nome do gênero em termos numéricos, com 7,6 milhões de seguidores. O que mais me surpreendeu mesmo foi ver que O Rappa tem 4,1 milhões, mesmo não sendo o principal nome de sua geração. Inclusive, em relação à geração 90, esses dois nomes, mais o do Skank, com 4,3 milhões são os maiores dessa cena também conhecida como Geração MTV. Desses três nomes, o Skank é o que teve a carreira mais constante de shows e álbuns, sem parar, desde que surgiu bem no início dos anos 1990 até parar no final de 2019.

Na sequência, vêm empatados Raimundos e Jota Quest com 2,7 milhões. Engraçado é que são trabalhos opostos: enquanto um faz um punk rock e hardcore com a safadeza do forró sacana, o outro faz um pop limpo romântico e pra toda família. Falo isso também sem querer depreciar, mas só pra mostrar mesmo o contraste sonoro dos dois grupos. JQ faz pop de qualidade e gosto bastante das linhas do PJ.

Os números iguais desses dois nomes mostram a força que o Raimundos tem. Enquanto Jota Quest, que também tem uma carreira constante desde que surgiu, e participa de trilhas de novela e toca nas principais rádios do país, o Raimundos, com todos os problemas que teve, com a saída do Rodolfo, a volta para o underground, mudanças na formação, ainda assim é o 4º nome de sua geração.

(JQ, CBJr, Los Hermanos e CPM22 são dos anos 90, mas vieram depois da cena do biênio 1993-94)

Depois deles vem o CPM22 com 1,9 milhão, grupo que foi um dos últimos a ainda galgar um espaço a começar pelas fitas demo que passavam pelas mãos dos amigos e do underground, lançamento independente, até chegar ao mainstream. Em seguida vem Gabriel, O Pensador com significativos 1,3 milhões de seguidores. É de se espantar já que o grande momento do Gabriel aconteceu nos primeiros anos da década de 1990 (“Tô Feliz: Matei o Presidente”, “Retrato de Um Playboy”, “Lôraburra”). Gosto bastante do trabalho dele, é um dos melhores letristas de sua geração e faz o melhor discurso de protesto desde a Legião Urbana.

Surpreendeu negativamente ver que Chico Science e Nação Zumbi tem apenas 860 mil seguidores, isso juntando o perfil Chico Science (294,4 mil) com o perfil Nação Zumbi (565 mil). Na minha humilde opinião, de sua geração, foi o CSNZ quem trouxe algo realmente novo para a música brasileira, inclusive porque ele serviu de referência até para a velha MPB e ao menos meia dúzia de outros grupos surgiram na cola dele, mas sem qualquer originalidade.

A mesma coisa eu não falo de mundo livre s/a, que é o grupo dessa geração com menos seguidores, apenas 116,2 mil. Ao contrário do CSNZ, o mundo livre não foi uma grande novidade já que tem muita influência de Jorge Ben Jor, letras fracas e uma sonoridade nada especial. Ok, o primeiro álbum é legal, mas nada do outro mundo. Os números dizem tudo.

O Planet Hemp é algo bastante segmentado até porque o grupo é monotemático e só fala de maconha. Mesmo assim me surpreendeu com seus 435,8 mil seguidores. Nem tenho muito a dizer, já que além da falta de assunto, o grupo queria ser o Beastie Boys. O Planet era bem mais legal no começo, mas depois virou mais do mesmo e sem muita personalidade.

Por falar em personalidade, o Pato Fu tem de sobra. Musicalmente é um dos mais ricos de sua geração, mas o grupo peca demais nas letras, deixando-as de lado para privilegiar a melodia. Muitas delas sem sentido e isso não atrai o público. Apesar de também ter uma carreira constante, tem apenas 249,5 mil seguidores. Eu acredito que muito por causa disso, das letras fracas, já que o legal de escutar rock brasileiro é poder cantá-lo e… entendê-lo! Assisti a vários shows e gosto do grupo apesar disso. Sou fã também de Sexplícito (ou Sexo Explícito). John tem muita história.

Já na geração 80, os números são mais verdadeiros quanto à história de cada artista, tanto que o maior nome em termos de seguidores é Legião Urbana com 5,7 milhões.

Os números do RPM mostram que ele - como eu sempre disse desde que ele lançou o 1º disco - era apenas um grupo de sucesso efêmero: somente 878,6 mil seguidores. RPM é um grupo de um único repertório e com uma sonoridade também bastante efêmera. O Paulo Ricardo tem 742,7 mil e, pra mim, ele fez besteira em abandonar sua carreira de cantor romântico iniciada nos anos 1990 e que ia muito bem até ele resolver voltar com o RPM. Fez bobagem, mas esse abandono mostrou o quanto ele era frustrado com a carreira do seu grupo efêmero. Nem ele e nem Schiavon nunca foram compositores de mão cheia.

Os Paralamas do Sucesso - 4,6 milhões 
Cazuza - 3,8 milhões 
Titãs - 3,2 milhões 
Lulu Santos - 3,1 milhões 
Kid Abelha - 2,8 milhões 
Engenheiros do Hawaii - 2,7 milhões 
Capital inicial - 2,6 milhões 
Barão Vermelho - 1,8 milhão 
Nenhum de ós - 1,4 milhão 
Ira! - 1,4 milhão 
Biquini Cavadão - 967,2 mil 
Ultraje à Rigor - 492,6 mil 
Lobão - 372,4 mil 
Kiko Zambianchi - 352,1 mil 
Leo Jaime - 345,8 mil 
Plebe Rude - 311,6 mil 
Camisa de Vênus - 130,9 mil

Esses números explicitam algumas verdades, como o Camisa de Vênus com apenas 130,9 mil seguidores que mostra que o grupo nunca foi tão grande quanto Marcelo Nova prega por aí. Pelo contrário, o Camisa em nenhum momento da década de 1980 foi algo estrondoso, mas sim um grupo que lançou um bom 1º disco e só. O resto foi algo pontual, como a irrisória “Joana D’arc”. A cada lançamento, o grupo vendia menos. Inicialmente chamou a atenção pelo seu nome e por "Bete Morreu", isso em 1983, depois vieram outros tantos lançamentos que deixaram o Camisa pra trás.

Já o oposto acontece com o Engenheiros que sempre foi escanteado pelos grupos que se estabeleceram no eixo Rio-SP e pelos críticos “especializados”, mas que teve forte reconhecimento do público (que é o que interessa). Engenheiros, assim como Legião, tinha seus discos tocados inteiros pelas rádios e não à toa esta à frente do Capital Inicial que conseguiu 2,6 milhões de seguidores graças aos esforços do grupo após sua volta em 1998. Este número é resultado do que o Capital fez nos anos 2000 em diante, a partir do Acústico, e não é consequência de seu trabalho nos anos 80 que, assim como o Camisa, não era muito querido do público e da crítica. Após o 1º disco (seu melhor trabalho), o grupo também vendeu menos a cada lançamento.

Os 3,8 milhões de Cazuza certamente são fruto do que aconteceu com sua obra após sua morte, com a força da Globo, da ótima biografia lançada pela sua mãe e de seu filme. Digo isso porque durante seus anos de carreira ninguém ligava muito pra ele, pois as urgências eram outras, como Legião, Titãs, Paralamas, Engenheiros… Pouca gente estava interessada no discurso romântico do Cazuza e ele só ganhou notoriedade maior por causa das polêmicas em torno do HIV e da aids, infelizmente. Vi Cazuza duas vezes, uma ainda com o Barão e outra solo no Aeroanta (estreia da turnê Ideologia). A verdade é que ninguém ligava pro Cazuza até sua saúde começar a ruir e ele se tornar, por consequência, objeto de pautas duvidosas (como a famosa capa da revista Veja). Uma pena. Suas últimas gravações em estúdio foram feitas com ele deitado, por já não ter forças nem para aguentar seu frágil corpo. Um grande exemplo!

Um nome que me surpreendeu nesta lista foi o de Leo Jaime, mas muitos dos 345,8 mil seguidores tem ligação com suas participações em programas da Globo, como o Dança com Famosos. Longe de querer desmerecê-lo, mas sim sendo sincero, já que sua carreira nos anos 80 também não foi lá grandes coisas, apesar de alguns hits.

Olhei também os números dos principais nomes da Jovem Guarda e da geração 70:

Roberto Carlos - 5,9 milhões 
Rita Lee - 3,9 milhões 
Erasmo Carlos - 1,5 milhão 
Os Mutantes - 355,3 mil 
Jerry Adriani - 123 mil 
Os Incríveis - 115,6 mil 
Renato e Seus Blue Caps - 93,6 mil 
Golden Boys - 65 mil 
Wanderley Cardoso - 52,1 mil

Novos Baianos - 952,6 mil 
Secos e Molhados 799,8 mil 
Ave Sangria - 87,4 mil 
O Terço - 14,3 mil

Dessas listas têm Os Mutantes e Rita Lee que entram nas duas e me surpreendi com o número baixo dos Mutantes, pois achei que tivesse ao menos 2 milhões de seguidores já que o grupo é queridinho de todas as gerações e conhecido nos EUA e em alguns países europeus. Rita Lee, grandiosa, só perde para o rei Roberto Carlos, que é só um dos maiores compositores da música brasileira. Até achei que o rei fosse ter ao menos uns 20 milhões de seguidores.

Com relação aos outros nomes da Jovem Guarda, era de se esperar esses baixos números, já que ela foi uma cena isolada e não teve ligação com nenhuma outra cena roqueira brasileira. A JG foi um fenômeno efêmero e tipicamente sessentista e seus seguidores são, com certeza, velhos fãs. Gosto de muita coisa da JG, mas ela não interessa para a maioria dos fãs de rock brasileiro.

Em relação aos anos 1970, pouco se salva, já que foi uma geração marginal, com pouco espaço na mídia e muita desconfiança das gravadoras. Esses 4 nomes que listei (além de Rita e Mutantes) são os mais significativos em termos de números. Muitos outros grupos dessa geração sequer chegam a ter 2 mil seguidores. O Joelho de Porco, grupo ainda hoje bastante respeitado, ao menos tem 5.861 seguidores!

Os maiores nomes dessa década de rock psicodélico e progressivo eram Mutantes (já sem o artigo “Os”), O Terço e Rita Lee & Tutti Frutti. Eram eles quem mais lotavam shows, independente da cidade, e também os que mais vendiam.

Bem, pra ninguém dizer que sou preconceituoso, também dei uma passada de olho na geração pós anos 1990 (Ah! o Los Hermanos tem 2,4 milhões). Essa geração 2000 não considero como algo sério, mas sim como uma cena “café com leite”, até porque a qualidade dos grupos é extremamente ruim:


Pitty - 2,6 milhões
NXZero - 1,4 milhão
Restart - 598,2 mil
Supercombo - 591,9 mil 
Fresno - 438,3 mil
Strike - 388,8 mil
Forfun - 272,9 mil
Dead Fish - 139,5 mil
Cine - 133,1 mil

 

Pode me xingar por colocar o Restart e Cine junto com Dead Fish e Fresno, mas é que é tudo igual, tudo infantil, tudo muito bobo, muito clichê e de uma pobreza abissal. Lembro de uma amiga que vivia dizendo que Pitty nada mais era do que um livro tosco de autoajuda em formato de música.

Bem, como disse, eu não peguei TODOS os nomes, mas os mais significativos, os mais conhecidos e, com eles, dá pra se ter uma base da importância de cada um hoje. É bom lembrar que Legião, que lidera a lista da geração 80, é um grupo desativado desde 1996, ou seja, continua sendo o maior nome de sua geração e continua pagando as contas da EMI no Brasil.

15 de abril de 2025

Ira! e o Rock de Esquerda

Este recente episódio que aconteceu com o Ira!, por causa do preconceito de Nasi a quem pensa diferente dos integrantes da banda, é um bom motivo pra eu voltar a falar do que já escrevi aqui algumas vezes e até vídeo no YouTube já fiz: rock de esquerda não existe!

O bom é que, por conta do que aconteceu, surge junto um bando de gente que não consegue enxergar o que está bem em frente aos seus narizes. Aliás, segundo me disseram, o apelido Nasi é por causa de seu nariz, mas quem acompanhou o Ira! desde seu início (antes da exclamação), sabe que isso é pura balela e que o apelido vem por conta de seu pavio curto. Até pouco antes de lançar o 1º disco Mudança de Comportamento, o apelido era escrito com a letra “z”, era Nazi, no contexto de abreviação da palavra n@zist@. 

(Quem aí se lembra do episódio na Folha de SP, em 1984, quando Nasi partiu pra cima do jornalista Pepe Escobar?)

“Pobre Paulista” representa muito bem esse momento radical do grupo que se vestia como... bem, deixa pra lá...

Vou ser bem objetivo e claro porque, muitas vezes, nem assim certas pessoas conseguem entender.

Não existe rock em país comunista. Não existe sequer arte autoral em países comunistas. Tudo é o Estado! Na União Soviética, na Alemanha Oriental, na China, na Coreia do Norte, em Cuba, no Vietnã, em Laos existem ou existiram cenas musicais? Existem ou existiram gravadoras e selos independentes? Existe ou existiu mercado fonográfico nesses países? Quais os discos clássicos dos artistas autorais desses países?

Vou listar:  

União Soviética
Alemanha Oriental
China
Coreia do Norte
Cuba
Vietnã

Existe algum álbum de alguma banda ou artista solo que você gosta que seja Live in Russia ou Live in Xangai ou Live em Havana? Chico Buarque, Caetano Veloso, Maria Bethânia, Daniela Mercury, Gilberto Gil e outros artistas da Turma Rouanet já fizeram shows nesses países?

Os artistas que você gosta são desses países da lista acima ou são, em sua maioria, dos Estados Unidos e Reino Unido? Os artistas que você escuta nas plataformas de música, que você vai aos shows e que você compra camiseta são desses países da lista?

As gravadoras que produzem e distribuem a música que você ama são de gravadoras estatais de países comunistas ou são de gravadoras que estão em países do ocidente liberal capitalista?

A música que você escuta hoje, o rock, o pop e todas as suas vertentes existem graças ao mercado fonográfico dos países comunistas ou graças ao mercado fonográfico que estão nos países do ocidente liberal capitalista?

Se você contratar o Ira! ou qualquer um desses artistas que se dizem comunistas/socialistas e disser a eles que parte do cachê será doado ao MST e que eles ficarão hospedados em um hostel, você acha que eles vão aceitar? Será que no camarim deles basta uma aguinha, um cafezinho passado no coador e uns biscoitos? 

Os vídeos que Nasi, o ex-Nazi, publica nas redes sociais em que ele faz receitas gastronômicas que harmonizam com vinhos que ele indica, e os vídeos onde ele dá sugestão de filmes e séries, você acha que isso é coisa de socialista ou de burguês capitalista?

E os instrumentos e equipamentos? São comprados em lojas estatais de países comunistas ou em lojas do ocidente liberal capitalista? Fender, Gibson, Pearl, Roland, Rickenbacker, Ibanez, Marshall, Ampeg são de onde?

Todos sabem que o mercado fonográfico exerce um capitalismo selvagem e que tudo que gira em torno dele, inclusive ele mesmo, existe graças ao ocidente liberal capitalista. Então por que diabos há artistas e fãs que acham que são comunistas?

O que Nasi fez é completamente coerente com a ideologia que ele admira, pois o comunismo é autoritário, é preconceituoso, é censor e quer a eliminação de quem pensa diferente. Aliás, nada diferente das ditaduras “primas irmãs” do comunismo, digo o nazismo e o fascismo. Inclusive, Lenin e Stalin diziam que o fascismo era o progresso do comunismo marxista, mas tem muita gente que não está preparada para este fato, por exatamente desconhecer os fatos, ou sequer percebê-los. Para quem diz que o nazismo é direita, é só ler o nome do partido e ver a cor predominante de sua bandeira, além de ver o que o ditador de bigodinho fez com os empresários e empreendedores alemães e com quem pensava diferente dele. Essas ditaduras todas não gostam de quem pensa diferente.

Se você tem problemas em entender todo esse contexto, então te convido a procurar os bons livros que se baseiam em fatos e documentos, para poder entender a história. Assim você vai parar de abraçar e repercutir a opinião dos outros como se fosse sua (mas isso também é compreensível vindo de quem deseja um Estado que faça tudo pelo cidadão, inclusive pensar por ele).

O pior cego é aquele que não quer ver!

 

PS: O Ira!, por mais que tenha boas composições e bons álbuns, sempre foi uma "filial" do The Jam e extremamente influenciado por The Who, Kinks, Beatles e a cena Sixties! Todos artistas da União Soviética, ops, não, da Inglaterra!

24 de fevereiro de 2025

O Calendário do Rock Brasileiro

A ideia de publicar as efemérides do rock brasileiro surgiu logo após minha entrada na MTV Brasil, em setembro de 1993. Neste período analógico, as fontes para os textos escritos para os VJs vinham de um riquíssimo arquivo físico de conteúdo variado, e nele também havia livros estrangeiros apenas com datas do rock e do pop mundiais. Neles, estavam registrados lançamentos, shows e todo tipo de curiosidades possíveis do universo rock. Era uma fonte riquíssima de informação que gerava muito conteúdo, muito texto para o que chamávamos de “cabeça de VJ”, que eram os textos que eles falavam antes de chamar um videoclipe.

No 1º semestre de 2001, já fora da MTV, e com o livro O Diário da Turma 1976-1986 sendo diagramado e preparado pela editora, resolvi investir na pesquisa das efemérides e comecei a frequentar os bancos de dados de jornais atrás de material, pois naquela época ninguém ainda tinha arquivos digitais. Foi, literalmente, um investimento. De tempo e dinheiro. Além dos bancos de dados, comprei discos, revistas, livros, frequentei diversos sebos e também bibliotecas.

Desde então, até as divulguei publicando-as em blog e, depois, no Instagram. Uma enorme decepção. Ao invés do reconhecimento pelo trabalho, apenas roubo de informações, inclusive por parte de artistas, que poderiam ajudar na divulgação de um trabalho que valoriza sua história e sua obra, mas não.

Então, por volta de 2015, quando o rock brasileiro fez 60 anos, percebi que ninguém estava nem aí, nem mesmo os protagonistas, e abandonei tudo. Desisti de publicar e de continuar a pesquisa (que já estava mesmo mais lenta).

Eis que, juntando forças novamente, em 2024, resolvi retomar o projeto para lançá-lo em 2025, ano em que o rock brasileiro completa 70 anos. Graças também à tecnologia, que hoje facilita o trabalho independente. Assim, em paralelo com o último ano do meu mestrado, juntei todo material bruto que eu tinha pesquisado e que ainda não havia mexido, com novas pesquisas, e fiz de tudo para deixar este documento o mais completo possível. São mais de 1.800 datas reunidas e vindas das mais variadas fontes, a respeito de mais de 500 artistas, entre trabalhos solos, bandas, seus integrantes, festivais, filmes, álbuns de todas as cenas musicais do rock e pop brasileiros desde seu surgimento. De 1º de janeiro a 31 de dezembro, é um registro de acontecimentos que conta a história do rock brasileiro em seus menores detalhes.

É bom saber que a maior parte das efemérides, principalmente os lançamentos de álbuns clássicos e importantes, se concentram entre 1955 e 2000 mas, mesmo assim, há muitas datas de 2001 a 2024. Isso porque a ideia inicial era lançá-lo em 2002, então, a intenção era se concentrar na era pré internet. Como a ideia não vingou, a pesquisa continuou, mas com foco não nos lançamentos, mas nos acontecimentos gerais mais importantes.

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São vários os objetivos desta publicação, o principal deles, claro, é manter a memória viva. Hoje (2025), muitos dos nomes aqui presentes já estão esquecidos pela mídia e pelo público. Todas as fases do rock brasileiro são ricas em histórias, inclusive a primeira, entre 1955 e 1963.

O calendário do rock brasileiro vai manter os lançamentos, sejam eles clássicos ou não, vivos e revividos a cada ano. Toda vez que este livro for aberto por alguém em um dos 365 dias do ano, algum acontecimento, obra ou nome será lembrado e comemorado.

O Calendário do Rock Brasileiro foi também pensado para a mídia, as rádios, os podcasts, emissoras de TV, as produtoras de conteúdo que, com ele, terão material rico para trabalhar, porque aqui, conteúdo não falta.

Não há essa tradição da efeméride no Brasil. São pouquíssimas as datas históricas que comemoramos, algumas delas inclusive com distorções. Não à toa dizem que nós brasileiros não temos memória. Pelo que notei nessas décadas de pesquisa, isso também é culpa dos próprios artistas.

Alguns poucos deles, que publicam material comemorando esse ou aquele lançamento, fazem isso sem critério. Para uns vale a data de quando a gravadora recebeu o álbum pronto; para outros, o que vale é a data do show de lançamento; já a gravadora tem outras datas e os fãs-clubes outras diferentes. Outro dos objetivos deste livro é exatamente padronizar essas datas de lançamentos seguindo critérios. Seguindo uma lógica.

Se a história de nosso país é ignorada, o que dizer então da história da cultura jovem brasileira!? Por conta desse desdém – inclusive da mídia especializada – a maior parte dos acontecimentos históricos são ignorados. Pra não dizer totalmente ignorados, há datas clichês sempre comemoradas, como o nascimento e a morte de Renato Russo, Raul Seixas, Chico Science e Cazuza. Para a mídia brasileira, isso já basta. 

Em relação aos artistas, infelizmente, é a mesma situação, o mesmo desdém. Por isso, essa bagunça acaba por gerar falta de interesse pela história. Então, como não há uma padronização em relação às efemérides que envolvem o rock e o pop brasileiro e seu universo, resolvi, eu mesmo, criá-la. Não ao meu bel prazer, claro, mas de acordo com critérios que seguem uma lógica, explicada e detalhada mais adiante.

Evidentemente não são todos os acontecimentos e lançamentos do rock brasileiro que estão registrados, mas a grande maioria. Os clássicos sim, estão todos no Calendário, de todas as décadas desde 1955.

Esta pesquisa se preocupou, primeiramente, com os principais nomes de cada cena. É uma pesquisa que buscou os nomes mais populares dentro deste universo. Porém, em todos esses períodos, desde o início dos anos 1960, existe a cena alternativa - também conhecida como underground - que pode não ter chegado ao grande estrelato, mas que foi de suma importância, não só com alguns dos lançamentos, como também com personagens que se tornaram importantes com o tempo, sendo produtores, executivos e compositores. Então, ao dizer “nomes mais populares”, isso também serve para a cena alternativa / independente / underground, seja da Jovem Guarda, dos anos 1970 e da Geração 80. 

Já a cena alternativa dos anos 1990, com o aumento no número de artistas e selos independentes, como dito, a pesquisa seguiu o critério inicial de privilegiar o que foi mais relevante, seja mainstream, seja alternativo. No caso da cena alternativa das bandas que cantavam em inglês no início da década de 1990, ela não foi pesquisada; assim como toda a cena heavy metal ou toda a cena punk / hardcore, mas que tem aqui os principais nomes, principais lançamentos e principais acontecimentos. 

Certamente não há datas de todos os lançamentos de todos os artistas do Brasil, assim como não há todas as datas de nascimento e óbito de todos os músicos de todas as bandas. Evidente, isso seria praticamente impossível

Em um país que não se importa com história e com o passado, não é fácil ir atrás dos fatos, por isso, este não é só um trabalho de pesquisa, mas também de investigação. Muitas datas exigiram apurações e busca por detalhes que levaram dias para serem confirmadas ou para ter a informação completa. Aqui há datas que são verdadeiros tesouros e que, com o passar dos dias, você as encontrará.

Importante saber que este é um trabalho solitário, em todas as suas fases (inclusive edição e impressão), e que se iniciou em 1998.

O que me fez retomar esta ideia em 2024, foi o fato de o rock brasileiro completar 70 anos em 2025. Para comemorar esta data redonda, nada melhor do que algo inédito, divertido e único.

É o Calendário do Rock Brasileiro.

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Autor: Paulo Marchetti

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