27 de outubro de 2014

Rock Brasileiro: 5 - Parabéns aos 59 Anos do Rock no Brasil

Parabéns ao rock brasileiro pelos seus 59 anos!

E lá se vão quase seis décadas desde que Nora Ney gravou o primeiro rock aqui no Brasil. E pra quem gosta de dizer que não existe rock no Brasil, é prato cheio falar que o primeiro rock gravado aqui foi cantado em inglês. A música gravada foi “Rock Around the Clock” e o motivo era o lançamento do filme no país. A gravação aconteceu em 24 de outubro de 1955 e, pouco mais de um mês depois, o compacto estava em primeiro lugar em vendas no eixo Rio-SP.

A data é até legal, mas se tivesse alguma importância para alguém. E veja só como são as coisas: postei no Facebook um pequeno texto a respeito dessa data, um amigo que mora em Londres compartilhou escrevendo um texto em inglês e veja só, os ingleses curtiram muito mais a história do que os brasileiros. Não só curtiram como também fizeram ótimos comentários.

Casa de ferreiro, espeto de pau.

O rock no Brasil pode ter uma história toda cheia de buracos, como já escrevi aqui, mas é recheada de coisas boas e fatos importantes.

Quando o país passava por uma transição entre o regime militar e a volta da democracia, era o rock a bola da vez. Foi ele que ajudou a levantar a bandeira para a reconquista da liberdade de expressão.

Muitos podem me xingar, aí é uma questão de gosto, mas não sou muito chegado a jovem guarda. Ela teve sim sua importância, mas ao meu ver foi uma importância efêmera, que serviu para aquele momento. Não deixou legado. São poucos os artistas que surgiram pós JG que se dizem, de certa forma, influenciados por ela. Lembro de ver Roberto Frejat, Roger Moreira e mais um ou outro falando dessa influencia, mas certo é que, mesmo sem ela, essas bandas iam existir. Ou seja, há a influencia, mas não é fundamental para a música que fizeram ou fazem.

Tirando as composições da dupla Erasmo e Roberto Carlos, não se houve dizer sobre a influencia de outros artistas. Nunca vi ninguém dos 70 ou 80 dizer sobre Vips, Jerry Adriane, Renato e Seus Blue Caps, The Fevers, Deni e Dino, Os Incríveis, Martinha ou Wanderléia.

Não estou querendo ser grosso ou desmerecer, apenas atesto um fato. O underground da jovem guarda tinha coisas bem interessantes.

O rock progressivo / psicodélico brasileiro, que veio logo a seguir, não teve qualquer influencia da geração anterior. Gravadoras, mídia, locais de shows e ensaios, programas de TV ou rádio... Não houve qualquer ligação entre uma geração e a outra.

A mesma coisa aconteceu entre a geração 70 com a geração 80. Não houve qualquer ligação, a não ser o fato de muitos músicos dos 70 tentarem a carreira também nos 80 com novas bandas e propostas. Lulu Santos, Lobão, Ritchie e Herva Doce, entre outros, são bons exemplos de nomes dos 70 que invadiram os 80. Certo eles que logo perceberam a mudança de comportamento vindo com o punk, pós-punk e new wave.

Ligação de fato existe entre a geração 90 com a geração 80. Da geração 90 ouve-se ela se dizendo influenciada por diversas bandas dos 80, inclusive as do underground, como Fellini, Smack e Mercenárias.

Gravadoras e mídia especializadas nunca se preocuparam com a história. Sempre se preocuparam, sim, com o momento, sem pensar em passado ou futuro. Em um país pobre como o Brasil, fica difícil se preocupar com a história, principalmente em se tratando de cultura pop. Se coisas mais relevantes, como política e comportamento, são deixadas de lado, imagine então as artes!?!?!

Trabalho com algumas pessoas que tem entre 22 e 28 anos. Nenhuma delas conhece e nunca ouviu, por exemplo, “Rock da Cachorra”, de João Penca e Eduardo Dusek. Mas não só isso, não conhecem músicas fundamentais do repertório de Titãs, Cazuza, Barão Vermelho, Ira!, Paralamas. Eu fico embasbacado com isso.

Mas muito disso não é só culpa das pessoas que não procuram saber da história, é culpa da mídia e outros veículos. Culpa das gravadoras que não fazem a mínima questão de preservar seus acervos, deixando de relançar discos fundamentais para nossa história (mais uma vez aqui enalteço o trabalho feito por Charles Gavin, não só ao rock, mas a toda mpb!). Culpa das rádios, revistas, sites e jornais que não estão nem aí para a história do país, preferindo a comodidade de apenas lembrar o básico como a morte de Cazuza, Raul Seixas, Renato Russo, Chico Science (sempre morte!). Em relação as coisas do nosso país, elas se restringem a apenas essas datas, porque em se tratando de EUA e Europa, tudo é lembrado: de Michael Jackson a Kurt Cobain tudo é comemorado por aqui, mas não só a morte deles, mas sim lançamento de discos e outras datas históricas. Todos, claro, comemoram o dia 13 de julho, dia mundial do rock.

A desculpa é sempore a mesma: mas é isso que as pessoas querem ver. Mas as pessoas só querem ver isso porque é só isso que se mostra! Nesse caso, justificar a comodidade é o cúmulo do desdém e da preguiça.

Como mostro aqui no Sete Doses de Cachaça, a história do Rock Brasileiro é muito mais que meia dúzia de datas comemorativas. Curiosidades e fatos marcantes existem de montes, mas a comodidade toma cada vez mais conta de quem pode fazer algo pela história. As redações e produções estão cada vez mais cheias de gente que nada sabe, e isso muito por conta dessas faculdades de fundo de quintal que tomaram conta do país. Hoje a cada esquina há uma faculdade e delas saem péssimos profissionais.

A história do rock brasileiro é rica e cheia de fatos bacanas, pena que ninguém saiba aproveitá-los.

Hoje estamos nas mãos da Geração Copy Paste e, pelo que parece, ficaremos assim por muito tempo.

PS: Será que ano que vem algum veículo especializado irá comemorar, de alguma forma, os 60 anos do rock brasileiro? Duvido, até porque essa data é desconhecida, sempre fora ignorada e apenas eu lembro dela.


Um comentário:

Edu Verme disse...

Ando lendo o sete doses de trás pra frente pretendendo ler tudo, até o primeiro post. Gosto muito dos teus textos cara.
Engraçado chegar nesse e me pegar pensando que a até muito pouco tempo atrás ainda se pensava em relancar discos clássicos. Creio que até se fale ainda, mas não vejo muito, na verdade a música abandonou o meio físico e estamos agora reféns dos gostos pessoais para que música boa continue sendo conhecida. Explico melhor: só a pessoa digitando no YouTube e procurando por si mesmo. É bom, pra quem ouve. É ruim pra quem vive disso. E nunca terá mais um artista que seja forte o bastante a ponto de smter um reconhecimento aos moldes antigos. Até porque poucos realmente se interessam a ponto de digitar lá no tal site.

Os tempos mudaram e estamos velhos.
Mas é assim que a vida é. Os que vem depois também acharão que não sabemos de nada e talvez saibam mais que nos. Mas uma pequena parte. O resto está dormindo até a hora de morrer.

Abraço.