9 de junho de 2013

Jornalismo, Tecnologia e os Novos Tempos

Nesses últimos meses houve um número alto de demissões em massa em algumas redações de jornais impressos e seus sites. Alguns falaram em passaralho, mas não sei se chega a tanto. Claro que demissão é algo agressivo, mas a vida é assim e isso não acontece só com jornalista. Vi muitos deles choramingando (desculpe o termo) a respeito desses ocorridos, dizendo injustiça, quase a ponto de dizer que sem o jornalista o mundo não anda. Está certo, claro, óbvio, não é nada agradável ser mandado embora, mas todos estão sujeitos a isso, seja um auxiliar de obra ou um alto executivo de multinacional.

O mercado está mudando mais uma vez, assim como mudou no boom da internet. Outras ferramentas estão se adequando ao dia a dia do público / consumidor. A tecnologia facilita a vida de todo mundo a ponto de ninguém mais conseguir imaginar o mundo sem telefone móvel e internet, mesmo estando essas criações há pouco mais de 10 anos em nosso cotidiano. Vivemos a Era Jetsons. Logo os carros estarão voando.

A televisão há alguns anos sofreu certas adaptações. Assim que foram lançadas câmeras como a PD150, que chegou ao mercado brasileiro por volta de 2002, o jeito de fazer televisão mudou. Antigamente eram as betacam que pesavam de 8 a 13 quilos, operava-se essa câmera apoiando-a no ombro. Hoje, com essas câmeras pequenas, tudo ficou mais ágil, e infelizmente foram perdidos os recursos que se faziam com a câmera no ombro. Se ganha por um lado e perde-se por outro.

Todos os operadores de câmeras tiveram que se adequar a esse novo equipamento. TODOS. Mudou também a forma de editar e finalizar um projeto. As ilhas são digitais, praticamente não há mais ilhas de edição analógicas. Em 1998 editei todo o Monsters of Rock em um Avid e saí da edição falando que nunca mais iria usar uma ilha digital. Achei a experiência horrível. Hoje vejo que era questão de costume e aprendizado. Tanto meu quanto do editor/montador.

Mais uma vez a forma de se noticiar os fatos está mudando. Dois meses atrás conheci um dos sócios do incrível site Omelete e ficamos conversando por horas. Hoje a pessoa não quer mais perder muito tempo na internet. Na verdade nunca quis, mas agora menos ainda. Em 2001 já era sabido que os textos de sites deveriam ser menores, hoje diminuíram mais e, mais ainda (ou pior), atualmente se dá preferência para o vídeo, para não precisar ler.

Em 2012 passei quase três meses dentro de um grande grupo de comunicação, contratado para fazer alguns vídeos internos. Fiquei boquiaberto de ver o quanto a empresa está perdida em meio a tantas ferramentas. Não sabe para onde correr. Ao mesmo tempo em que se perde leitores, também não entende o funcionamento das ferramentas atuais. Percebo que há pessoas que querem que a nova ferramenta se adeque a elas e não o contrário. Há muita briga entre essas empresas de tecnologia. Quem inventa o quê? Quem é dono do quê? Quem pode usar o quê? Bobagem. O público / consumidor não se importa com isso, apenas quer usar.

Em vídeo, por vezes, somos obrigados a reduzir ao máximo a equipe de gravação. Hoje há quem opte por contratar um operador de câmera que também faça o áudio. Eu mesmo já tive que fazer isso. Claro que a qualidade do trabalho cai vertiginosamente. Isso é culpa de pessoas ignorantes que não entendem o motivo do custo de uma gravação, por mais simples que seja.

Há empresas que estão tentando investir mais na internet, mais em vídeo. Há profissional que trabalha com a parte impressa e pensa que pode dominar o vídeo e inernet numa boa. É soberba. É o mesmo erro que pensar que quem faz publicidade, faz televisão.

Sei de redações que tem pequenos estúdios, equipamento legal, e até switcher, mas é pouco usado ou nada usado por ser bicho de sete cabeças para muito jornalista. É errado achar que um jornalista pode operar câmera, operar o áudio, editar e finalizar uma matéria e, além de ter feito tudo isso, ainda ter que fazer matéria escrita. Assim só se puder ser algo bem ruim, meia boca, aí tudo bem. O pior é que há quem pense que deva ser assim.

A tecnologia permitiu o baixo custo. Não importa se a imagem é de celular de baixa qualidade, se alguém conseguiu pegar imagem da notícia do momento, é ela que vale. Nem sempre foi assim. O antigo Aqui e Agora ajudou nessa mudança.

O ruim é que mesmo o equipamento profissional está, de certa forma, fácil de manusear, mas em termos. Digo fácil porque há o maledeto botão automático que faz qualquer pessoa acreditar que pode operar uma câmera. Imagine essa pessoa tendo ainda que cuidar do áudio. Até arrepia a espinha. O contratante, para economizar 500 ou 700 reais, prefere fazer algo que talvez nem dê pra usar, do que fazer algo seguro e profissional.

Jornalistas colegas foram arrancados das redações. Isso é comum no mercado de televisão. Nesses últimos meses na Record tiveram alguns cortes em massa, tanto em SP, quanto no RJ. Esses cortes vêm acontecendo há anos. No SBT volta e meia pessoas saem e voltam. Na TV Cultura, Band. Ninguém escapa de ajustes. Dançando conforme a música. A MTV, que oficialmente vai sair da Abril, portanto vai acabar (pelo menos o que ela era), também tem feitos cortes nos últimos anos e em breve haverá outro, mas dessa vez gigantesco.

A tecnologia obrigou ajustes e mudanças na publicidade, no marketing, na música. São muitos os mercados. Em certos lugares diminuiu-se o número de funcionários e em outros aumentou.

É o mercado se ajustando aos novos tempos. Não há porque chorar. Eu sou free lancer desde 2002, vivo as oscilações na pele, e sei bem o que falo. Não há tempo para choro. Se mudanças estão acontecendo, então é preciso ficar atento, observar e entrar no ritmo. Na minha vida é assim: tem dia que estou em um projeto gigante comandando 300 pessoas, e no outro, estou com uma câmera na mão fazendo tudo ao mesmo tempo agora. Normal.

Cheguei a ficar assustado com algumas coisas que li em blogs. O jornalista não pode se achar diferente ou intocável. Ninguém é diferente ou intocável.

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