2 de outubro de 2012

A História Esburacada Do Rock Brasileiro


Outro dia, conversando com amigos sobre Planet Hemp e Raimundos, perguntei pra mim mesmo: qual o legado que a geração 90 deixou para a geração seguinte? Voltemos décadas...

A jovem guarda não foi influencia para a geração 70 e pouco (bem pouco) influenciou a geração 80 (a urgência era outra). A própria JG era 100% influenciada pelo rock inglês e americano. Pela dificuldade de se chegar discos importados, muitas das bandas faziam versões nacionais de grandes sucessos estrangeiros. Dos anos 60 só mesmo a Tropicália foi influencia certa tanto para a década de 70, quanto à de 90.

A geração 80 se debruçou na new wave e no punk rock. Mesmo nomes que vieram dos 70 como Lobão, Lulu Santos, o pessoal do Herva Doce, Rádio Taxi entre outros, todos eles acabaram por incorporar a música pop de curta duração e refrão chiclete. Só depois, mais tarde, em seus 3º, 4º discos é que as bandas dos 80 foram colocar elementos nacionais em sua música. Mas mesmo assim esses elementos não tinham ligação alguma com qualquer geração anterior do rock brasileiro. 

Veio à geração 90 e, com ela, a mistura do rock e ritmos brasileiros acabou por se tornar um norte. Isso já nos primeiros trabalhos do Skank, Raimundos, Chico Science e Nação Zumbi, mundo livre s/a, O Rappa, Planet Hemp e Pato Fú. Todos eles citavam artistas brasileiros, de Os Mutantes e Roberto Carlos a Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga. Mas além dessa assumida influência da música brasileira, essa turma também citava as bandas dos 80: Legião, Titãs, Barão Vermelho, Ira!, Cazuza e Lobão. CSNZ até gravou Fellini! Ainda não consegui entender o motivo, mas a influência da jovem guarda sempre foi muito mais forte no Sul. (já vi Lulu santos e Frejat falar de jovem guarda)

Passada a geração 90, não veio mais nada. Artistas surgiram, mas não mais como uma cena que cresceu e estourou como nos 80 e 90. A partir de 2000 acabou essa coisa de cena, de surgir várias bandas boas de uma só vez, e conseguir um espaço considerável na mídia. O que aconteceu foi um CPM22 aqui, uma Pitty ali e um Los Hermanos acolá.

Hoje não existe uma nova cena que possa falar de suas influências e acredito que não terá mais esse tipo de coisa. Pelo que vejo, hoje está mais para “cada um por si”. Há sim uma cena nova, mas é da MPB e, de todo mundo que se fala, destaco apenas Tulipa Ruiz, que é fera mesmo! Outros nomes, mesmo que bem falados no meio, ainda não mostraram nada que tenha personalidade. Vejo em alguns veículos algumas tentativas de se lançar um ou outro nome novo, mas se não tem força, personalidade e carisma, não há marketing que resolva.

Da geração 90 as únicas bandas que vejo pessoas mais novas citarem são Raimundos, Chico Science e, de vez em quando, Planet Hemp

Só quero mesmo é filosofar sem conclusões, jogar palavras no ar para provocar o raciocínio. O que acontece com o rock brasileiro é que aqui não há uma continuidade. Digo das gravadoras investirem sempre em artistas novos de qualidade, de não existir publicações especializadas de longa vida (como há lá fora a Rolling Stone, NME, Billboard e outras). Ficou buracos na história por essa falta de investimento. É culpa de alguém? Acho que não. É ruim e é por isso que você bate o olho nas paradas das rádios e não vê nenhum novo nome. E pensar que já tivemos rock brasileiro até em abertura de novela em horário nobre. 

Mas também tem o seguinte: está difícil de achar alguma coisa com ao menos 10% de qualidade e assim fica beeeem difícil. Até já citei um ou outro nome que acho legal, mas acaba que não acontece nada.

Agora é só aguardar a chegada de uma nova não geração.







4 comentários:

Eduardo disse...

Ola Paulo, cara fiquei curioso, qual ou quais rock brasileiro ja foi abertura de novela ?

Paulo Marchetti disse...

Oi Eduardo. Já teve o Magazine na abertura da A Gata Comeu, o Ira! com Flores em Você, a Gang 90 com Louco Amor e gal Costa com Brasil (apesar de ser Gal Costa, o que ela canta é um rock), Ritchie com Casanova e Ultraje com Pelado.
Agora nas trilhas, fora da abertura, já tivemos de tudo: Blitz, Titãs, Legião, Barão, Cazuza, Capital...
abç

M.Tadeu disse...

Oi Paulo, gosto muito do blog, concordo com sua idéia sobre o andamento do rock no Brasil e influências... acompanhei o "desabrochar" no inicio dos anos 80 e aquele "bando" de bandas que surgiu, as boas que ficaram...parecia com as boas bandas dos 90 que a coisa não ia parar mais, mas sinto que agora meu filho não tenha, como eu tive, bom rock brasileiro prá curtir...fazer o que.
abraço

Paulo Marchetti disse...

Oi Marcelo. Pelo menos temos essa certeza de que o que é bom fica pra sempre. Vimos coisas boas, vimos ótimos shows, ótimas letras...
abç