10 de novembro de 2011

Rock Brasileiro: 1 - Reflexões {1}



O Terço
Preconceito. Ainda hoje há preconceito com o rock brasileiro, mas atualmente há motivo. Foi isso que pautou a década de 1980, quando o rock chegou ao mainstream.

Preconceito porque era mal gravado, mal produzido, mal tratado. Foi na onda. Era o que dava um bom dinheiro na época, assim como o sertanejo universitário hoje, e o pagode de outros tempos. “Tem uma música boa? Então gravaí, e solta pra vender. Se pegar, legal. Se não pegar chuta fora”. As gravadoras tinham seus genéricos. Todas elas procuravam a sua Legião Urbana, o seu Paralamas, o seu Titãs ou o seu Barão Vermelho. Assim não tinha jeito: era um festival de coisa ruim na televisão e no rádio. Eram 700 nomes para ter 3 bons. Mas o preconceito também era alimentado por jornalistas arrogantes, mas esse é assunto para outro post.

As honestas foram poucas, e também sofriam para gravar seus discos. O 1º do Titãs, do Barão, da Legião, do Paralamas, do Kid Abelha, Camisa de Vênus, Capital Inicial, Engenheiros. Todos sofríveis e todos com suas histórias de luta. Apesar de clássicos, tudo ruim, gravado na raça, que no final das contas não agradou banda, produtor e gravadora. Essa má qualidade gera preconceito. O sonzin chinfrim, radinho de pilha, manja? A culpa não era das bandas, mas o sonzin chinfrim ficou.

Ultraje à Rigor
Algumas conseguiram tirar um bom som, ou por milagre, sorte, algo diferente aconteceu. Por exemplo, gosto demais do 1º disco do João Penca, “Os Maiores Sucessos...”, lançado pela Continental. Ainda hoje o acho bem gravado. Sei que não foi nada fácil, até mesmo trabalhar esse disco numa gravadora diferente, e ainda em 1982. Tem Ira!, Plebe Rude, Gueto, Ultraje, Blitz e outros poucos exemplos de 1º discos bem gravados, ou ao menos com qualidade acima da média na época.

Dificuldade pior foi a década de 1970, com o rock completamente no ralo, feito na unha, com amor, mas absolutamente de canto, apesar dos festivais, dos shows, dos discos lançados, e até filmes, como o Geração Bendita. A ditadura proibia festivais em SP, RJ e onde podia. Apesar disso, as coisas aconteciam, e há discos ótimos que marcaram, como Secos & Molhados, Os Novos Baianos, O Terço, Joelho de Porco, Os Mutantes, Bixo da Seda, Casa das Máquinas. Como nos 1980, tinham que se virar com ou sem gravadora. No caso dessa década de 1970, engraçado que os discos, mesmo os mal gravados, não soam tão ruim como os dos 1980, talvez por não ter o som de tecladinho new wave efêmero. Os timbres também contam muito, e como os próprios músicos faziam tudo (até mesmo o estúdio – quando havia!), então o som tinha um cuidado melhor. Ah! Muitos dos casos também não havia a pressão de fazer para vender zilhões. Não era por isso que os discos eram gravados.

Raimundos
Com o tempo, alguns dos músicos que faziam rock nos 1960, 1970, 1980, passaram a trabalhar nos bastidores, muitos como produtores, donos de estúdio, executivos, e aos poucos foram se equipando para gravar de jingle e MPB, até rock e pop. Isso ficou mais aparente a partir da segunda metade dos 1980.

Outro grande problema do rock brasileiro feito nos 1980 era a forte influência dos EUA e Reino Unido. Poucas eram as bandas que conseguiam escrever em português tendo essas influências gringas. Cantar em português é difícil. Não eram todas as bandas que tinham um bom texto com uma boa composição entre letra e música. Mas fundamental de tudo isso era ter personalidade. Nem preciso listar aqui as que tinham.

É nesse negócio de influência que a geração 1990 se assemelha a geração 1970. A brasilidade, o choro, o forró, a MPB, o folclore – e nos 2000 a bossa nova incorporada.

Agora acontece o contrário, muitos artistas da nova MPB incorporaram o rock, voltou-se a fazer rock / MPB / bossa / psicodelismo. Atualmente se vê uma ultra mega influência de Tropicalismo e da MPB-1970.

Nevilton
O forrócore do Raimundos e o mangue beat de Recife pautaram a década 1990. Também passada a era xixi-coco Collor, aconteceu à estabilidade da moeda e as gravadoras investiram novamente no rock, mas dessa vez com bons estúdios, bom equipamento, produtores e executivos que ao menos já entendiam melhor do negócio. A maioria dos discos feitos a partir de 1994 tem ótima qualidade de produção e gravação, alguns podem derrapar na mixagem e masterização, mas não todos, e isso não acontece mais hoje.

Apesar de a música brasileira estar bastante presente no rock brasileiro, e ele não ser mais uma mera cópia do que é feito nos EUA e Reino Unido, ainda há resistência até mesmo do jornalismo especializado – já falei desse assunto aqui. Jornalistas gostam de reclamar da falta de novidade e quando aparece um raro nome bom, ele também é posto no mesmo saco das coisas ruins.

Vemos festas como a do Multishow, da MTV e outras, e é a mesma coisa, os mesmos artistas, as mesmas apresentações ao vivo, o mesmo formato, as mesmas homenagens. Porque a Tulipa não fez uma apresentação solo? Por que não chamaram o Nevilton pra fazer um som? Há espaço. Porque nenhuma revista faz uma boa entrevista com esses novos nomes em destaque? Não faz uma matéria de 4 páginas, contando tudo, depoimentos, mostrando o perfil e depois pode até se gabar de dizer que foi a primeira, coisa e tal. Porque não se dá capa para esses artistas? Põe todos juntos! Custa uma só capa? Uma só boa matéria?

Barão Vermelho
Pode ser Pop, Pipoca Moderna, Som Três, Roll, Bizz, Revista da MTV, Rolling Stone, Billboard e muitas outras que não citei. Pegue todas elas e me mostre uma que tenha colocado uma aposta na capa ou dado um relevante destaque para algum nome. Tudo isso é uma pena.

Apesar de gostar de nomes brasileiros que estão no mainstream (citei alguns aqui), não são todos que aceito. Gosto muito, como já escrevi, dessa cena pós-punk brasileira; do punk rock do Cólera, RDP, Olho Seco, Inocentes, Lixomania. É muito bom poder escutar, por exemplo, um Cadê as Armas?, um Tente Mudar o Amanhã, um Corredor Polonês, um Panis Et Circences, um Acabou Chorare ou um São Paulo 1554 / Hoje.

Com a situação atual (O Rock Está Morto!...) é impossível saber se ainda teremos uma cena brasileira como foi em 1980 e 1990. Com tamanha falta de apoio, está cada vez mais "cada um por si e Deus por todos".







2 comentários:

Erick Blur disse...

Bom dia Paulo...!

Primeiramente, que lhe dar os parabéns por este blog que esta muito bom... ótimas postagens, ótimos textos, bem caprichado mesmo...

Comentando o assunto: Infelizmente tenho que concordar com você. Hoje vivemos uma crise fonográfica, não só no Rock, ou no Metal...

Essa questão do apoio para as bandas, e para os músicos em geral, é uma questão bem velha, até mesmo na época em que tínhamos muitos grandes nomes na cena. O que acontece é que, como você disse, esta "cada um por si e Deus por todos"... Quantas bandas boas temos no cenário independente? Muitas. Mas quem tem o poder de divulgação nos principais veículos? Os mesmos donos de gravadora do passado, que priorizam somente (principalmente na atualidade) o lucro e as vendas.

Só discordo no ponto das influências externas. O Rock Brasileiro, sempre sofreu influência dos EUA e Reino Unido... é quase como se fosse uma dependência, ainda mais agora essa coisa da mistura de musica clássica com música eletrônica com um pouquinho de Rock, que se originou na Grã-Bretanha, é o que as bandas atuais mais gostam de fazer, sendo mais claro, as bandas adoram essa coisa de ser alternativa, indie, britpop, e blablablá... fora disso, o rock não existe atualmente...

E mais uma vez parabéns pelo belo blog...!
http://song-2-pop.blogspot.com/

Paulo Marchetti disse...

Obrigado pelas palavras Erik! Sem dúvida, o rock sempre terá a influência dos USA e Reino Unido, um criou e o outro aperfeiçoou. o que quis dizer é que nos 1980 essas influências eram mais diretas com quase nada ou nenhuma influencia de música brasileira.
O próprio Nevilton que citei no texto ganhou revelação no prêmio Multishow, mas do que adianta se não há continuidade? Tem clipe da banda na programação, ela participa dos programas produzidos pelo canal, há divulgação de shows da banda lá?
Mais uma vez agradeço os elogios.
abç