1 de outubro de 2010

O Mercado Fonográfico do Planeta Kapuf

Existe um planeta chamado Kapuf, que fica a 12 galáxias de distância daqui e lá seu sistema é bem parecido com o nosso, inclusive o mercado fonográfico. Porém nessa área Kapuf já avançou.

Lá, assim como aqui, houve muita briga por causa de downloads não pagos, trocas de arquivo, e também chegaram ao cúmulo de prender e culpar o próprio consumidor pela incapacidade das gravadoras em lidar com o assunto.

Mas desde que os principais empresários das grandes corporações e do mercado independente se reuniram por uma semana para tomarem decisões sobre o que fazer para ninguém ir à falência, tudo mudou para melhor. As medidas tomadas e idéias levantadas durante esses dias de reunião deram um novo ânimo para o mercado. Tudo ficou mais leve. Todo mundo ficou feliz. Todo mundo saiu ganhando, até mesmo quem não tem nada a ver com o mercado musical.

Como tudo na vida, houve um investimento inicial, para depois vir o lucro.

Primeiramente, antes do anúncio ser feito, todas as gravadoras e selos já prepararam alguns downloads. Jogada de marketing que abriu essas páginas gratuitas dois dias antes do anúncio oficial. Deu buchicho na imprensa, e depois vieram com a notícia.

O mais importante foi o compartilhamento de idéias, que trouxe a facilidade de se ter a mesma ferramenta para as diversas empresas. Nesses primeiros anos de contrato assinado entre elas, o mesmo dado de usuário era dividido por todas. Você fazia um único cadastro para liberar os downloads e todas tinham acesso a ele.

As gravadoras e selos investiram e renovaram em seus departamentos comerciais e de marketing, porque foi essa parceria entre empresas que possibilitou o download gratuito. Grosso modo, se você, por exemplo, for fazer um download de um álbum do U2, é obrigado a entrar em uma página comercial, ver logomarcas e propagandas para depois baixar o arquivo. 

Aos poucos outras idéias comerciais e de marketing foram alimentando essa parceria entre empresas do mercado fonográfico com empresas das mais diversas. A parceria também permite que a empresa parceira hospede o download, além de fazer ações com os artistas.

Ao longo do tempo essa parceria foi se subdividindo. No início você assistia propagandas para acessar o artista, depois foi para cada álbum, e também para cada música. Para cada produto um parceiro comercial (ou não). Como é no futebol ou Fórmula 1, com os uniformes cheios de marcas.

Com os downloads oficiais as gravadoras e selos fazem promoções e sorteios com os IPs que mais acessam as páginas oficiais. São desde um simples encontro com um artista, um fim de semana com acompanhante em algum paraíso, um show especial, participação em gravação, discografias completas. Assim o consumidor passou a ser estimulado a baixar sempre no site oficial. Esse tipo de promoção e sorteio acabou migrando para os compradores de CD, o que ajudou no crescimento na compra do produto. E por falar em produto, com a liberação do download criou-se um novo e de grande sucesso: O Pen Drive do artista, que você compra, ele vem em uma caixa especial e nele há diversos arquivos além das músicas: fotos, wallpapers, biografia, mov com clipe e making of, brindes, desconto em shows. Quanto maior a memória do Pen Drive, maior a quantidade de arquivos adquiridos. Tornou-se item de colecionador.

As gravadoras também passaram a organizar constantemente shows e festivais com seu próprio casting. Esses eventos passaram a ser mais baratos, uma vez que as gravadoras não pagam cachê aos artistas, mas sim um percentual da vendas de ingresso. Assim o público comparece em maior número e aproveita outras áreas de entretenimento montadas nesses eventos. Essa maior atenção ao consumidor faz com que ele, apesar de fazer o download gratuito, consuma outros produtos como camisetas, pen drive, posteres, celulares, tudo produzido pelas próprias gravadoras. O consumidor também é estimulado, através de diversas ações e promoções, a ir aos shows. Todo mundo fica feliz. Todo mundo sai ganhando.

Com esse novo esquema de download gratuito as emissoras de televisão criaram novos prêmios: artista mais baixado do ano, música mais baixada do ano, rap mais baixado do ano, independente mais baixado do ano, Pen Drive mais vendido e, finalmente, download do ano.

Essa medida também aliviou o artista da obrigação de se lançar um álbum completo a cada ano. O lançamento pode ser apenas uma música, três músicas, cinco músicas, ou um álbum completo. O tempo de cada contrato com empresas parceiras variam por obra ou por tempo determinado. Dessa forma, não há mais a preocupação em ter que fazer ao menos dois hits por ano. Acabou aquela coisa que era comprar um álbum de quinze músicas por causa de apenas duas. 

Quando um artista lança músicas soltas, os fãs já sabem que vem coisa boa, porque se o artista lança solto, ou é porque vale muito a pena ou é algo especial – como uma gravação com participação especial. Então, depois de um período com todos os artistas lançando álbuns focados em, no máximo, quatro músicas, a qualidade nas composições de um álbum completo melhorou. Um ótimo lançamento tem vida mais longa.

Desde então as gravadoras espalharam máquinas de download por todas as cidades. Máquinas que você pluga seu tocador de mp3 e coloca a música que quiser. Elas estão em supermercados, shoppings, estádios de futebol, shows e festivais. Sempre em um display com patriconadores e parceiros comerciais.

Há uma tela, você coloca sua senha, coloca os artistas que quer em seu tocador e pronto. Da mesma forma que em um download normal, você vê logomarcas e propagandas. Em Kapuf, no verão, até mesmo na praia tomando sol você pode baixar músicas com os garotos e garotas que ficam andando pela areia com um lap top na mão e com camiseteas cheias de logomarcas. E você ainda pode baixar o download premiado!

Se você não consegue derrotar seu inimigo junte-se a ele, e foi o que os empresários do mercado fonográfico de Kapuf fizeram. De bandidos passaram a ser mocinhos. Todo mundo ficou feliz, todo mundo saiu ganhando. Os departamentos comerciais e de marketing se renovaram, tomaram uma injeção de ânimo com idéias e ações novas, artistas e empresários ficaram mais tranquilos, consumidor saiu ganhando e agora todos são aliados.

2 comentários:

____ disse...

Que coisa, Kapuf tão parecido e tão diferente.
Um dia a gente muda pra lá, se aqui não mudar, e não muda, é mais fácil descobrirem DE VERDADE um planeta desse tipo do que mudar.

Mas ainda falando do "O Visionário", um compadre dele:
http://noiadonosotao.blogspot.com/2010/10/dark-side-of-blitzkrieg-coney-island.html

Paulo Marchetti disse...

jeje... me diverti com o texto. valeu o toque.
abç