7 de maio de 2009

O CÔNCAVO E O CONVEXO


Passados alguns dias após a virada cultural que rolou em São Paulo, me sinto mais a vontade para fazer alguns comentários pontuais envolvendo duas das atrações do evento, rezando para que o centro da cidade, em linhas gerais, já tenha se recuperado dos maus tratos a que foi submetido...


Estava super animado para ver o show do Camisa de Vênus por várias razões: eu os considero uma das bandas mais importantes do (punk) rock brasileiro; sempre admirei o lado debochado deles de compor e tocar (mal) suas músicas, além de ser solidário a essa marginalidade imposta a eles pelo mainstream; sou santista e show do Camisa por lá nos anos 80 era motivo de piração por toda a cidade; finalmente, porque sou grande amigo do baixista, Robério Santana.


Quando cheguei à Praça da República percebi que o show deles estava atrasado e que o clima por lá não era dos melhores (já tinham milhares de loucos bebendo e mijando por todo lado); como eu estava querendo mesmo rodar pelos outros palcos da área, me permiti radicalizar e ir ao Largo do Arouche para assistir o show do Wando. (sim, ele mesmo: o Obsceno)


E o contraste foi imediato, pois apesar de também haver muita gente ansiosa para ouvir o ‘Rei das Calcinhas’, havia ordem e respeito à frente do palco; Wando surge e em pouco mais de uma hora de show coloca todo mundo pra dançar e cantar, além de hipnotizar a mulherada, que, em bom número, lhe jogava suas peças íntimas, em sinal de pura devoção; ele, por sua vez, agradecia cheirando uma a uma, fazia os comentários mais cafonas do mundo para depois guardá-las, todas, com carinho. Cenas absolutamente surreais, aliás.


Popular e carismático, ele cantou pérolas do tipo “quando a gente se engata debaixo dos lençóis, ai que coisa gostosa, a gente é que nem dois caracóis”. E para quem (como eu) pensava não conhecer o seu trabalho, se enganou por bem pouco tempo, pois seus vários sucessos surgiam na nossa memória como que por encanto, maldição ou mesmo pelas remotas lembranças do radinho de pilha da cozinha lá de nossas casas...


O tempo passou rápido e ao final, ao som de “você é luz, é raio, estrela e luar, manhã de sol”, feliz da vida eu me mandei para a República e para as minhas ‘origens’.


E, no curto caminho de volta, tristemente constatei que o caos já estava por lá: muito mais gente insana reunida, um odor insuportável no ar e todos os indícios de que mais confusão estava por vir. Temi até por minha própria segurança. Minha sorte foi ter outro bom amigo, Ricardo “Velhinho”, morador de um belo apartamento junto à Praça que me acolheu em sua festa particular. Lá do alto é que pude ter a real noção da massa humana espalhada se divertindo (se é que aquilo pode ser chamado de diversão).


Lamentei bastante, porque ouvir à distância (e não ver os caras levando no palco) clássicos como O Adventista, Eu não matei Joana D´Arc, Bete Morreu, entre outras tantas, foi frustrante mesmo...


Curioso o comportamento humano. Como o poder da música é capaz de afetar as pessoas – Enquanto Wando cantava “Te levo pro mato, pra rede ou pro quarto, te arranho de amor” corria tudo bem e o povo brindava a harmonia. Quando o Camisa de Vênus berrava “Não vai haver amor nesse mundo nunca mais” reinava em mim o medo de sofrer uma agressão gratuita pelas costas por estar lá embaixo.


Foi-se o tempo em que podíamos expressar livremente em praça pública nossas preferências musicais. Seria isso ‘sinal dos tempos’ ou somente falta de planejamento e organização? Talvez seja o caso de botar a culpa na Silvia Piranha...

Um comentário:

Paulo Marchetti disse...

É por essas e outras que fico com o pé atrás em relação e esse tipo de evento.

Agora, a falta de educação, de compostura e tudo que envolve isso dá pra entender lendo o post abaixo ou qualquer coisa vinda do Congresso, que teoricamente teria que ser um exemplo de bom comportamento (o exemplo vem de cima, certo?).

Será que o Kassab, o Matarazzo ou qualquer outro político e/ou secretário deu uma volta pelo público? Viu as coisas de perto, sentiu de fato?

A iniciativa é m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-a! Mas tem que fazer direito, afinal o dinheiro é nosso, não?

Belo post Edu!