9 de maio de 2009

Histórias da MTV: Termos em inglês



Cazé entrou para a MTV em 1993. No ar em 1994. Eu entrei em 1993 e comecei a dirigir programas no início de 1994. Primeiramente cobrindo férias dos diretores que já trabalhavam lá, depois consegui meus programas: Fúria Metal (depois só Fúria), Teleguiado, Na Chapa e outros especiais além de fazer transmissões ao vivo de eventos e festivais.

Quando Cazé chegou a MTV ele era uma espécie de hippie, era poeta e levava uma vida completamente alternativa. Para ele a língua oficial brasileira tinha que ser o Tupi Guarani.


No verão de 1994/1995 Cazé, Sabrina e Soninha foram para o Rio de Janeiro para fazer a programação de verão daquela temporada. Para cada apresentador havia um diretor. Nessa época Soninha ainda se desdobrava entre a coordenação de produção e o trabalho de VJ. Eu era o diretor de Cazé. Foram, acho eu, três meses de RJ indo e vindo toda semana. Morávamos na ponte aérea e no RJ sempre ficávamos no mesmo hotel. Cada diretor ficava no mesmo quarto com seu VJ (com exceção de Sabrina que não podia ficar no quarto com diretor homem, né?). Foi barra!

Barra porque tínhamos que conviver diariamente no trabalho, no hotel, no quarto, no avião, na gravação, no almoço...

Eu e Cazé gravávamos na parte da manhã. Acordávamos 05h00 da manhã para começarmos a gravar as 07h00 e íamos até 12h00, pois a equipe técnica tinha que almoçar e na seqüência gravava a tarde com Sabrina. Era ultra puxado. Eram dois programas por manhã num total de cinco a seis programas gravados em três dias. A logística era apertada, não havia tempo para respiro. Chegávamos na 1ª locação, gravávamos, terminava a gravação, entrávamos na Van, íamos para a próxima locação, Cazé trocava o figurino e já saíamos gravando. Depois tínhamos parte da tarde livre, mas íamos dormir muito cedo por causa de nosso horário. Não deu para aproveitar uma só noite carioca – e em pleno verão!

É óbvio que nesse pique, logo nosso gás acabou e a irritação estava a flor da pele. Qualquer coisa era motivo de discussão, cara fechada e mau humor. O bom disso tudo é que conheci um Rio de Janeiro que muito carioca sequer conhece.

Os textos dos programas já vinham prontos de SP e eram feitos, claro, pela equipe de redação. Muitas vezes eu e Cazé quebrávamos o pau por causa de termos em inglês que ele se recusava a falar. Tudo tinha que ser em português. De todas as discussões lembro de uma que falava sobre a Madonna e um making of que ela iria lançar. Cazé se recusou terminantemente a falar “making of” e eu tentava explicar a ele que esse termo era absolutamente comum e universal, que não tinha nada de americanização e sim de padronização.

Bem, ele se recusava a falar o termo e eu insistia para que falasse e assim não chegávamos a lugar nenhum, até que eu desisti e falei para ele que então trocasse o “making of” por “bastidores”, mas que ele estava sendo ridículo e infantil, pois trabalhava na MTV (êmitivi), um grupo americano, e que todos os termos técnicos eram palavras americanas e que se fosse dessa forma era melhor ele trabalhar em alguma estatal brasileira.

No fim, desisti de ensiná-lo a fazer da forma correta. Até então aquele universo de entretenimento e de música era desconhecido para ele e infelizmente sua “teimosia” não permitiu que eu o ensinasse a respeito de alguns costumes desse universo.
Só que o tempo passa, o mundo dá voltas...

PS: Depois disso ainda dirigi o Cazé por muitos anos tanto no Teleguiado quanto no revolucionário Na Chapa.

Um comentário:

Fernando Rocha disse...

Se de fato "Maturidade não é covardia", ao menos amansa as pessoas.