22 de abril de 2009

O MAIOR SHOW DE ROCK DO BRASIL

Ontem fez um ano que o Capital Inicial gravou seu DVD ao vivo em Brasília. Eu estive lá cobrindo esse show para uma revista especializada de música. E como foi um evento sem precedentes no país – em termos de público e produção – entendo seja bacana reproduzir aqui na íntegra a matéria que fiz.

ELES NÃO DIZEM ADEUS

Os anos 80 foram marcados pelo surgimento de dezenas de bandas de rock no cenário nacional e esse fenômeno se concentrou mais nos principais centros do país à época – São Paulo, Rio de Janeiro e na distante Brasília; As duas primeiras cidades abriram (algum) espaço em suas rádios para essa nova onda, antecipando e propagando a urgência daquela juventude em se expressar.
Aos poucos os grupos foram se sedimentando (outros tantos se diluindo) e algumas bandas se firmaram, caindo nas graças de toda uma geração, fosse pela qualidade, identidade ou mesmo pela própria irreverência nas letras e batidas. São Paulo teve o Ira!, Titãs, RPM e o Ultraje a Rigor como seus maiores expoentes; O Rio, por sua vez, consagrou o Barão Vermelho, Paralamas, Blitz e Kid Abelha; E Brasília atacou com a Plebe Rude, Legião Urbana e Capital Inicial. Mereceram ainda menção honrosa os baianos do Camisa de Vênus e os gaúchos do Engenheiros do Hawaii.

Mas o tempo foi passando e por razões diversas - que envolveram egos, tragédias, drogas, separações, as lamentáveis tendências impostas pelo mercado fonográfico e tudo mais que faça parte no mundo da música - muitos sonhos viraram pesadelos. Ainda assim, das bandas clássicas, o Capital Inicial conseguiu a proeza de se manter vivo e lúcido por todos esses anos, ainda que tenha experimentado sua provação, com a saída e volta do seu vocalista, Dinho Ouro Preto (substituído num período pelo santista Murilo Lima) e, em passado recente, pela troca do seu guitarrista original, Loro Jones, por Yves Passarell.

Superando o baixo astral de pagode-axé-sertanejo que também assolou e contaminou o Brasil naqueles anos, o Capital Inicial retomou o fôlego original lançando em 1998 o álbum “Atrás dos Olhos” e logo depois (em 2000) o seu trabalho mais marcante e popular, o Acústico, sucesso de crítica, com vendas superiores a um milhão de cópias e dois anos de turnê por todo o país.

Na seqüência vieram dois trabalhos de estúdio, “Rosas e Vinho Tinto” (2002) e “Gigante” (2004), e uma justa homenagem às origens da banda através do CD “Aborto Elétrico”, em 2005; E, para finalizar este ciclo, lançaram mais um álbum de inéditas, “Eu Nunca Disse Adeus”, em 2007.

Agora, para comemorar esses últimos 10 anos de sucesso, o Capital Inicial voltou em grande estilo a Brasília para gravar um DVD AO VIVO, em parceria com o canal fechado Multishow, numa data igualmente marcante: o feriado nacional de 21 de Abril, data da fundação da nossa Capital Federal.

O local escolhido para a gravação foi a Esplanada dos Ministérios, uma enorme área livre, cercada pelos mais belos e malditos prédios de Brasília. O público, estimado em quase um milhão de pessoas, fez sua parte nas duas horas de show, cantando alto e em coro os maiores sucessos da banda, inclusive invadindo por várias vezes o palco, o que deu grande trabalho para a segurança.

Visualmente foi uma experiência única, de alto impacto e cercada de requintes - como o cenário idealizado por Zé Carratu, inteiramente pintado à mão; E a iluminação, impecável, que ficou a cargo do inglês Dave Hill, responsável pelos recentes trabalhos ao vivo com Rolling Stones, Led Zeppelin e Pink Floyd; A filmagem (com a direção de Rodrigo Carelli) teve doze câmeras espalhadas e ainda contou com tomadas feitas por rasantes de helicópteros e duas grandes gruas; Essa combinação funcionou de maneira exemplar e lançou a banda a explorar bem o palco e suas passarelas.

O som, que teve a produção de Marcelo Sussekind, estava alto e bem equalizado (se levarmos em conta os limites impostos por uma produção dessa grandiosidade); O Set List, de 24 músicas, foi diversificado e previsível – indo dos sons pesados e antigos deles, do Aborto Elétrico e da Legião Urbana (Fátima, Independência, Que País é Este?, Geração Coca-Cola, Música Urbana, entre outras), aos sucessos da nova fase assumidamente teen da banda (coisas como Natasha, Não Olhe Prá Trás, À Sua Maneira, Olhos Vermelhos, Eu Vou Estar); Teve ainda duas músicas inéditas (Passos Falsos e Dançando com a Lua), além da já tradicional versão de “Primeiros Erros” (do Kiko Zambianchi) e um divertido cover dos Raimundos, “Mulher de Fases”. Como palpite, eu apostaria na música “Algum Dia” (de Pit Passarell) como o novo hit do Capital Inicial, pois, apesar de já ter sido gravada no álbum ‘Rosas e Vinho Tinto’, essa bela canção passou batida naquele CD. E, por se tratar de um registro especial e comemorativo, lamentei (e muito) a ausência de três canções: Descendo o Rio Nilo, Leve Desespero e Mickey Mouse em Moscou. Mas o resultado final, em conjunto, foi muito bom, emocionante até.

Depois do show tudo virou uma grande festa atrás das cortinas; Foi o momento de reunir família, amigos, produtores, fotógrafos, jornalistas e todos mais que viabilizaram e fizeram acontecer o evento sem maiores sustos ou problemas técnicos; O backstage era pura alegria e a comemoração se estendeu até altas horas, em noite de lua cheia em Brasília.

Parabéns para os irmãos Flávio e Fê Lemos, Yves Passarell e Dinho Ouro Preto. Eles têm agora um registro oficial à altura de grandes artistas da música nacional. E o melhor de tudo: afirmaram-me categoricamente que estão longe de dizer Adeus.

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