Gosto de escrever e registrar as coisas que lembro da São Paulo da segunda metade da década de 1980, do período de quando cheguei aqui. Por isso, não poderia deixar de homenagear a TV Mix, um dos programas mais legais da televisão brasileira dos anos 1980. Há tempos vinha querendo escrever esse texto e deixo aqui um abraço aos amigos que participaram dessa história...
(Este texto está completamente ligado ao texto sobre a falta do Foda-se nos meios de comunicação hoje)
(Este texto está completamente ligado ao texto sobre a falta do Foda-se nos meios de comunicação hoje)
Ainda em 1987, mudar de Brasília para São Paulo, era quase que a mesma coisa que mudar de São Paulo para Nova York.
E cai em SP ainda em uma época muito boa em vários sentidos. Na televisão (que amo de paixão, não à toa trabalho com vídeo), fiquei maravilhado com a programação das TVs locais Cultura e Gazeta.. Na Cultura tinha um monte de coisas legais, entre elas Boca Livre (com Kid Vinil) e Bambalalão.
Apesar da idade avançada, pirava no Bambalalão, programa infantil feito por uma turma da pesada, todo mundo começando a carreira. Hoje tenho certo orgulho de ser amigo de Álvaro Petersen, caipira como eu, e que era um dos manipuladores dos bonecos, além de outros papeis. Outro sujeito nota 10 que conheci do elenco do Bambalalão, foi Chiquinho Brandão, que fazia o incrível Bambaleão.
O conheci quando ele interpretava ‘O Amigo da Onça’ no teatro. Eu conhecia algumas pessoas do elenco e saímos juntos algumas vezes. Baita talento!
Como já disse aqui em texto recente, outras figuras que conheci graças a esses programas da Cultura foram Kid Vinil e Redson, quando acompanhei um amigo que tocou no Boca Livre, e fiquei nos bastidores.
Ainda tinha o Som Pop e outros programas maravilhosos. Alguns até existem ainda hoje, mas completamente remodelados.
Em Brasília há a TV Nacional, que é a retransmissora da Cultura na região, mas nem tudo que passava em SP, passava em BsB. Eu gostava até dos programas de documentários sobre animais que passavam. Tudo era bom.
Completamente novo pra mim foi ver a TV Gazeta, essa só conheci quando cheguei em SP. E foi bem no período de implementação da TV Mix, série de 4 programas divididos por horários e pautas. De manhã até o início da noite tinha a TV Mix 1, 2, 3 e 4. E é aí que quero chegar. Esse foi o embrião da MTV. Dá pra dizer numa boa que foi o “piloto” do que se tornou a MTV nos anos 90.
E pra despirocar de vez, ainda tinha o núcleo de humor da TV Gazeta com Grace Gianoukas, Ricardo Corte Real, Ângela Dip, Marcelo Mansfield, entre outros feras, e todos também em início de carreira. Minha memória sobre exatamente o programa que eles faziam é falha, mas eram esquetes feitas no fundo chroma, de uma forma bem tosca, assim como os cenários (quando havia) que eram igualmente toscos, mas tudo isso no bom sentido, porque fazia parte do contexto e era absurdamente inovador.
Eu tinha algumas fitas VHS com essas esquetes, mas perdi com tantas mudanças na vida. Eles tinham um programa próprio, semanal, diário... enfim... Era ótimo e ria-se demais! Muito dessa porralouquice foi resgatada por Hermes & Renato na MTV (mesmo sem eles saberem) quando ainda era captado em VHS.
Nesse período entre 1987 e início dos anos 1990 era TV Cultura e TV Gazeta. Não tinha pra mais ninguém. Para a vida cultural da cidade em geral, eram essas as TVs. As bandas contavam com elas na ajuda para a divulgação de shows e lançamentos de discos. Fora o Boca Livre, havia outros programas que contavam com a participação de música ao vivo. O TV Mix 4, apresentado por Serginho Groisman, era um desses espaços.
A TV Mix inovou na linguagem de câmera, em pauta e na abordagem. A própria redação servia de cenário, câmera no ombro solta caminhando, com cabos e luzes aparecendo. Tudo dinâmico. Tudo ao mesmo tempo agora. O ‘Camera Aberta’ com Ale Primo na calçada da Paulista, poderia ser muito bem o Thunder, que anos depois seguiu a mesma linha na MTV, com muito improviso e boas sacadas (quem lembra do CEP MTV?).
Inclusive, mais de uma década depois da TV Mix, a MTV usou a mesma ideia de se fazer um mesmo programa dividido em horários e pautas, falo do Supernova, de 2000. TV Mix foi vanguarda, ainda mais misturada com a turma do humor. Impagável!
A ligação entre TV Mix e MTV também se faz por pessoas que trabalharam nas duas produções, um desses nomes é da Astrid, além de outros profissionais por trás das câmeras que saíram da Gazeta para trabalhar na MTV. Fernando Meirelles, Tadeu Jungle e a produtora Olhar Eletrônico estão por trás da criação da TV Mix.
O teatro, a música, artes plásticas e tudo quanto é expressão artística estavam presentes no editorial da TV Mix. Todas as bandas que estavam na ativa nesse período, passaram pela TV Gazeta, ou para tocar ao vivo ou só para dar entrevista. Era um período legal, principalmente da cultura underground local, que estava surgindo junto com essa nova turma da TV.
Não havia muita verba, não havia muita externa, tudo feito ali na Av. Paulista. Como espectador posso falar que o que passava para nós era descontração e liberdade, justamente o que tínhamos na MTV, principalmente no início, de 1990 a 1996.
O legado da TV Mix dura até hoje!
PS: Videoclipe era coisa rara, mas na TV Cultura tinha o Som Pop e na TV Gazeta tinha o Realce (depois Clip Trip).
Um comentário:
Chiquinho Brandão fazia o Professor Parapopó no Bambalalão tb.
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