24 de abril de 2016

Lembranças Musicais (Bobagens pessoais.......)

Deixa eu explicar como sou. Dois momentos: um dia troquei Erasmo Carlos (Carlos, Erasmo) por Dead Kennedys (Demos, 1978). Também já troquei Itamar Assumpção (Beleléu Leléu Eu) por The Hives (The Black and White Album).

Certamente já troquei Clash por Caetano, Exploited por Arnaldo Baptista. Claro que um dia fui radical, mais exatamente até meus 15 anos quando, em uma época totalmente submergido no universo hardcore, descobri The Durutti Column e o King Crimson da trilogia (Discipline, Beat e Three of Perfect Pair). Mas só fui me jogar mesmo em outros sons fora do punk rock apenas aos 17 anos.

A MPB já estava no sangue, até porque em casa era normal escutar música brasileira. Então, apesar de escutar Exploited, GBH, Discharge, Rattus, Anti-Pasti, Riistetyt, eu também escutava Chico e Bethânia ao vivo no Canecão, Elis Regina, Caetano e Gil, Chico Buarque, e muita música caipira com Rolando Boldrin, Renato Teixeira, Tonico e Tinoco, Inezita Barroso, Alvarenga e Ranchinho... Meu pai, agrônomo formado em Piracicaba, ouvia a música caipira da roça dos anos 70 e início dos 80.

Além disso, escutávamos música italiana e francesa (principalmente Edit Piaf, Serge Gainsbourg e Charles Aznavour).

E misturado a tudo isso ainda tinha o rock hippie e a folk music do final dos 60 e início dos anos 70. Meu pai ganhou uma bolsa para doutorado e toda família foi para Columbus, em Ohio (EUA) e lá ficamos de 1971 a 1973. Nesse período as novidades eram Grateful Dead, Creedence Clearwater Revival, The Mamas & The Papas, Simon & Garfunkel, Carpenters, Fleetwood Mac, America, Joan Baez, Buffalo Springfield, Grateful Dead e também muita soul music de primeira qualidade.

Em 1980, quando eu tinha 10 anos, minha irmã mais velha apareceu em casa com uma fita que tinha Ramones, Sex Pistols, Siouxsie and The Banshees e alguma outra que não lembro (talvez Generation X). Era uma fita de 60 minutos, e tinha 15 minutos de cada banda. Ela escutava muito com os amigos, e quando eu ouvia de rebarba também gostava. Nessa na mesma época começaram os shows no Food’s, lanchonete que ficava ao lado de casa, e lá tocavam bandas que anos depois viriam a ser Plebe Rude, Capital Inicial e Legião Urbana.

Eu parava com minha bicicleta nesses shows, que eram sempre de sábado ou domingo a tarde, e ficava vendo tudo. Me chocava mais ver o pessoal do que as bandas. Claro que era ultra mega legal poder ver de perto instrumentos que víamos em poucas fotos de nossos ídolos, mas ver os cabelos coloridos, as calças rasgadas, os bottons, as camisetas de bandas, estampas feitas a mão, tênis e roupas sujas. Era exatamente eu, moleque que vivia na rua, todo ralado e todo sujo, mas em versão maior (eu tinha 10-11, o pessoal tinha da Turma tinha 15-18).

A partir desse momento, minha vida mudou e abracei o punk rock. Com 12 anos já queria ter minha banda rsrs.

Aí então radicalizei e passei a escutar apenas punk rock, e o que eu mais gostava era: Ramones, Sex Pistols, Clash, Jam, Stranglers, Generation X, Buzzcocks e Dead Kennedys. Mas também já escutava o pós punk e o gótico. PIL, Siouxsie, XTC, Gang of Four, Talking Heads, Joy Division, Cure, Bauhaus, Ruts. Disso tudo para o hardcore foi um pulo. Tinha época que eu dormia ouvindo Exploited e coletâneas de hardcore finlandês! O bicho pegou por dois anos entre os 14 e 15 rsrs.

Esse radicalismo foi ruim. Depois, chegando em SP, aos 17, abri geral: era Led Zeppelin, Black Sabbath, Beatles, Arnaldo Baptista, Itamar Assumpção, Metallica (que já escutava de leve em BsB por causa dos amigos beangers).

São Paulo também me possibilitou conseguir, milagrosamente, dois discos do Red Hot Chili Peppers: Freak Styley e The Upflit Mofo Party Plant. Adorava a banda, mas só conhecia “Mommy Where’s Daddy” e “Jungleman”. Lá em Brasília era “a banda que Andy Gill, do Gang of Four, produziu”.

Nesse período entre 1987 e 1990, o comportamento no meio musical mudou. Até então quem gostava de X não podia gostar de Y.

Antes dessa mudança de comportamento, não dava pra sair falando por aí que eu gostava de Gilberto Gil e Van Halen. Eu podia ser morto!

Foi ótimo esse radicalismo cair por terra. Foi um alívio não só pra mim, mas pra todo mundo, até mesmo pra artistas já consagrados, que abriram novos horizontes ao incorporar influencias fora do rock. Os maravilhosos Psicoacústica do Ira! e Bora Bora do Paralamas são bons exemplos. Do Paralamas ainda tem o Selvagem? de 1986, disco que muito jornalista chegou a dizer que seria o derradeiro da banda. 

E mesmo tendo poucas fontes de pesquisa, íamos atrás de informações além do encarte rsrs, e também atrás de suas influencias. Graças ao punk inglês conheci e fui atrás de The Who e Kinks. E outras bandas punks dos 70 me levaram a surf music.e soul. Queríamos saber: quem eram as influências dos nossos ídolos? E, se desse, por que não a influencia da influencia?

Eram poucas informações que chegavam até nós, e muitas vezes vinham distorcidas e atrasadas. Poucas fotos e imagens também.

Porém, apesar de fã da MPB não engulo a bossa nova. Gosto de muita música que tem 100% de influencia da bossa, até músicas de Tom Jobim, mas não consigo gostar da bossa. Acredite ou não, e digo sem precisar pensar, que um dos melhores shows que vi na minha vida foi de Oscar Castro Neves, no Free Jazz, acho que de 1988. (assisti a muito mais shows de MPB do que muita gente que se diz fã de carteirinha de MPB)

Sem radicalismo (cortei isso da minha vida). Às vezes, na rua, até brinco comigo mesmo: “quantos seres humanos nesse momento estão com o botton do Dead Kennedys e escutando Clara Crocodilo?”









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