8 de abril de 2016

Clássicos de abril

Diferente do que muita gente pensa, o rock brasileiro não começou nos anos 80 rsrs. Só pra lembrar, de passagem, foi em 1955 que o Brasil teve 1º rock gravado aqui.

Nesse início as coisas aconteciam de forma lenta, quase despercebidas, mas a partir dessa primeira gravação, outros fatos foram surgindo. Mas se o Brasil não cuida de sua história de uma forma geral, o que dizer então da história do rock brasileiro?

E foi em abril de 1957 que aqui foi gravado um rock com guitarra elétrica. Betinho e Seu Conjunto gravou “Enrolando o Rock”, para a trilha do filme Absolutamente Certo, e foi usada uma Fender Stratocaster. Não se trata de um disco, mas vale registrar esse fato ocorrido nesse mês.

Em 1964 Ronnie Cord lançou um dos primeiros clássicos brasileiros, o disco ‘Rua Augusta’. Além da música título ainda tem “Brotinho Difícil”, e até uma versão de “Viva Las Vegas”. Mas o que ficou pra sempre foi “Rua Augusta”, clássico estupendo. Ronnie é da geração pré jovem guarda, e serviu de referência para essa geração 60. Morreu em 1986 com a mesma idade do Elvis, 42 anos. Moço e sem reconhecimento.

1970 é ano de discos maravilhosos, seja de rock ou MPB. Entre eles ‘Máquina Voadora’, de Ronnie Von. O último da trilogia de rock psicodélico iniciada em 1969 com ‘Ronnie Von’ e ‘A Misteriosa Luta do Reino de Parassempre Contra o Império de Nunca Mais’. Hoje os três são discos raros e valem ouro. Super produções! Obrigatórios!

Também em 1970 Novos Baianos lançou o 1º disco ‘É Ferro na Boneca’. É um Novos Baianos mais rock, o embrião do que veio a ser no resto da década, com toda experimentação com samba, choro... É um disco com um pé nos 60, e tem músicas que inclusive lembram a jovem guarda. Tem coisas maravilhosas como “Dona Nita e Dona Helena”, “E o Samba me Traiu”, “Curto de Véu e Grinalda” (Baby Consuelo maravilhosa!) e “De Vera”.

Pulando oito anos, em 1978, Rita Lee lançou ‘Babilônia’, o último com o Tutti Frutti. Com Beto Lee recém-nascido, Roberto de Carvalho na banda, contrato com Som Livre, as coisas estavam mudando, e mudaram. No disco tem “Miss Brasil 2000”, “Jardins da Babilônia”, “Agora é Moda”, “Eu e Meu Gato”. Ele veio em um momento de muito sucesso de Rita Lee, que tinha recém lançado o compacto de “Arrombou a Festa” junto com Gilberto Gil, e vendeu 200 mil cópias, o que pra época era grandioso (hoje voltou a ser! rsrs). Depois desse disco, seu som mudou, evoluiu e veio nova fase. ‘Babilônia’ é um discaço!

Aí os anos 80 entram com o pé direito aqui no texto, com o lançamento de ‘Grito Suburbano’, a 1ª coletânea brasileira de punk rock. Feita na garra tem Inocentes, Cólera e Olho Seco. “Eu Não Sei”, “Garotos do Subúrbio”, “Pânico em SP”, “Subúrbio Geral”. Só clássico! Essa coletânea mexeu com a cabeça de muita gente, inclusive a minha. Agradeço muito ao ‘Grito Suburbano’! Coisa fina!

1986 é ano de muitos clássicos. Em abril dois deles foram lançados: ‘Selvagem?’ do Paralamas e ‘Declare Guerra’ do Barão.

Do ‘Selvagem?’ nem vou me esticar aqui porque tem duas postagens especiais pra ele. É um disco grandioso em vários sentidos.

Você pode até falar que ‘Declare Guerra’ não é clássico, mas como disse, clássico não é só aquele disco que vendeu milhares. No caso desse 4º disco do Barão, são vários os motivos: é o primeiro sem Cazuza, a banda teve que repensar o repertório do zero (o que estava sendo preparado antes virou praticamente o ‘Exagerado’ de Cazuza) e as composições são recheadas de boas parcerias: os irmãos Denise e Júlio Barroso, Arnaldo Antunes, Antônio Cícero, além de uma música antiga e inédita de Renato Russo, dada de presente para a banda, “Bumerangue Blues”. É um disco raivoso. Um de meus preferidos da banda.

Agora há outro lançamento em 1986, mas obscuro e bastante curioso, pois pouquíssima gente tem conhecimento. Depois de Lobão deixar Os Ronaldos, a banda continuou como trio e lançou um single com as ótimas “Stray Cat Gomalina” e “I Love You”. Tem até participação de Evandro Mesquita e Alice Pink Pank. As músicas estão disponíveis no You Tube. Apesar desse lançamento e de “Stray Cat Gomalina” chegar a tocar pouco no rádio, nada aconteceu e logo Os Ronaldos acabou.

Cazuza tem dois lançamentos em abril e a curiosidade é que nenhum deles foi lançado na data de seu aniversário (4/4), mas sim no final do mês. Em 1988 ele lançou ‘Ideologia’. Foi um disco muito esperado, pois todo mundo já sabia de sua condição por conta do vírus HIV, só não era algo, de certa forma, ainda assumido. Até porque nesse disco ele canta “Eu vi a cara da morte e ela estava viva”, “meu prazer agora é um risco de vida”, entre outras citações. Todos já falavam e comentavam quando esses versos foram lançados. É um disco atemporal. 

O outro lançamento dele é póstumo, o ‘Por Aí’, com sobras das sessões do 'Burguesia'. Tem Janis Joplin, Nenhum de Nós, Raul Seixas, a própria “Por Aí”, do 1º disco do Barão, e uma inusitada parceria com Orlando de Morais. Entre o lançamento de ‘Ideologia’ e sua morte em 1990, Cazuza se tornou altamente produtivo, pois queria deixar o máximo de registro possível. O ‘Burguesia’, disco duplo, tem 20 músicas, e as 10 de Por aí ainda ficaram de fora! Ele compôs e gravou até onde sua saúde permitiu.

Em 1989 foi lançamento de outro clássico obscuro, o ‘E Agora Pra Dançar?’ segundo disco do Gueto. Estupendo, sou absolutamente suspeito para falar desse disco. O considero incrível do começo ao fim. Há uma postagem desse disco, e se você não conhece, por favor, procure-o, afaste os móveis da casa e e ouça no volume máximo! Uma pena ele ter sido lançado em um momento em que o país estava quebrado, como agora, com ninguém tendo dinheiro para nada além do básico. Ele é muito bem gravado, tem uma ótima produção, repertório impecável, com 3 ou 4 músicas prontas para o rádio, mas não aconteceu. A Warner investiu na produção, mas infelizmente não teve o devido reconhecimento. Gueto era uma banda de primeira.

Tentando ser curto e objetivo, mas são tantos discos bons...

Pra fechar a turma dos 80, tem Paralamas, mas com um lançamento que aconteceu em 1994. O estupendo ‘Severino’ foi um verdadeiro fracasso de vendagem, e nem quem gostava de Paralamas entendeu na época. Porém é um grande disco. O considero o melhor da carreira da banda e já o próprio Bi me disse o considera o melhor. Gravado fora do Brasil e produzido por ninguém menos que Phil Manzanera (ex-Roxi Music), a qualidade das composições e da produção é de deixar o queixo caído. Tem Tom Zé, Egberto Gismonti, Fito Paez, Brian May (Queen) e Linton Kwesi Johnson. As letras com temáticas sociais, como é “Cagaço”, a música de trabalho. Amo esse disco, uma viagem. É um dos grandes discos do rock brasileiro. Apesar do fracasso aqui, fez um enorme sucesso na Argentina.

Pra finalizar, outro disco grandioso, e que mudou a vida de muita gente que cresceu nos anos 90. Não é pra menos se tratando de um disco que ajudou a moldar a década de 90. Esse disco teve a proeza de ser daqueles que tocaram no rádio de ponta a ponta. As músicas do 1º disco do Raimundos tiveram muito mais força do que qualquer negociação de jabaculê. Inclusive a última vez que havia acontecido de um disco tocar de ponta a ponta no rádio, foi exatamente com outra banda de Brasília, e foi o Quatro Estações do Legião. Antes só RPM, Titãs, Paralamas, Blitz (que eu me lembre de cabeça).

Pra mim, sendo ‘curto e grosso’, três são os discos que resumem os anos 90: Da Lama ao Caos (CSNZ), Raimundos (Raimundos) e Usuário (Planet Hemp). Como lembrei outro dia, na Banguela a expectativa de vendas era de 5 mil cópias, mas 500 mil foram vendidas e Raimundos ganhou disco duplo de platina logo de cara!


Haja disco bom! 

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