É
de fato preocupante, pra quem gosta e se importa, ver como está à
cena rock no Brasil. Inexistente. Tem um monte de bandas por aí, mas
cena não existe. Sem cena, não há força; sem força não há
interesse, e sem interesse nada acontece.
E
qual o motivo de não existir cena? Aí já fica difícil de
responder. Creio não haver uma resposta única, mas para se chegar
em algum lugar posso dizer, o que me parece, que cada um está
cuidando do seu. Vejo algumas bandas aparecendo um pouco mais na
mídia, e até em portais como o UOL e G1. Legal, porém são casos
isolados.
Você
pode perceber que em todas as gerações, desde o início do rock nos
anos 40 e 50, sempre houve as cenas. Aqui no Brasil teve a jovem
guarda, o tropicalismo, o rock progressivo, os anos 80, os anos 90.
Depois dos 90 acabou. Até tentaram formar uma
nova cena MPB nessa primeira década dos 2000, mas não foi isso que
aconteceu na prática.
A
internet também ajudou a individualizar mais a divulgação. Todas
as bandas se debruçam nela e ficam na esperança de algo acontecer
sem precisar fazer muito esforço. Dessa forma realmente não haverá
cena de nada, nunca mais.
Da
parte das casas noturnas, as que existem, o tratamento com o
underground é o mesmo há décadas, ou seja, escroto, sem
divulgação, sem cachê ou qualquer outro incentivo. Tudo é feito
por amor. Em dia de show trabalha-se mais de 12 horas, entre sair de
casa e o fim do show. É cansativo e até humilhante em alguns casos,
já que há gente que pensa estar fazendo um favor para o artista
pequeno. Se gasta com transporte, gasolina, alimentação e, no fim,
sai caro para o músico fazer um show.
Há
esses festivais alternativos (que inclusive diminuíram), mas que
também acabam devendo em estrutura, cachê, organização. Já vi
casos nítidos de organizadores querendo aparecer mais que os
próprios artistas. Enfim...
Lembro
que nos anos 80 e 90, algumas casas noturnas faziam noites especiais,
e organizavam pequenos festivais. Era legal. Ia gente de gravadora,
pessoal que escrevia em jornais e revistas. Fazia bem para as bandas
e para as casas noturnas, que também se firmavam, e tudo isso
ajudava a criar e alimentar a cena daquele período. É uma ajuda
mútua, e um passa a existir por causa do outro.
Naquela época as coisas eram diferentes. As bandas não podiam parar, havia show
toda semana. Se você quisesse acontecer, então tinha que fazer
shows. Para isso acontecer com frequência era preciso se aliar a
outras bandas amigas, assim além de shows “solos”, acabava tendo
vários shows em conjunto, dividindo divulgação, equipamento e
todas as forças.
Em um final de semana em Brasília dava pra ver um show de Raimundos e Little Quail juntos, em SP dava pra ver OKotô e Ratos de Porão, e assim os finais de semana aconteciam e formava-se uma cena. Nos 80 algumas bandas de SP chegaram até a se reunir para exigir cachê das casas noturnas.
Em um final de semana em Brasília dava pra ver um show de Raimundos e Little Quail juntos, em SP dava pra ver OKotô e Ratos de Porão, e assim os finais de semana aconteciam e formava-se uma cena. Nos 80 algumas bandas de SP chegaram até a se reunir para exigir cachê das casas noturnas.
Só
que hoje o contexto é outro. O interesse das bandas é outro, das
casas noturnas também é outro. O rock há muito deixou de ser
novidade ou contestação, há muito deixou de ser criativo, até
porque já foi feito de tudo, e também porque jamais será interesse
da maioria jovem, como aconteceu em partes nos 80 e 90.
Se você tem
banda e quer que ela aconteça, então é melhor se mexer, criar uma
turma, inventar shows e outras coisas, caso contrário, se contente
em apenas brincar de tocar rock com os amigos.
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