6 de maio de 2014

RegistroPessoal.doc II

Foi um baque minha separação no início de 2011. Sai da minha casa e fui recomeçar tudo, mas não do zero como disse em outro texto. Recomecei no vermelho. O mais difícil foi perder o convívio diário com minha filha, que é minha verdadeira riqueza. Saí de casa só com minhas roupas e alguns livros.

Tive que parar pra pensar em minhas prioridades. Listei tudo o que tinha a fazer e coloquei em ordem. Até pensei em ir embora de São Paulo, e cheguei a sondar o mercado de trabalho em outras cidades.

Devagar refaço a vida, pago minhas dívidas e vou me arrumando. Há momentos na vida que não podemos ser imediatistas, e eu sabia que levaria um bom tempo para me reorganizar. Dormi em sofá cama na casa da mãe, aluguei quartos em casas estranhas com pessoas esquisitas, e sozinho fui indo.

Muitas vezes eu, andando nas ruas a noite, olhava as janelas dos apartamentos, alguns a meia luz com televisão ligada, eu observava e ficava pensando que ali tinha alguém jogado no sofá, que chegou há pouco do trabalho, banho tomado. Eu gostava de imaginar algo bem confortável, aconchegante, tendo ali um casal com filhos, ou namorados abraçados, ou uma pessoa solteira.

Eu imaginava que um dia eu voltaria a ter tudo isso. Ter meu canto, um trabalho que me desse o suficiente para pagar as contas e seguir a vida. Podia ter algo de tristeza nisso, mas na verdade me dava animo. Eu sempre soube que meus desejos, mesmo os mais simples - e são todos simples, eu demoraria anos para conquistá-los, e é o que acontece. Hoje escrevo na sala do meu apartamento, e a meia luz.

Outra coisa foi voltar a ter uma vida social do ponto de vista de um solteiro. Casado por mais de uma década, com filha pequena, as prioridades eram outras. Rever amigos, conhecer outras pessoas, voltar pra casa alta madrugada ou mesmo na manhã seguinte, sair com amigos do trabalho, ir para um happy hour sem precisar avisar alguém. Coisas normais, mas que eu não estava mais acostumado.

Desde 2013 me dei ao luxo de poder pensar na possibilidade de arrumar alguém, uma companhia, uma garota legal. Mas aí pensei que não poderia cair de cabeça em um relacionamento intenso, a ponto de dividir a casa ou mesmo uma gaveta. Ainda não. Aí, meio sem querer, apareceu alguém especial. Uma pessoa diferente, que despertou em mim algo incrivelmente bom.

Apenas quatro pessoas sabiam disso, mas neste ano eu quase morri. Passei mal, desmaiei de mal jeito e isso quase me levou a morte. Fui salvo no momento certo. Fiz mil exames e tudo não passou de um enorme susto. Foi apenas uma alteração de pressão, e a posição em eu fiquei quando desmaiei, que me impediu de respirar. Tudo passou e foi uma sensação horrível quando voltei, completamente sem forças – incluindo a língua que de tão mole me impedia de falar. Branco, inicialmente eu só mexia os olhos.

Não tenho medo de morrer. Por ser espírita, tenho relação diferente com a morte. Só não quero deixar minha filha antes dela se tornar adulta e independente.

Claro que esse fato me fez pensar na vida. Quem me salvou não sabe o quanto tudo aquilo mexeu comigo. Eu estava feliz pela companhia e, quando consegui falar algo, minhas primeiras palavras foram exatamente elogiosas a essa pessoa especial. Estando com ela ali, eu morreria feliz.

Agora, após passar por tudo isso, e de ainda estar em um processo de reconstrução da vida, novamente passo por momento de perda. Algo que ainda tento entender. E mais uma vez o tempo irá me ajudar.

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