2 de setembro de 2012

Especial Discos Históricos 4: Rádio Taxi



Em um período entre 1980 e 1983 houve um vácuo entre gerações. Na mídia havia rock brasileiro, mas era um rock mais puxado para a MPB, com conceitos ainda dos anos 1970, sem a menor ligação com o que estava acontecendo na Europa e Estados Unidos, como a new wave, o gótico e o pós-punk.

Em 1980, 1981 e 1982 o rock era 14 Bis, A Cor do Som, Pepeu Gomes, Rita Lee e outros. O rock brasileiro influenciado por esses movimentos que citei, nesse período, estava sendo formado, ainda na fase do “pagar para tocar”, ensaiando na garagem com instrumentos horrorosos. É uma geração que começou a se juntar no final dos anos 1970 e início dos 1980. Estou falando de Titãs, Legião Urbana, Barão Vermelho, Blitz e toda essa geração que se consolidou em 1985 pós-Rock in Rio. Era uma bomba que iria explodir a qualquer hora, já que, mesmo antes do grande festival, já havia o Circo Voador, a Rádio Fluminense e toda a enorme movimentação em SP de bandas, casas de shows, publicações e selos independentes.

A transformação foi natural e algumas bandas foram preparando o terreno para toda essa nova geração que ia chegar. Entre esses grupos pioneiros, estava o Rádio Taxi, formado por feras como Lee Marcucci, que já tocava no início dos anos 1970. A reportagem da Veja mostra alguns dos nomes dessa geração pioneira: Blitz, Lulu Santos, Herva Doce e Barão Vermelho. Okky de Souza foi muito feliz em ligar todos eles às novas composições e sonoridade de Rita Lee.

Nesse comecinho de tudo entre os hits que ajudaram a abrir o caminho estavam “Eva”, versão gravada por Rádio Taxi e que foi febre nas rádios, “Down em Mim” do Barão Vermelho, “Menina Veneno” de Ritchie, “Eu Sou Boy” do Magazine, além de outros artistas já citados nessa série Discos Históricos. Era um rock mais inocente e foi isso que prevaleceu nesse período. Deixo registrado aqui “Inútil” de Ultraje à Rigor e “Bete Morreu” do Camisa de Vênus.que serviram de divisores de água já que ajudaram a derrubar essa inocência.




Os Filhos de Rita Lee
Revista Veja (Acervo Digital), 23 de junho de 1982, Edição 720
Música, página 136, por Okky de Souza

Ao se eleger a namoradinha do Brasil de 1980, a roqueira Rita Lee fez mais do que consagrar a vitória de seu estilo saudável e bem-humorado entre a juventude do país. Numa manobra original, conseguiu transpor a linguagem do rock para o ouvido brasileiro, com o revolucionário LP Lança-Perfume. Ao mesmo tempo, pregando a alegria, provou que roqueiro brasileiro não precisa ter, como em sua própria definição, “cara de bandido”: em vez de imitar posturas importadas, ele pode cobiçar o sucesso com um modelo nativo. Ao vivar mania nacional, esse estilo Rita Lee, simples e óbvio como todo invento depois de inventado, acabou por lançar sementes férteis.

Nos últimos meses, uma série de artistas e grupos desenvolveu ótimos trabalhos a partir das lições da madrinha pioneira. Acabaram por detonar um movimento, o rock brasileiro de bom gosto e apelo popular, que conquista espaço cada vez maior nas rádios e desperta um surpreendente interesse das gravadoras, tradicionalmente avessas ao gênero. No Rio de Janeiro, por exemplo, os bem-humorados grupos Herva Doce e Blitz, contratados de uma só tacada pela Odeon, conquistaram lugar de honrta na programação das rádios em poucos dias. A Som Livre apostou suas cartas no rock violento e adolescente do Barão Vermelho e destacou para coordená-los seu melhor produtor, Guto Graça Mello. “Há muito tempo eu não via um grupo com tanta alegria e garra. Eles são realmente novos”, admirou-se Graça Mello ao ouvi-los pela primeira vez. Já no final do ano passado, o grupo paulista Rádio Táxi alçava Garota Dourada ao primeiro lugar das paradas de audiência em todo o país, enquanto o cantor e compositor Ricardo Graça Mello, 20 anos, filho da atriz Marília Pêra, transformava De Repente Califórnia numa espécie de hino do verão, maciçamente executado por três meses.

Em comum com Rita e entre si, esses grupos possuem um inabalável bom humor, e essa parece ser uma arma principal na conquista de um público saturado dos amores desesperados de Maria Bethânia. Suas letras não são grandes poemas, mas as mensagens são imediatas, claras e transmitidas com uma naturalidade que até hoje falta, por exemplo, aos grandes artistas que foram perseguidos nos tempos negros da Censura. O amor nunca é triste ou carrega culpas; ser saudável é fundamental, o otimismo é a maior das virtudes, como resume a letra de Certo Dia na Cidade, do Barão Vermelho: Ei garoto, a força que me conduz/É uma ventania/Descobrindo o que é belo e tem luz/É o incerto, é o que é.

SOLO MEMORÁVEL – Na semana passada, com o lançamento do primeiro LP do cantor, compositor e guitarrista Lulu Santos, Tempos Modernos, o movimento que agrupa os herdeiros de Rita Lee ganhou seu produto mais bem acabado até agora. Carioca, 29 anos, Lulu peregrinou pelos anos 70 como líder do grupo Vímana, de certo prestígio na zona sul do Rio. Depois, tocou com As Frenéticas e trabalhou para a Rede Globo selecionando canções para trilhas de novelas. Ótimo compositor, consegue combinar todos os elementos que têm valorizado o rock brasileiro. Como a letra sensual e picante de Bole-Bole (Me segura num cantinho/Pra me provocar), encaixada numa melodia de grande impacto. Os arranjos são modernos e a produção é impecável. O melhor momento do disco, porém, é fornecido pela própria Rita Lee, a quem aponta como responsável pela abertura do espaço para os novos grupos. Ela presenteou Lulu com a faixa Scarlet Moom, composta em homenagem à jornalista e apresentadora de TV carioca Scarlet Moon de Chavalier, mulher do cantor há quatro anos. É uma canção com a mesma sonoridade e o mesmo pique irresistível de Lança-Perfume, misturando rock e carnaval, com um solo de guitarra absolutamente memorável.

A descendência mais direta de Rita Lee, porém, é formada pelo grupo Rádio Táxi, que, depois de acompanhá-la em shows por quatro anos, parte para a carreira solo. Apoiados por uma maciça campanha promocional da gravadora CBS – certamente inédita no rock brasileiro, à exceção daquelas montadas para a própria Rita –, o grupo lança na próxima semana seu primeiro LP. É um disco que mergulha em todos os tipos de sonoridades que compõem a música pop e exibe, portanto, as lições aprendidas com Rita. Há doces baladas, como Ana, a rock atrevidos. “A própria Rita sempre foi mossa maior incentivadora”, revela o guitarrista Wanderley Taffo, 28 anos, garantindo que, mesmo nas paradas, o Rádio Táxi pretende continuar coadjuvando os shows da estrela.

Na semana passada, o mais executado nas rádios, entre os filhos de Rita Lee, era o grupo carioca Blitz, criado há um ano na praia de Ipanema e revelado no Circo Voador – espécie de templo da vanguarda montado durante o verão passado na praia carioca do Arpoador. Misturando música e teatro (o violonista é Evandro Mesquita, do Asdrúbal Trouxe o Trombone), o Blitz já começa sua trajetória em disco de forma original: há duas semanas, lançou um compacto de um lado só, com a música Você Não Soube Me Amar. É uma experiência inédita do produtor Mariozinho Rocha – o mesmo de Gal Costa –, que os considera o grupo “mais original da música brasileira, capaz de dar uma revitalizada no mercado, como fez Rita Lee há dois anos”. A julgar por letras como a de Cruel, Cruel, incluída no LP a ser gravado em setembro, a previsão de Mariozinho não é excessivamente otimista: Não, não vá/Botar a culpa no destino/Por ter casado com um cretino industrial/Apenas para dar satisfação à sociedade/Pois na verdade/Eras parada num surfista local.

Mais acessíveis ao público que a vanguarda cerebral de Arrigo Barnabé, lançando propostas às vezes igualmente inovadoras, os filhos de Rita Lee lançam um sopro de vida na música popular do país. A própria Rita vê o movimento com grande tranquilidade, como se, depois de quinze anos de carreira e brigas com patrulhas diversas, o considerasse inevitável: “É o fim da ditadura do preconceito na música brasileira, acabou a escravidão ao violão e ao banquinho. E é natural que, nesse processo, o rock tenha conquistado seu espaço. Rock é como futebol: foi inventado lá fora, chegou aqui com sotaque e foi adotado porque diverte”.



Rádio Taxi, um novo som de cidade grande
Folha de São Paulo, 31-ago-1982, Ilustrada, página 7


Os jovens – principalmente aqueles que frequentam shows e bailes – ganharam um novo conjunto; Rita Lee provavelmente deverá formar outro para acompanhá-la. Agora o Rádio Taxi (formado por Wander Taffo, Lee Marcucci, Willie e Gel Fernandes) decidiu investir de vez em carreira própria, principalmente depois do sucesso da música “Garota Dourada”, um dos temas do filme “Menino do Rio”, de Antônio Calmon.

“Fazemos um som de cidade grande. Nascemos, vivemos e trabalhamos em São Paulo, com toda sua loucura de maior cidade do Brasil. E é isso que fica registrado em nosso som. Procuramos acompanhar a época em que vivemos, os anos 80, com uma mistura de simplicidade, bom gosto e uma pitada de ousadia”. A declaração é do guitarrista Wander, mas pode ser assinada pelos outros três. Afinal, eles decidiram formalizar o conjunto exatamente por conseguirem – com bom humor – concordar musicalmente, em todos os sentidos. “O principal é a sinceridade. Para ser claro, acho muito fácil fazer um aglomerado de músicos, mas formar um conjunto que permaneça, não”.

Daí um LP, o primeiro de uma carreira que desejam longa. A gravadora é a CBS – “que deu toda força possível através de sua equipe, um pessoal também jovem” – e o disco tem o nome do conjunto. Programado para estar nas lojas no próximo dia 20, “Rádio Taxi” foi produzido e dirigido por Luiz Carlos Maluly, ex-guitarrista de Lee Jackson e também amigo do conjunto, e inclui músicas compostas por eles próprios e letristas convidados.

“Coisas de Casal”, por exemplo, foi composta por Rita Lee e Roberto de Carvalho, numa espécie de homenagem e força especial aos rapazes que se foram juntando à moça do “Lança Perfume” a partir de 1973. O primeiro foi o baixista Lee Marcucci (é autor de “Babilônia”), depois chegou o vocalista Willie – em 76 – e três anos depois o time completou-se com Wander e Gel, responsáveis pela guitarra e bateria. O ano era 79, eles vinham de uma carreira pelo Menphis e Secos e Molhados.

“Abelha Rainha”, de Wander Taffo – um tema sobre o amor dos jovens -, teve três frases cortadas pela censura. “Eva, Não Se Atreva”, eles preferiram deixar de fora pelo mesmo motivo. “Ela foi vetada totalmente”. Mas, além delas, o LP inclui ainda “Põe Devagar”, “Pedra de Talismã” e “Ana”, esta comporta por Guilherme Arantes. Outra autoria de “fora” é a dupla Roberto e Erasmo Carlos, de quem regravaram “Quero Que Vá Tudo Pro Inferno”.

Para o Rádio Taxi o detalhe mais importante de seu lançamento é o incentivo a outros grupos. Lee lembra que a cidade vai ganhando gente nova – Erva Doce, Blitz, Dalto – mas esse número é pequeno demais perto de uma cidade como Nova York, onde “existem 15 conjuntos por quarteirão”. É pra lá, aliás, que os quatro deverão viajar brevemente, com a finalidade de comprar um dos melhores equipamentos do mundo, o Mesa Boogie. “Custa caríssimo, deve-se encomendar antes. Nós estamos vendendo tudo que temos com esse objetivo. Para se ter uma idéia, é o equipamento do Rolling Stones. Perfeito para estúdio, um local como o Morumbi ou o Oficina.”

Tal cuidado inclui diretamente o público. Eles fazem questão de esclarecer que o Rádio Taxi é muito mais um conjunto de baile e shows que outras formalidades. Situação seu público numa idade média de 25 anos, e o tipo de trabalho como “uma forma de chegar mais rápido até ele; uma música meio marota, paqueradora. Claro que nesse aspecto aprendemos muito com Rita”.









6 comentários:

GEL FERNANDES disse...

DESSA VEZ EU FUI O PRIMEIRO,HEIN!

PAULO MARCHETTI.....

GOSTARIA DE AGRADECER EM NOME DA BANDA "RADIO TAXI" PELA EXCELENTE REPORTAGEM,APROVEITANDO PARA DIZER 2 COISAS: QUE ESTAMOS EM FAZE DE GRAVAÇÃO DO PRÓXIMO TRABALHO - CD/DVD E DEIXAR ESSE LINK DA NOSSA MAIS RECENTE APRESENTAÇÃO EM SÃO PAUL0 - MAIO DE 2012
http://www.youtube.com/watch?v=LXPvwmk4nQ8

ABS....

GEL FERNANDES
(RADIO TAXI)

GEL FERNANDES disse...

corrigindo_

DESSA VEZ EU FUI O PRIMEIRO,HEIN!

PAULO MARCHETTI.....

GOSTARIA DE AGRADECER EM NOME DA BANDA "RADIO TAXI" PELA EXCELENTE REPORTAGEM,APROVEITANDO PARA DIZER 2 COISAS: QUE ESTAMOS EM FASE DE GRAVAÇÃO DO PRÓXIMO TRABALHO - CD/DVD E DEIXAR ESSE LINK DA NOSSA MAIS RECENTE APRESENTAÇÃO EM SÃO PAUL0 - MAIO DE 2012
http://www.youtube.com/watch?v=LXPvwmk4nQ8

ABS....

GEL FERNANDES
(RADIO TAXI)

Paulo Marchetti disse...

Oi Gel. Uma honra e um prazer tê-lo por aqui. Valeu o toque e volte sempre!
abç
P Marchetti

Ilton Luiz Fonseca de Oliveira disse...

Perfeito o texto! Essa geração pioneira sempre me chamou a atenção. Pois se naõ fossem esses "veteranos" não teria acontecido o estouro do Barão, Paralamas,Legião Urbana, Titãs, RPM, Ultraje.. Eles apontaram um caminho, orientados pela Rita Lee, para uma poética coloquial e uma sonoridade contemporânea, que deu espaço para propostas mais radicais que surgiram depois.

Ernesto Ribeiro disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ernesto Ribeiro disse...

FILHOS DA PUTA QUE OS PARIU. A grande Rita Lee não tem nada a ver com essa prole suspeita. O baixista Lee Marcucci foi CHUTADO pro olho da rua num pé na bunda coletivo quando ela demitiu TODA a banda Tutti Frutti após cumprir as obrigações no contrato da gravadora mais a última turnê de divulgação para pagar as dívidas, depois de descobrir as PILANTRAGENS da empresária "governanta" e do guitarrista Luis Sérgio Carlini (cujos nomes ela até se recusou a registrar no livro autobiografia dela, de tanto desprezo.) Qualquer filho da puta que se intitule "filho de Rita Lee" merecia é ser abortado.