Em dois períodos de minha vida fiquei muito sozinho. Isso aconteceu entre 1989 e 1992. No início de 1989 perdi meu pai e minha vida mudou bastante, tive que me preocupar comigo mesmo. Tinha minhas amigas, mas não estava bem para ter um relacionamento. Sabendo disso fiquei só. Viajava sozinho, saia sozinho, ia ao cinema sozinho, passava final de semana sozinho. Entre 1990 e 1991, tive um namoro de uns 10 meses com uma paixão de infância, intenso.
Depois desse namoro (que não estava nos planos e nem nos sonhos) passei por um novo processo de solidão e, mais uma vez, optei por ficar só, na minha, 100% introspectivo. Esses quase quatro anos ficaram marcados também pela trilha sonora, pelo que eu escutava. Quando o namoro acabou, resolvi fazer uma faculdade e entrei em um cursinho. Fiz um ano de história na PUC, no prédio velho, curso noturno, pouca gente, salas antigas. Além de estudar história também li alguns livros de Sócrates e Platão. Foi uma fase de solidão, mas muito bem aproveitada. Usava isso a meu favor e realmente era bom demais fazer as coisas sem precisar dar satisfação a ninguém. Valorizava esses momentos. É você e você.
Nesse período trabalhava com fotografia e publicidade, então ficava sabendo de festas e eventos ligadas ao trabalho e que nada tinham com meus amigos. Eu ia sozinho mesmo conhecendo uma ou duas pessoas e mais ninguém. Eram as melhores noites, porque eu não fazia a menor ideia de como iria acabar. No carro, no ônibus ou a pé, eu sempre estava ouvindo música.
Em 1989, com a vida tumultuada, minha irmã mais velha voltou de uma viagem que fez para Londres com alguns bons discos, e recém lançados. Entre eles estavam Doolittle do Pixies, The Stone Roses do próprio e Shooting Rubberbands At The Stars de Edie Brickell & New Bohemians. Além deles eu também escutava muito Desintegration do The Cure, Mother’s Milk e Blood Sugar... do Red Hot Chili Peppers, e toda a discografia do Black Sabbath com Ozzy.
Um melhor que o outro. Era tudo vinil, então eu tinha as fitas cassetes com eles gravados e escutava no walkman e no carro.
Deles todos, o disco mais calmo e romântico, sem guitarras distorcidas e porrada nos instrumentos, era o Shooting Rubberbands at the Stars, de Edie Brickell and New Bohemians.
Considero um disco genial. Daqueles que são únicos. Gosto de tudo nele e, é difícil dar apenas um ou outro destaque. É a química entre as belas linhas de baixo, os violões, guitarra, bateria, percussão e voz. Tudo muito iluminado. Não há virtuosismo, pelo contrário, cada integrante soube tirar o necessário de seu instrumento. Há unidade sonora, boa direção e produção. Os timbres são ótimos. O disco até foi lançado aqui no Brasil, mas só “What I Am” fez um relativo sucesso. Nos EUA vendeu dois milhões e cópias (duplo platina). Os integrantes são feios, se vestem mal, não têm cara de descolados, mas fazem uma sonzêra de respeito.
Edie Brickell tem personalidade, era (e é) bonita e tem uma voz doce e suave. A raiz do som é folk, mas o pop e o rock estão ali presentes, às vezes mais, às vezes menos. De referência dá pra citar America, Tom Petty, Willie Nelson, Neil Young, Talking Heads e Blondie.
Shooting Rubberbands At The Stars é um disco belo, sutil e de letras filosóficas, sobre relacionamentos, erros e acertos.
O resgatei nesses últimos tempos... por que será?
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