25 de janeiro de 2009

Série O Resgate da Memória: 2 - Marisa Monte


Leia a seguir uma matéria feita com Marisa Monte, para a revista HV (Humor e Verdade), numa edição de 1988. Nem disco lançado ela tinha ainda.


HV era uma revista muito bacana, chic, porém bastante voltada para a cultura Pop, comportamento e vanguarda, além dos editoriais de moda com figurinhas do Underground paulistano. Iko Ouro Preto, irmão de Dinho (Capital Inicial) era um dos fotógrafos que trabalhava para a revista. HV era nota 10 em matérias de música, cinema e comportamento. Até hoje deixa no chulé qualquer revista que tenha esses assuntos. Não me lembro o tempo de vida da revista, mas acho que foi de 1985 até 1988. prometo depois mais detalhes da história dessa maravilhosa revista.

Matéria feita por Antonio Sheidecker.


Aos 21 anos, e causando um certo estardalhaço no atual débil mental showbusiness brasileiro, Marisa Monte tem sido o tiro certo no alvo de muitas atenções. De nova voz da noite carioca, passando por acusações de ser apenas uma jogada de marketing do diretor Nelson Motta, até não sei mais o que vão dizer, Marisa está, antes de mais nada, na dela. Em julho, Marisa Monte aterrisa em São Paulo para uma temporada de duas semanas no auditório do MASP e no Teatro Cultura Artística, como a única new pop star tropical e incluir no mesmo repertório Mr. Kurt Weill e Mr. Waldick Soriano.

EUROPA

Morei seis meses na Itália. Em Roma, estudei canto lírico. Uma semana antes de voltar ao Brasil, fui convidada por um músico italiano apoixonado por música brasileira, pra cantar em Veneza. O show foi num bar, numa noite de lua cheia, foi lindo. Cantei músicas do Tom Jobim, Caetano Veloso e Milton Nascimento. A platéia cantou comigo. Fiquei impressionada de como os italianos conhecem bem nossa música. Esse show foi super importante pra mim, porque naquela época eu estava triste, desencanada de viver na Europa. Quando voltei ao Brasil, fiz alguns shows no Rio de Janeiro que, no início de 87, ainda eram bem simples e sem direção. A primeira vez que passei a encarar a responsabilidade de um show totalmente meu, foi no Jazzmania, com direção de Nelson Motta.

BRASIL
Um tempo fora do país é mais que suficiente para se reparar melhor nas pessoas mais simples daqui, aquelas de calça e blusa de tergal lá da Central do Brasil, nas prostitutas da praça Tiradentes. São pessoas que me emocionam. Como artista, não dá mais vontade de sair daqui, porque é pra elas que é preciso dar luz. Isso sem preconceitos em relação a elas, muito pelo contrário. O Brasil é um país maravilhoso, maltratado e num processo de loucura total. Acredito no Brasil a longo prazo. No momento é cinema-catástrofe, Heavy Metal.

DISCO
Quero gravar daqui a um ano, mais ou menos. Disco é legal para o trabalho ficar acessível e mais nada. Acho o lado comercial terrível. Tenho vontade de gravar um lado ao vivo e outro em estúdio. Há músicasque só podem ser gravadas em estúdio e outras só ao vivo. Quro que cada faixa tenha um produtor exclusivo para ela.

CANTORES DO RÁDIO 

Adoro ouvir fitas de antigos programas de rádio. Adoro Ataulfo Alves, Mário Reis, Carmem Miranda. Tenho fascínio por cantoras. Sou uma pewquisadora de cantoras. Billy Holliday é meu ídolo. Em geral, os seres cantantes me emocionam, homens e muheres.

ESTRELA
Essa coisa de musa, de estrela, só o tempo pode dizer. Eu, no máximo, posso ser uma luz, e nunca uma estrela, como convencionalmente as pessoas pensam e querem que um artista seja. Alguns são realmente estrelas num sentido maior, superior. Depende da potência do brilho – e aí não depende do físico, do humano. É uma coisa que está além.

DINHEIRO

Algumas pessoas que fazem música no Brasil estão completamente confusas. Pensam de mais no lado comercial. O artista não pode ser um comerciante, ele tem que defender a arte. Uma das grandes deturpações do nosso tempo, é essa do tudo por dinheiro. Isso em arte, política, etc… As pessoas brigam por dinheiro, amam-se por dinheiro. Tudo é comércio. O Tim Maia diz que o mundo só vai ter paz quando acabar o dinheiro. Eu adora o Tim Maia.

COMPARAÇÕES
As pessoas são tão loucas que vivem me comparando com a Maysa e com a Gal Costa. Dizem coisas do tipo: Marisa Monte é a Maysa dos anos 80. Não sou uma coisa e nem outra. Acho natural comparações, mas eu sou uma coisa que ainda não sei o que é.

RÓTULOS

Já que a imprensa anda querendo me rotular, então eu digo que sou assim: radical variado.

FAMA
Eu me poupo ao máximo. Não posso matar a fome e a sede das pessoas. Eu não quero saciar ninguém.

ÓPERA

Existe um preconceito em relação `a ópera no Brasil. Ela é a busca da perfeição, a busca pelo canto dos pássaros. No Brasil é impossível. Não há mercado, diretores, elenco, tradição…

TREVAS
Estamos nas trevas por causa das grandes deturpações que vivemos. Acho que a situação vai piorar cada vez mais, mas depois alivia.

WALDICK SORIANO
É um injustiçado. Eu canto as músicas dele até para irritar as pessoas. Os intelectuais não conseguem perceber a sua genialidade. Dentro de todos os estilos há coisas fantásticas. Não existe brega e chique. Tudo é muito pessoal. Os que defendem exageradamente a música brasileira deveriam ouvir Rock, assim como os roqueiros radicais deveriam ouvir samba. Não faço música do Rio, São Paulo ou Brasília, faço música do mundo, faço utopia. Eu sou uma cantora utópica.

TEMPO
Respeito muito o tempo. Se você não o respeita, ele fatalmente lhe ensina a respeita-lo.

TRADIÇÃO
Tem de haver um equilíbrio entre tradição e modernidade. Por isso canto Arnaldo Antunes e Candeias. Quanto ao fato de dizer que hoje no Brasil só se faz música de má qualidade, isso está errado. Há pessoas incríveis como o Renato Russo, por exemplo.

PRIMEIROS SONS
Meu primeiro repertório era de música de sacanagem. Do tipo daquelas que as crianças cantam, aquelas que só tem besteira.

DEUS
Não tenho religião e não pertenço a nenhuma seita. Não h´uma visão coletiva de Deus, por isso não acredito em religião. Cada um tem que entender Deus `a sua maneira. O fato de não se ter uma visão de Deus já é uma maneira de entende-lo. Deus criativo, o ser que inspira. Isso se confunde com Deus e até, talvez, seja Deus. Todo o artista que lida profundamente com o ato de criar dá muita importância a Deus, porque ele sabe que não há nada sob controle, nada depende do artista, e sim de uma proteção. Como cantora sinto-me um instrumento. Antes do show entrego-me a quem vier ou me quiser como instrumento. Não sei e nem quero saber quem seja. Há vários protetores e, dependendo do dia, eles vêm mais fortes ou não. O som é um fenômeno, uma coisa estranha. O som tem o poder de penetrar no invisível das pessoas. Som é responsabilidade. Eu penso muito nisso e no poder do som. Tenho horror a qualquer tipo de de poder e da responsabilidade gerada pelo poder, por isso, me entrego a uma proteção mais responsável que eu.


PALCO
Não é importante estar bonita no palco. O importante é movimentar a energia palco-platéia. Quando canto para trezentas pessoas, são trezentas vozes cantando diferente.

FUTURO
Não pretendo nada. Não quero ser absolutamente nada sob controle. Presente, passado e futuro são a mesma coisa.

MARKETING
As pessoas andam dizendo isso e aquilo sobre minha postura artística no momento. O fato de eu ainda não ter gravado um disco é puramente por intuição. Nnao estou a fim e pronto. O Nelson Motta é o diretor do meu show e não da minha vida. Ele aceita e concorda com todos os meus pontos de vista. Se eu fosse uma comerciante, mudaria de profissão. Eu quero ter que fazer o que todo mundo faz. Acho bom as pessoas questionarem tudo e, melhor ainda, me questionarem. Sou uma jogada de marketing de Nelson Motta? Talvez até seja…

2 comentários:

Anônimo disse...

intiresno muito, obrigado

Ernesto Ribeiro disse...

Marisa Monte de Merda. O repertório mais CAFONA e medíocre e débil-mental da MPB. Que por si só já a quintessência da cafonália, mediocridade e debilidade. É impressionante como 99% da Música Popular Brasileira é desconectada da realidade brasileira. Parece que os medalhões são de outro planeta.