8 de outubro de 2024

O Rock Farofa dos anos 1990

 

Os anos 1990 foram bem intensos. Tão intensos quanto a década anterior que pipocava novidades todos os dias, seja na cultura pop, no comportamento ou nos costumes. Inclusive a virada dessas décadas ficou marcada pelo fracasso da Alemanha Oriental com seu Muro de Berlim que prenunciou o fim do comunismo da União Soviética. Dessa forma entramos nos 1990.

No Brasil, a MTV foi o ponto de referência, principalmente, entre 1993 e 1998. Bem o miolo da década.

A música – que é o objeto deste texto – começou já sem muita novidade. No caso do Brasil, a década começou com o pé esquerdo por conta das bandas cover e terminou da mesma forma porque, depois do surgimento de alguns nomes já medianos entre 1997 e 2000, o rock brasileiro afundou de vez. Dois fatores ajudaram no fim do rock feito no Brasil, um sendo consequência do outro: 1º) A falta de criatividade e talento; 2º) O desinteresse das gravadoras (algo óbvio). Junto a esses dois fatos, ainda teve o surgimento do Naspter, que bagunçou o mercado fonográfico mainstream, e a chegada da internet caseira via cabo.

Mas o que quero falar aqui é da qualidade já ruim do rock feito durante os 1990, mas não digo apenas no Brasil e sim no mundo. A década começou com duas cenas que chamaram a atenção que era a Madchester com Stone Roses, Happy Mondays, Charlatans e outras; e o rap jazz com grupos como Arrested Development, Guru, A Tribe Called Quest, De La Soul e outros.

Dessas duas cenas, minha preferida era exatamente o rap jazz porque os nomes da Madchester eram todos bem medianos e o único bom nome, e o mais forte deles, era o fabuloso Stone Roses. Mesmo o SR já não tinha uma sonoridade única, e suas músicas já remetiam diretamente às suas influências. A mesma coisa aconteceu com Lenny Kravitz que apareceu com um belíssimo disco – até hoje o melhor de sua discografia – mas que a sonoridade também remetia a tantos outros artistas.

É bom lembrar também que com o heavy metal aconteceu a mesma coisa com aquele bando de grupo de metal farofa laquê, um pior que o outro.

Resumindo: a década de 1990, tirando o rap jazz, começou com novas bandas que já não tinham uma sonoridade nova ou única. Tudo que você escutava nesse período te remetia a nomes das décadas de 1960, 70, 80 e, dessa forma, a década se seguiu.

A partir de então a originalidade no rock acabou. Teve sim alguns nomes que se sobressaíram a isso, mas foram poucos, bem poucos. Pra mim, a tão querida cena grunge não era muito diferente do metal laquê. Muita pose e pouca música. Como disse certa vez Kris Novoselic (ex-baixo Nirvana), a cena grunge nunca existiu de fato, era apenas algo criado por jornalistas. Tirando alguns poucos grupos, de 3 a 5 no máximo, o resto era lixo. O que valia alguma coisa mesmo era Melvins, Nirvana, Mudhoney e só. O resto era muita pose pra nada.

Soundgarden, Stone Temple Pilots, Alice in Chains e outros eram uma porcaria que não traziam nada de novo. O STP tinha aquele vocalista que adorava ficar sem camisa e fazer pose. Podia muito bem fazer teste para cantar no Cinderella, por exemplo. A mesma coisa digo do Chris Cornell e do Eddie Vedder.

Não dá pra você dizer que sua banda tem influência de Soundgarden, seria muita falta de conhecimento e pobreza sonora afirmar isso. Melhor dizer, por exemplo, que é influenciada por Black Sabbath e Deep Purple.

O próprio Foo Fighters, que é pós-grunge, é mais original e deixa esses grunges todos com vergonha.

A impressão que dava, lembrando que eu estava na MTV durante todos esses anos, é que era uma corrida de cegos entre essas bandas e suas gravadoras. Quem iria lançar o disco mais mais ou menos? Quem iria fazer mais pose? Quem iria fazer mais show?

Eu era fã de Nirvana, mas mesmo ele não tinha originalidade no som. As composições e os discos eram bem melhores que de outros grupos, mas sempre que você escutava vinha na cabeça Sex Pistols, Husker Du, Pixies, Killing Joke, Clash, entre outros nomes dos 70 e dos 80. Mesmo assim Nirvana era a mais original de todas ao lado exatamente de Melvins e Mudhoney.

Ao contrário das outras bandas, o Nirvana era sarcástico e gostava mesmo de se divertir. As outras, como disse, se preocupavam mais com a pose, a cara de mau e com o condicionador que usava no cabelo.

A força dessas bandas era tão nula que, com o suicídio de Kurt Cobain e o fim no Nirvana, a mídia nem quis cogitar outra hipótese a não ser a morte da cena grunge. Tudo bem, o Pearl Jam conseguiu seguir em frente com discos irregulares, mas tudo que lançou depois se tornou irrelevante. Gosto do disco Binatural, mas você pode juntar esses lançamentos todos que não dá uma coletânea de 12 músicas.

Até o Red Hot Chilli Peppers se enfiou na lata do lixo depois do lançamento de Blood Sugar Sex Magic. Foi ladeira abaixo e é assim até hoje com lançamentos insignificantes que também não rendem sequer uma coletânea de 15 músicas. E olha que eu escuto RHCP desde “Mommy, Where’s Daddy”, e comprei Freaky Styley, The Upflit Mofo Party Plan, Mother's Milk e Blood Sugar no período de seus lançamentos. O FS e o UMPP dei sorte de terem sido lançados pela EMI Brasil mesmo sem ninguém conhecer o grupo.

Enquanto essas bobagens todas de grunge e britpop eram enaltecidas pelos “jornalistas especializados” e pelo público, eu preferia ficar na minha com grupos como Morphine, Presidents of The USA, Possum Dixon, Squarrel Nut Zippers e o veterano R.E.M. que continuou a lançar bons discos durante a década.

No caso do Presidents, foi uma grande descoberta. Na época do 1º disco chegou na MTV um show do grupo realizado embaixo do Monte Rushmore e, entre minhas funções, estava a de assistir a todos os shows internacionais que chegavam na MTV pra avaliar, legendar, separar em blocos, etc. Esse show me deixou de queixo caído! Era um trio formado por um guitarrista que tocava com 3 cordas, um baixista de tocava com 2 cordas e um baterista que tinha uma bateria com poucas peças. E mesmo com tudo isso, a sonoridade do grupo deixava aquelas bandecas do tal hardcore californiano (que de hardcore não tinham nada) no chulé. Mas põe chulé nisso!

Com esses grupos acontecia a mesma coisa: era muita pose pra pouco som. Pennywise, No Fun at All, Biohazard, Offspring, Bad Religion, NOFX, Rancid... tudo porcaria! Eu assistia aos clipes, a algumas apresentações ao vivo, ouvia os discos e chegava a ficar com vergonha alheia de tão ruim que era.

Daí vem um grupo com uma guitarra de 3 cordas, um baixo de 2 cordas, fazendo o mais puro punk rock divertido e com muita ironia e colocava esse bando de grupo tosco no chulé!

Pra terminar essa fria análise, e pra ver como as coisas foram exatamente assim, é só perceber que tirando um ou outro nome dos anos 1990, os novos grupos surgidos após a década, a maciça maioria tem como influências os grupos dos anos 1980, 1970 e 1960. Até porque seria uma vergonha dizer ter como influência o Offspring ou o Oasis. Pelamordedeus, né!?

PS: O tal rock alternativo também não fica de fora dessa falta de qualidade. Weezer, Pavement, PJ Harvey, Primus e até Sonic Youth também adoravam fazer poses. Muita gente usava camisetas do SY, mas escutava no máximo umas 3 músicas do Goo. Sonic Youth é chato pra caceta! Como todos os nomes citados neste texto, nenhum desses grupos alternativos deixou legado.

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