30 de maio de 2023

O Último dos Moicanos

Em 2001, quando fui editor de música do finado site tantofaz.net eu tinha, fora da música, uma capa livre por semana. Era mania minha publicar textos de ficção, mas com um tom não-ficção. Assim foi com O Dólar de Um Milhão, A Verdade Sobre os Cangaceiros Buth Cassidy and Sundance Kid, Elvis Não Morreu e outros.

Entre eles havia um chamado O Último dos Moicanos, sobre o último dos ídolos musicais dos velhos tempos e, por consequência, a última pessoa ainda viva do público que assistiu ao vivo aos velhos ídolos e viveu o lançamento de grandes discos clássicos. Eu, por exemplo, tive a 1ª edição inglesa do Combat Rock do Clash logo após seu lançamento; assisti Ramones, Iggy Pop, Lou Reed, PIL, Cólera, Itamar Assumpção, Cazuza, Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Caetano... Será que no futuro eu serei a última pessoa a ter visto esses artistas surgidos até, no máximo, a primeira metade da década de 1990?

A recém partida de Erasmo Carlos e Rita Lee me fez querer resgatar esse tema. É duro perder artistas de tamanha grandeza!

Quem será o último ídolo da velha guarda a morrer? Dave Grohl? Bono Vox? Peter Frampton? Jello Biafra? Debbie Harry? Chrissie Hynde?

E no Brasil, quem seria o último? Arnaldo Antunes? Dado Villa Lobos? Lobão? Próspero Albanese? Sérgio Hinds? Marcelo D2?

Desse rock que ouvimos e que chegou ao público a partir da década de 1950, hoje, a maioria dos artistas que são dessa geração já está na casa dos 70 e 80 anos. Este é o caso de Beatles e Rolling Stones, pioneiros que transformaram todo o universo do mercado fonográfico e da cultura pop. Toda essa geração que iniciou carreira na década de 1960 - seja no começo dela ou no final – é nascida na década de 1940 (a mesma coisa acontece com os artistas da Soul Music).

Hoje, em 2023, já são raros aqueles que nasceram na década de 1930 e, daqui poucos anos, raros serão os ídolos nascidos nos anos 1940. A partir daí o ciclo da vida vai terminar para esses que falo aqui, que são os grandes nomes do rock. Daqui duas décadas, no máximo, a geração que transformou a música na década de 60, que tocou no Woodstock, que fez o rock psicodélico e progressivo, toda ela terá ido embora. Assim como a geração que fez o punk rock e o heavy metal, por consequência, a new wave, rock alternativo, etc. também terá ido e, quem sobrar, estará na casa dos 90 anos.

Nessa década de 2040 a geração 1980 estará na casa dos 80 anos. Tanto os artistas internacionais, quanto os brasileiros. Bono Vox, Nando Reis, Flea, Edgard Scandurra, Morrisey...

Segundo a ONU, a média mundial de expectativa de vida é de 73,4 anos (para homens 70,8 e mulheres 76). Então, certamente, estou aqui sendo otimista quanto ao aumento dessa expectativa nessas próximas duas décadas (coisa que sei que não vai acontecer).

Nos próximos 20 anos veremos os shows desses artistas diminuírem e aposentadorias sendo anunciadas. Naturalmente, (e infelizmente) nesse futuro próximo, veremos ídolos das três principais décadas da música – 1960, 1970 e 1980 – irem embora.

Logo depois que isso acontecer, os poucos ídolos musicais das décadas de 1990 e 2000, que já não são tão relevantes como os artistas das décadas anteriores, também vão embora e essa é a única certeza dessa vida!

Mas, apesar disso, os artistas não morrem nunca! Eles sempre foram e continuarão sendo os discos, as músicas, os vídeos e as fotos.

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