14 de novembro de 2014

Brasília e o Rock

_________________________________________________________________

24/04/2018
COMPRE SEU EXEMPLAR OU DÊ DE PRESENTE! 


PEÇA PELO E-MAIL odiariodaturma7686@gmail.com RESTAM POUCOS EXEMPLARES, NÃO HAVERÁ NOVA TIRAGEM E DESDE JÁ É ITEM DE COLECIONADOR!

ESCREVA PARA: odiariodaturma7686@gmail.com
_________________________________________________________________






É muito difícil explicar Brasília em palavras, ainda mais a Brasília dos anos 1970 e 1980. Moderna e atrasada ao mesmo tempo. Clima quente e seco.

A energia é diferente, o céu parece que dá pra pegar com a mão. Até a primeira metade dos 80 a sensação era de uma cidade deserta. O Plano Piloto não era todo ocupado, e a Asa Norte ainda estava em construção.

Quando cheguei à cidade, em 1973, não havia página policial no jornal. Você saía do carro pra fazer compra e deixava as janelas abertas, por causa do forte calor. Nos blocos das superquadras as portas das plumadas ficavam abertas. Nem existia interfone, que só foi aparecer no início dos anos 80. (pra quem não conhece Brasília é como se o prédio tivesse dois blocos de entrada que ficam abertos o dia todo)

Era muito espaço pra pouca gente. Era muito asfalto pra pouco carro. Era um ar de interior, mas com gente vinda do mundo inteiro. Não tinha o que fazer. Não tinha shopping (o Conjunto Nacional nunca foi considerado shopping!), tudo fechava no máximo as 22h. Algumas vezes, quando a noitada se esticava até alta madrugada, íamos ao Aeroporto para tomar um café, porque ali tinha a lanchonete que ficava aberta 24 horas. Teve época que os postos de gasolina fechavam as 20h, e é por isso que a Turma tinha o costume de roubar gasolina dos carros.

Aborto Elétrico
É bom explicar também, que naquela época os horários eram outros. Duas horas da manhã já era tarde pra cacete, muito tarde!!! Quatro da manhã então, nem se fale! Não à toa Renato escreve em “Eduardo e Mônica”, quando Eduardo está na festa e fala “é quase duas e eu vou me ferrar”.

E se duas da manhã já era tarde em qualquer cidade do país, imagine então em Brasília! Se na hora do rush a cidade já era vazia, o que dizer então às três da manhã!!!

Não existia casa noturna, lanchonete, boteco ou qualquer outra coisa que fosse feito e pensado para os jovens. Tinha, sim, diversão para os playboys. O Gilberto Salomão era o lugar dos playba, e ali tinham barzinhos e até boate. Mas era lugar exclusivo para Mauricinhos e Patricinhas. O jovem que não fosse desse universo, não tinha espaço. Os roqueiros então! Marginais, drogados, rebeldes, difíceis, broncos, perigosos. O roqueiro era isso e muito mais!

Mas o rock salva e salvou um bocado de gente nessa Brasília diferente e entediante! Roqueiro era minoria, era excluído.

Escola de Escândalo
O pessoal da Turma da Colina incomodava porque não ficava quieto no canto, diferente de outras gerações de bandas e de outras bandas que existiam na mesma época. Ela era uma célula viva e sofria de superatividade kkkk. Nessa morosidade que era Brasília, uma banda de rock tocar música rápida e agressiva na calçada era coisa de outro mundo. Todos eram ETs.

Até por isso que na capital não havia a rixa que tinha em SP, por exemplo, entre punks e headbangers. Em BsB eram todos amigos. Não só em Brasília, mas nessa época, digo os 1970 e 1980, era realmente diferente ser roqueiro, skatista, surfista ou ator.

Não havia uma boa rádio, salas de cinema com boa programação (quase nem havia sala de cinema), eventos, um point diurno ou noturno. Então era fácil ser visto como marginal porque, não tendo nada pra fazer, ficar na rua até cinco da manhã era coisa de marginal, afinal, fazendo o quê na rua até essa hora? E a Turma era assim mesmo, fora da casinha, porque ficava até tarde na rua, escutava e fazia um rock barulhento e rabugento, tocava na calçada, usava calça rasgada e cabelo colorido. Provocava, mas sem usar violência, pelo contrário.

Havia o desejo de receber apoio do governo local, da Secretaria de Cultura do Distrito Federal, mas nada acontecia. Mesmo que você possa ver logotipo do governo em cartazes de shows da época, não havia qualquer tipo de apoio.

O governo local cagava e andava para Legião Urbana, Capital Inicial, Plebe Rude, Escola de Escândalo, Elite Sofisticada, Detrito Federal e outras. Isso só foi mudar após o sucessos dessas bandas quando já estavam fora de Brasília. Não à toa que Renato Russo, Dado, Bonfá e Negrete ficaram putos ao ver cartazes espalhados pela cidade escritos “o Governo do Distrito Federal Saúda a Legião Urbana”, quando eles foram tocar no fatídico show do Mané Garrincha. Quando não se precisava mais do Governo lá estava ele querendo ganhar simpatia as custas do rock que tanto desprezou.

A Turma da Colina foi pioneira e, com um facão na mão, abriu caminho para outras gerações.

Dá pra dizer assim: que a Turma da Colina foi a filha rebelde de Brasília. A ovelha negra da capital, mas que deu certo e calou a boca de muita gente.

Para comprar O Diário da Turma 1976-1986: A História do Rock de Brasília, clique aqui


Nenhum comentário: