5 de outubro de 2011

Síndrome do Pânico

Comecei a escrever este texto em Brasília, justamente onde me sinto muito bem. Foi em Brasília que dei o “golpe final” em minha síndrome do pânico. Golpe final é modo de dizer porque quem tem SdP viverá com ela pra sempre. Infelizmente essa é a realidade. Depende de você conseguir controlá-la. Eu controlo. Brinco dizendo que deixo minha SdP dormindo em eterna hibernação. Quando dá sinais de vida, logo dou uma pancada em sua cabeça e ela volta a dormir. A primeira lição: não a deixe ser mais forte que você. Ridículo se for.

Comigo veio aos poucos, não percebi até começar a ter sinais físicos: fortes dores no peito seguidas de desmaios. Muita dor. Aguda.

Meu querido pai morreu aos 50 anos de infarto. Então fiquei com medo de ser algo ligado ao coração. Eu era fumante e consumia um maço por dia. Fui fazer um checkup completo, da cabeça aos pés. Tudo quanto é exame. Foram uns três meses de laboratórios, hospitais e consultórios.

Eu não tinha nada. Aconselhado, fui a um terapeuta para uma única conversa, que logo detectou a síndrome do pânico. Mesmo já conhecida na época, não havia muita informação disponível sobre a doença, então as informações que ele me passou foram cruciais.

O terapeuta me receitou 30 cápsulas de Prozac, e eu estava prestes a viajar de férias para o RJ e Brasília para começar a fazer o Diário da Turma. Fiquei fora de SP por 36 dias. Junto a todos esses exames, fiz uma terapia alternativa (nem tanto assim) com uma técnica de massagem que me deixava completamente fora de órbita, e que me ajudou demais.

Tomei apenas uma cápsula de Prozac e deixei-o de lado. Sair de SP foi outro grande benefício. Durante minhas crises de pânico eu só pensava que tinha que fazer alguma coisa além do trabalho, caso sobrevivesse (rsrs). Assim resolvi fazer o livro e a partir de então passei a me dedicar a outros projetos fora do trabalho. Na época, fazer o livro foi o meu remédio, meu respiro, minha distração além, é claro, de fazer exercício. No meu caso, que adoro uma piscina, passei a nadar frequentemente.

Em SP sempre morei em Perdizes / Pompeia. Fui aos poucos deixando de ir a lugares mais distantes, que me obrigavam a pegar vias de mais movimento. Eliminei marginais e principais avenidas. Depois limitei bairros e não ia além de Higienópolis, Av. Paulista e Pinheiros. Quando vi, era só de casa para o trabalho, do trabalho pra casa. Até os almoços na casa da avó eu abandonei. Não conseguia nem fazer viagens profissionais, uma simples ponte aérea era o terror, o fim do mundo, uma catástrofe.

Não era medo de voar. Era medo de ficar longe de casa, da minha zona de conforto, da rotina segura. Quando eu ia viajar procurava saber onde era o hospital mais próximo de onde eu ficaria hospedado. Eu fazia de tudo para não sair da rotina. Cheguei a perder a namorada e no trabalho não pegou bem porque ninguém sabia ao certo o que era aquilo, se era realmente uma doença ou eu que era fraco. Minha vida social foi para o lixo. Dos 1º sintomas ao buraco completo, foi coisa de uns 8 meses. Eu fui completamente dominado pela Síndrome do Pânico. Fora a única cápsula de Prozac que ingeri, nada mais tomei de remédio. Pensei comigo: se é uma doença da cabeça, então é com a ajuda da cabeça que vou me curar. Fazer exercício físico também foi de suma importância. Foi uma época em que descobri quem eram meus amigos de verdade.

Nesse mesmo período descobri três pessoas dentro da MTV que também tinham a SdP. Uma delas tinha sintomas bem mais graves que os meus, tendo que tomar remédio de tarja preta e, em crises, respirava em saco para se acalmar. Nem todo mundo falava que tinha a síndrome para não sofrer preconceito. Vejo que, mesmo sendo hoje absolutamente normal, ainda há gente que esconde a doença.

É muito chato. Há artistas na música que tem esse problema e que precisam se virar para cumprir os compromissos profissionais. Viajar de 3 a 5 vezes por semana - dependendo do artista até mais que isso - é de fato um martírio. Recentemente li que Marrone (da dupla sertaneja), após o acidente de helicóptero, também disse estar com SdP. Nesses últimos 6 meses três amigos também me disseram estar passando por maus bocados por causa da síndrome.

Eu soube dominar a minha. Mas, pra isso, é preciso ser forte para enfrentar uma mudança de comportamento e estar disposto a isso. É preciso disciplina. A SdP me afeta hoje, mas não me atrapalha. Com ela adquiri uma sensibilidade estomacal que antes não tinha. Hoje enjoo fácil em avião, barco, metrô, ônibus, van, carro. Agora, ao viajar de avião, preciso tomar dramin. Também adquiri uma sensibilidade maior com barulho de trânsito. Ao procurar um lugar para morar, minha primeira preocupação é achar um local mais tranquilo, uma rua menos movimentada, andares mais altos e apartamentos de fundo.

Isso não é paranoia, nada disso. Isso é precaução. É não querer acordar a SdP que está em mim.

Cada pessoa tem um sintoma diferente e hoje há diversos remédios e modos de tratamento. Mas, se puder, fuja de todos eles. Como já falei, seja mais forte, procure terapias alternativas e exercícios físicos. Procure algo que te dê prazer fora do trabalho, uma terapia ocupacional que  te motive. Divida seu tempo com as obrigações com algo que te dê tesão em fazer. Tente entender, com você mesmo, o seu medo inexplicável da morte e perceba logo quanto isso é bobagem (mesmo que isso continue a te atormentar). Largue o cigarro, a maconha (ou ao menos use-a sem exagero), deixe seu carro de lado, não se irrite com qualquer coisa. Tente ver a vida de um jeito mais leve. Sem força de vontade ninguém consegue se livrar da Síndrome do Pânico.


PS: É claro que em casos graves, o remédio é mais do que necessário, mas não pode deixar de lado os exercícios físicos e mentais.

Nenhum comentário: