18 de fevereiro de 2011

Série O Resgate da Memória: 17 - Blitz (Pipoca Moderna - 1982)

Em 19 de fevereiro de 1981 Blitz fez seu primeiro show no Bar Caribe (RJ). Ainda era um embrião de uma idéia que estava surgindo. O nome da banda foi dado pelo então baterista Lobão. Foi tudo no improviso (inclusive houve poucos ensaios para o show), mas foi suficiente para chamar a atenção de quem estava lá. A formação da banda nesse primeiro show era: Evandro Mesquita (vocal e gaita), Ricardo Barreto (guitarra), Arnaldo Brandão (baixo. Sim ele mesmo!), Zé Luiz (sax), Guto Barros (guitarra, depois tocou com Lobão e Os Ronaldos) e Lobão (bateria). Entre os presentes no show, estava o baixista do Queen John Deacon.
Como homenagem a essa data publico aqui a transcrição de uma matéria da banda na boa e velha revista Pipoca Moderna.
Ah! Dia 19/02 é também aniversário de Evandro Mesquita.



Blitz
Pipoca Moderna – nº 1 – outubro/1982
Por Antônio Carlos Miguel
(Nota: a transcrição inclui eventuais erros de português)



Enfim uma banda sem preconceitos nem dogmas nem dobermans nem pointer...

Eles chegaram dando geral. Subiram às cabeças com “Você Não Soube Me Amar”, tomando de assalto as rádios de Rio, São Paulo e Salvador com a estória de um amor acabado numa linguagem jovem, direta. Rock. “Vocês conseguiram dizer tudo o que nós gostaríamos de ter falado mas nunca tivemos oportunidade ou coragem de dizer”. Foi mais ou menos isso que o pai de uma das cantoras falou para a filha, também se identificando com a letra da canção. E é isso o que mais surpreende no sucesso da banda que está ocupando todos os espaços, das AMs às FMs. Eles estão transando uma nova linguagem e atingem os mais variados públicos.

Agora, depois do sucesso da canção – lançada num meio-compacto que vendeu, em dois meses, 50 mil cópias – eles enfrentam uma prova de fogo com o LP As Aventuras da Blitz. Com algumas músicas com problemas na censura, o disco foi editado com lacre e proibido a menores de 18 anos. Fato que não assusta os seis integrantes da banda. Afinal, eles chegaram prontos pra tudo.

O núcleo a Blitz formou-se em torno de Evandro Mesquita (cantor, compositor e guitarrista) e Ricarado Barreto (guitarrista). Eles formaram o grupo a cerca de dois anos e vinham se apresentando em bares da zona sul carioca. Diversos componentes passaram pela banda até a atual formação: Evandro, Ricardo, Márcia e Fernanda (vocais), Antônio Pedro (baixo) e William (teclados). Estes seis, mais o baterista Lobão, fizeram shows no Circo Voador, no Arpoador, no verão passado e não se separaram mais.

Evandro veio do grupo teatral “Asdrubal Trouxe o Trombone”. Sempre ligado a música, ele costumava aparecer em algumas cenas empunhando seu violão acústico. Como ator, também trabalhou nos filmes Menino do Rio e O Segredo da Múmia. Ricardo tem uma longa batalha nos grupos de rock no Rio, em São Paulo (Piloto Automático) e em Florianópolis (Banda Jhara). As duas cantoras, Márcia e Fernanda, vêm de experiências em teatro e dança. Márcia, paralelamente à Blitz, participa do grupo teatral Disritmia. Fernanda dança com Tatiana Lescova e participa do grupo de dança contemporânea Fonte. Antônio Pedro foi integrantes dos Mutantes – no período registrado no disco ao vivo – e participou das bandas de Tim Maia, Raul Seixas e Lulu Santos. William é paulista e antes da Blitz tocou no grupo Apocalipse, Gang 90 & Absurdettes e com Marina.

Eles transam em sua música diversas informações mas não recusam o rótulo de roqueiros: “Rock é música do século XX”, afirma William. “Mas nós transamos de Moreira da Silva a Bob Marley”, completa Evandro, “passando por Novos Baianos (o disco Acabou Chorare fez a minha cabeça), Beatles, Stones, Dylan, Pelé, Garrincha, Zico, Caetano... e milhares de outros. Não dá pra citar todo mundo. Aliás, no disco nós botamos uma relação de nomes que fizeram a nossa cabeça, nos ajudaram e contribuíram para essa coisa toda”.

A melhor definição da salada sonora da Blitz veio deles próprios: “Rock de breque” ou “Breque’n’Roll”. Canções ritmadas com muito papo. Descontração, brincadeiras e um clima teatral que pode ser creditado ao passado asdrubalino de Evandro. Apontado em diversas matérias como líder da banda ele reage e diz que a Blitz não tem chefe: “Somos todos índios sem caciques”. Nesta tribo, aberta aos que ainda não foram capturados pelo sistema, rola a alegria e o prazer.

Quanto ao disco eles estão empolgados com o resultado e o clima de liberdade que cercou as gravações. “O pessoal da gravadora entendeu a nossa postura e não interveio em nada”, diz Evandro. “Não encontramos barreiras e conseguimos criar uma concepção nova, desde a música até a capa e mesmo a forma de trabalhar o LP. Releases, cartazes, fotos... tudo isso com uma linguagem fiel a nossa proposta. Muito de nossa vivência, o lance teatral, o visual das estórias de quadrinho...”.

Para as apresentações ao vivo a Blitz também joga com estas variadas informações. Encenações, vestuários, luzes, tudo o que possa enriquecer sua presença no palco.

Nas canções do disco, um painel de influências: há um rock jovem guarda, “Volta ao Mundo” (Evandro/Chacal e Patrícia Travassos); duas faixas com sonoridades caribeanas, “Geme Geme” (Barreto/Antônio Pedro e Bernardo Vilhena) e “Vai, Vai, Love” (Evandro e Barreto); alguns blues, “Cruel, Cruel” (Evandro e Barreto), Totalmente em Pranto” (Evandro e Barreto) e “Vítima do Amor” (Evandro) e baladas e rocks confirmam a disposição da banda.

Gravado nos meses de julho e agosto nos estúdios da Odeon, em Botafogo, no Rio, As Aventuras da Blitz é um disco repleto de emoções e surpresas. É de “blitz” assim que o mundo precisa. Chega de barras pesadas e sujeiras.


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