15 de outubro de 2024

O Rock in Rio Avisa: O Rock Morreu!

Essa edição 2024 do Rock in Rio deu o que falar. Eu não assisti nada, não ouvi nada e não faço ideia de quem tocou e em que palco subiu, tirando, claro, os artistas que viralizaram nas redes.

Sinceramente não estou nem aí se teve mais sertanejo e funk carioca do que rock. Sinceramente não estou nem aí pra quem paga pra ir nesses lixos de festivais. Eu generalizo porque não existe mais tanto artista significativo para tanto festival.

No caso do Rock in Rio, deixei de dar créditos a ele depois da 2ª edição que aconteceu em 1991 no Maracanã. Mais que isso, depois do ‘Rock in Rio Lisboa’, passei a dar risada a cada edição que anunciavam.

O Rock in Rio 3, que aconteceu em 2001 de volta à Cidade do Rock, eu fiz cobertura pelo site que eu trabalhava (tantofaz.net – que não existe mais) e já achei uma porcaria. Assisti pela televisão e me decepcionei. Assim como nas outras duas edições em que vários amigos foram, nessa 3ª vários estavam lá e falaram muito mal da organização e da qualidade do som, que estava baixo com diversos autofalantes espalhados pelo público. Um desses amigos, inclusive, disse que se arrependeu de ir porque queria mesmo era ver Foo Fighters, mas que, por causa do som chinfrim, o show foi uma bosta.

Quanto aos artistas escalados para 2024, isso é coisa de gente que não está nem aí para o público e isso ficou claro quando uma das organizadoras disse que o Rock in Rio é mais que um festival musical, é uma experiência imersiva. Oi!?!

Fato é que a organização desse pseudo festival de música já sabe como lucrar com o evento e sabe que, pra isso, a música é o de menos. O lucro vem da transmissão de TV e internet, e das empresas que alugam espaço para vender comida, bebida, suvenires, roupa, acessórios entre outras bobagens. Até o copo o qual você vai usar pra beber os líquidos que você compra são caríssimos e se você não os tiver, não bebe.

Numa boa, sem querer ofender as pessoas que foram agora e em outras edições passadas desse e de outros festivais, azar é o delas se resolveram gastar o suado dinheiro nesses lixos.

É preciso saber de um fato importante: são poucos artistas que sabem fazer show em festivais (hoje quase nenhum). Nem todo mundo é Queen! Então, se você quer ver seu artista preferido, certamente não será em um festival que você vai se satisfazer.

O rock morreu nos primeiros anos do século XXI e o que temos hoje são zumbis que são alimentados por gente que acha que ir a um show é ainda uma experiência única. Já foi, mas não é mais. Em tempos de padronização de tudo, a música, os artistas, as composições e os festivais, não fogem disso.

Os artistas que um dia foram relevantes, e que ainda estão na ativa hoje, só querem juntar mais dinheiro para garantir seu futuro e de sua família. Não querem mais saber de fazer músicas fora da caixinha, de fazer algo diferente, de experimentar. Hoje fazem o básico. Pior, ao invés de assumirem que não estão mais interessados em serem criativos, continuam a lançar álbuns com 15 faixas que, em muitos casos, as 15 são uma porcaria. Nando Reis inclusive lançou, recentemente, 30 músicas! 30!!! Até escutei, mas não dou mais que nota 4 para qualquer uma delas. Mesmo tendo Peter Buck (R.E.M.) na guitarra, nada se salva. Não tem sequer 5 que você possa falar “essas são mais ou menos”. Artistas hoje fazem música sem tempero, sem razão e sem tesão.

Tomando o Rock in Rio como exemplo, não haverá mais festivais musicais com line up de relevância, pelo contrário, daqui uns anos esses festivais estarão recheados de bandas cover porque não haverá mais sentido em existir novos artistas de rock. E não estou querendo depreciar os festivais, até porque futuramente será muito mais divertido assistir a um show do Queen cover do que a um show chulé do Coldplay (que hoje já é um veterano).

O rock hoje não faz mais sentido como um dia fez. O rock hoje não é algo tão desejado pelo jovem como um dia foi. Os tempos mudaram, os contextos mudaram. Os jovens hoje tem uma porção de outras coisas que os distraem e que representam o contraditório. O rock deixou de ser rebelde há décadas. Deixou de ser uma fuga há décadas!

Festivais que prestigiam o rock estão fadados a acabar. Entre tantos conhecidos há o Coachella, Reading, Glastonbury, Lollapalooza e o próprio Rock in Rio que precisarão se reinventar se quiserem sobreviver às próximas décadas. O RiR já começou a fazer isso incorporando esse monte de gênero musical duvidoso. Só falta agora mudar o nome, algo que dificilmente irá fazer. Minha sugestão é que as edições futuras poderiam se chamar Rock in Rio Sertanejo ou MC Rock in Rio ou, até mais plausível, Rock in Rio Qualquer Nota.

8 de outubro de 2024

O Rock Farofa dos anos 1990

 

Os anos 1990 foram bem intensos. Tão intensos quanto a década anterior que pipocava novidades todos os dias, seja na cultura pop, no comportamento ou nos costumes. Inclusive a virada dessas décadas ficou marcada pelo fracasso da Alemanha Oriental com seu Muro de Berlim que prenunciou o fim do comunismo da União Soviética. Dessa forma entramos nos 1990.

No Brasil, a MTV foi o ponto de referência, principalmente, entre 1993 e 1998. Bem o miolo da década.

A música – que é o objeto deste texto – começou já sem muita novidade. No caso do Brasil, a década começou com o pé esquerdo por conta das bandas cover e terminou da mesma forma porque, depois do surgimento de alguns nomes já medianos entre 1997 e 2000, o rock brasileiro afundou de vez. Dois fatores ajudaram no fim do rock feito no Brasil, um sendo consequência do outro: 1º) A falta de criatividade e talento; 2º) O desinteresse das gravadoras (algo óbvio). Junto a esses dois fatos, ainda teve o surgimento do Naspter, que bagunçou o mercado fonográfico mainstream, e a chegada da internet caseira via cabo.

Mas o que quero falar aqui é da qualidade já ruim do rock feito durante os 1990, mas não digo apenas no Brasil e sim no mundo. A década começou com duas cenas que chamaram a atenção que era a Madchester com Stone Roses, Happy Mondays, Charlatans e outras; e o rap jazz com grupos como Arrested Development, Guru, A Tribe Called Quest, De La Soul e outros.

Dessas duas cenas, minha preferida era exatamente o rap jazz porque os nomes da Madchester eram todos bem medianos e o único bom nome, e o mais forte deles, era o fabuloso Stone Roses. Mesmo o SR já não tinha uma sonoridade única, e suas músicas já remetiam diretamente às suas influências. A mesma coisa aconteceu com Lenny Kravitz que apareceu com um belíssimo disco – até hoje o melhor de sua discografia – mas que a sonoridade também remetia a tantos outros artistas.

É bom lembrar também que com o heavy metal aconteceu a mesma coisa com aquele bando de grupo de metal farofa laquê, um pior que o outro.

Resumindo: a década de 1990, tirando o rap jazz, começou com novas bandas que já não tinham uma sonoridade nova ou única. Tudo que você escutava nesse período te remetia a nomes das décadas de 1960, 70, 80 e, dessa forma, a década se seguiu.

A partir de então a originalidade no rock acabou. Teve sim alguns nomes que se sobressaíram a isso, mas foram poucos, bem poucos. Pra mim, a tão querida cena grunge não era muito diferente do metal laquê. Muita pose e pouca música. Como disse certa vez Kris Novoselic (ex-baixo Nirvana), a cena grunge nunca existiu de fato, era apenas algo criado por jornalistas. Tirando alguns poucos grupos, de 3 a 5 no máximo, o resto era lixo. O que valia alguma coisa mesmo era Melvins, Nirvana, Mudhoney e só. O resto era muita pose pra nada.

Soundgarden, Stone Temple Pilots, Alice in Chains e outros eram uma porcaria que não traziam nada de novo. O STP tinha aquele vocalista que adorava ficar sem camisa e fazer pose. Podia muito bem fazer teste para cantar no Cinderella, por exemplo. A mesma coisa digo do Chris Cornell e do Eddie Vedder.

Não dá pra você dizer que sua banda tem influência de Soundgarden, seria muita falta de conhecimento e pobreza sonora afirmar isso. Melhor dizer, por exemplo, que é influenciada por Black Sabbath e Deep Purple.

O próprio Foo Fighters, que é pós-grunge, é mais original e deixa esses grunges todos com vergonha.

A impressão que dava, lembrando que eu estava na MTV durante todos esses anos, é que era uma corrida de cegos entre essas bandas e suas gravadoras. Quem iria lançar o disco mais mais ou menos? Quem iria fazer mais pose? Quem iria fazer mais show?

Eu era fã de Nirvana, mas mesmo ele não tinha originalidade no som. As composições e os discos eram bem melhores que de outros grupos, mas sempre que você escutava vinha na cabeça Sex Pistols, Husker Du, Pixies, Killing Joke, Clash, entre outros nomes dos 70 e dos 80. Mesmo assim Nirvana era a mais original de todas ao lado exatamente de Melvins e Mudhoney.

Ao contrário das outras bandas, o Nirvana era sarcástico e gostava mesmo de se divertir. As outras, como disse, se preocupavam mais com a pose, a cara de mau e com o condicionador que usava no cabelo.

A força dessas bandas era tão nula que, com o suicídio de Kurt Cobain e o fim no Nirvana, a mídia nem quis cogitar outra hipótese a não ser a morte da cena grunge. Tudo bem, o Pearl Jam conseguiu seguir em frente com discos irregulares, mas tudo que lançou depois se tornou irrelevante. Gosto do disco Binatural, mas você pode juntar esses lançamentos todos que não dá uma coletânea de 12 músicas.

Até o Red Hot Chilli Peppers se enfiou na lata do lixo depois do lançamento de Blood Sugar Sex Magic. Foi ladeira abaixo e é assim até hoje com lançamentos insignificantes que também não rendem sequer uma coletânea de 15 músicas. E olha que eu escuto RHCP desde “Mommy, Where’s Daddy”, e comprei Freaky Styley, The Upflit Mofo Party Plan, Mother's Milk e Blood Sugar no período de seus lançamentos. O FS e o UMPP dei sorte de terem sido lançados pela EMI Brasil mesmo sem ninguém conhecer o grupo.

Enquanto essas bobagens todas de grunge e britpop eram enaltecidas pelos “jornalistas especializados” e pelo público, eu preferia ficar na minha com grupos como Morphine, Presidents of The USA, Possum Dixon, Squarrel Nut Zippers e o veterano R.E.M. que continuou a lançar bons discos durante a década.

No caso do Presidents, foi uma grande descoberta. Na época do 1º disco chegou na MTV um show do grupo realizado embaixo do Monte Rushmore e, entre minhas funções, estava a de assistir a todos os shows internacionais que chegavam na MTV pra avaliar, legendar, separar em blocos, etc. Esse show me deixou de queixo caído! Era um trio formado por um guitarrista que tocava com 3 cordas, um baixista de tocava com 2 cordas e um baterista que tinha uma bateria com poucas peças. E mesmo com tudo isso, a sonoridade do grupo deixava aquelas bandecas do tal hardcore californiano (que de hardcore não tinham nada) no chulé. Mas põe chulé nisso!

Com esses grupos acontecia a mesma coisa: era muita pose pra pouco som. Pennywise, No Fun at All, Biohazard, Offspring, Bad Religion, NOFX, Rancid... tudo porcaria! Eu assistia aos clipes, a algumas apresentações ao vivo, ouvia os discos e chegava a ficar com vergonha alheia de tão ruim que era.

Daí vem um grupo com uma guitarra de 3 cordas, um baixo de 2 cordas, fazendo o mais puro punk rock divertido e com muita ironia e colocava esse bando de grupo tosco no chulé!

Pra terminar essa fria análise, e pra ver como as coisas foram exatamente assim, é só perceber que tirando um ou outro nome dos anos 1990, os novos grupos surgidos após a década, a maciça maioria tem como influências os grupos dos anos 1980, 1970 e 1960. Até porque seria uma vergonha dizer ter como influência o Offspring ou o Oasis. Pelamordedeus, né!?

PS: O tal rock alternativo também não fica de fora dessa falta de qualidade. Weezer, Pavement, PJ Harvey, Primus e até Sonic Youth também adoravam fazer poses. Muita gente usava camisetas do SY, mas escutava no máximo umas 3 músicas do Goo. Sonic Youth é chato pra caceta! Como todos os nomes citados neste texto, nenhum desses grupos alternativos deixou legado.