Tulipa Ruiz |
Há algo que vem acontecendo nos últimos anos e que eu,
sinceramente, acho engraçado. Falo desses eventos sobre música que vem
acontecendo com mais frequência. Rodas de debates sobre o mercado
independente, o mercado mainstream, o que fazer para dar certo, novos
negócios... sei lá. Pra mim um monte de blá blá blá. Já participei de uns dois
desses: em um fiquei praticamente calado e no outro apenas contei em detalhes
como era difícil conseguir gravar uma demo nos anos 80.
Uma coisa é você juntar donos de selos independentes já
consolidados com altos executivos (e/ou ex) de grandes gravadoras e pequenas
que estão começando algo sério, e junto a todos eles artistas já consagrados no
mainstream, artistas consagrados independentes e tals. Fazendo coisa séria
mesmo, com cachês, taxa de inscrição, pocket show especiais, debates,
palestras. Nunca vi nada sério assim.
Certa vez Pepe Escobar escreveu na Folha de SP que o rock
se debatia em gueto e que dele não sairia. Todo mundo ficou puto, foram atrás
dele e tudo. Nasi até deu porrada nele! O tempo mostrou que Pepe estava
completamente errado, como as cenas dos anos 80 e 90 mostraram. O mundo era
outro, o contexto outro. Ainda havia muito por vir no universo da cultura pop.
Muito!
Mas se Pepe falasse isso hoje, ele estaria completamente
certo. Pego emprestadas as palavras dele: hoje a cena rock/pop
brasileira se debate em guetos e assim vai ser.
Não adianta ficar criando eventos que discutam o mercado,
a cena independente, a mídia, redes sociais e blá blá blá. Muitas vezes o que
serve pra um, não serve pra outro. É tudo muito simples e se resume de forma
curta e grossa em ter talento. Ponto!
Desde o início dos 2000 quando o Napster destruiu o
modelo de mercado fonográfico que havia, a ideia de ter rock brasileiro no mainstream novamente morreu.
Veronica Decide Morrer |
Não só isso, mas o mundo mudou. Até a chegada da internet
e de toda essa revolução tecnológica que ainda vivemos, poucas eram as opções
de diversão do jovem, e a música era a principal válvula de escape nesse contexto.
Depois, com o surgimento de outras ferramentas tecnológicas, novas profissões,
novos modelos de negócios, novas formas de diversão (viajar ficou bem mais
fácil, por exemplo), o interesse do jovem se diluiu em outras coisas, e a
música perdeu muito sua importância.
Tenho uma filha que logo irá completar 17 anos. Ela não
compra cd ou vinil, e nunca se viu obrigada a escutar um álbum inteiro. Consome
música virtual e são faixas soltas. Ela não está nem aí se o álbum tem um
conceito, se gostou só de 2 ou 5 músicas, é com elas que vai ficar. É assim com
essa nova geração que nasceu junto com o Napster. Ela vai em shows, mas sempre
em festivais, como o Lollapalloza, que tem a dinâmica igual a dessa geração:
tudo ao mesmo tempo agora.
Por isso não adianta fazer rodas de discussões teóricas
sobre o que fazer na cena musical atual, como se destacar, como cuidar de seu
negócio (no caso sua carreira musical ou selo). Acabou, a cena musical, seja
ela qual for nunca mais vai existir como existiu. Não vai ter mais nem a metade
da força que já teve, principalmente o rock e o pop.
Vou dar o segredo do sucesso para a atualidade: vai fazer
muito show, grave suas composições com qualidade, disponibilize-as nas
plataformas digitais. Se forem boas, todo mundo vai escutar. Aí
pronto. Acabou. Vai trabalhar! hahaha
Naverdade hoje em dia nem adianta mais fazer um monte de shows. Eu
vejo um monte de coisas novas que são bem legais, que têm tudo pra todo mundo
sair cantando, tocar no rádio, na novela... no entanto, nada acontece.
Não torço contra. Adoro música, pô! Adoraria ver uma nova
cena rock/pop invadindo o mainstream. Quer tocar, fazer um som, então ok, faça
isso, mas não espere que suas músicas parem a multidão. Isso não vai acontecer.
Não está fácil nem pra quem já tem o nome consolidado no mercado.
Em 2015 iniciei um projeto que não acabou. Um
documentário musical onde conversei com músicos e executivos. Os executivos
apostavam que o rock voltaria com tudo em 2016/17, incluo aí executivos de
peso, que têm influencia no mercado. E o que aconteceu? Adiantou a Globo fazer
“reality show” com banda de rock, novela com trilha rock ? Isso não pega mais. Como falei, o contexto é outro.
Eu também acho uma pena ver artistas talentosos com pouco
público ou com público segmentado, sem espaço na mídia, mas a realidade é essa
e pronto. Vejo jornalista tentando forçar uma cena e isso é errado. Debates e
eventos não vão fazer a menor diferença para a cena alternativa.
Sei de artistas grandes que já venderam horrores – discos
de ouro e tals, mas que hoje são um desastre de vendas com seus produtos
físicos, mas que vão muito bem nas plataformas digitais. Recentemente o Ira!
fez uma coletiva para lançar o DVD ‘Ira! Folk’ e te digo que só foi o César
Gavin do Vitrola Verde (seu trabalho independente). O RPM lançou disco de
inéditas, ninguém falou nada, a banda acabou de novo e segue o jogo. O Roger
(Ultraje) e Kiko Zambianchi são do time que também não se preocupam mais em
lançar álbuns novos. Se pintar uma música nova ok, incorpora no show e segue o
baile.
O mesmo acontece com os artistas menores em relação aos
seus lançamentos. A grande diferença está na agenda, claro! O artista
consagrado que não vende mais vive dos cachês de seus shows, o artista
independente é obrigado a ter outro emprego pra poder pagar os boletos.
Amo a Tulipa Ruiz, já vi trocentos de seus shows, é uma artista fabulosa, suas letras, seu
domínio de palco, composições, produção, arte e design de seus álbuns. Pra mim
disparada ela é a melhor de sua geração. Um talento que não se via desde Marisa Monte e Cássia Eller. E mesmo com sua grandeza artística ela não vai chegar
onde Marisa e Cássia chegaram. Deveria, e muito. Mas não é mais uma realidade possível
no nosso país.
O que aconteceu com a cena 80 e 90 também tem muito a ver
com o momento político e econômico do país. Em uma a abertura, em outra o
Real... parece ser aquela coisa de estar no lugar certo, na hora certa.
E o futuro vai ser esse, porque na hora que os
consagrados forem embora, vai restar os independentes, e cada um com seu
público e será absolutamente normal essa situação.
Por isso digo, não adianta ficar inventando debates
sérios sobre a cena musical independente (ou não), ou sobre o futuro dos
negócios, ou como criar uma cena.... É jornalista que gosta desse blá blá blá.
Artista quer mostrar sua arte, e se possível viver dela.
No universo do futebol muitos são os jogadores, mas
poucos são os que recebem mais que dois salários mínimos. Na música é a mesma
coisa.
Hoje, mais que nunca, se você quiser fazer música deve
ser por amor, e só por amor (como acontecia com a cena dos 70, onde não havia
apoio, mas todo mundo se virava).
PS: Festivais alternativos não servem pra nada! Apenas se debatem em guetos.
Um comentário:
Tomara que vc esteja errado como o Pepe Escobar. Rsrsrsrs
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