Vou escrever em ordem cronológica, por décadas. E este mês não há nenhum clássico da jovem guarda, mas sim da pré-jovem guarda, e são dois.
Maravilhoso poder voltar ao final da década de 1950, porque foi nesse período que o rock brasileiro começou a dar seus primeiros passos. Ele começou lento, desconfiado, medroso, andando sorrateiramente e olhando para os lados. A primeira gravação (em inglês) aconteceu em 1955. Em 1957 Cauby Peixoto gravou o 1º rock cantando em português, a maravilhosa “Rock’n’Roll em Copacabana” (uma música pesada pra época e que nunca ninguém teve o interesse de regravá-la).
Nora Ney e Cauby Peixoto estavam bem longe do rock, mas gravaram os primeiros rocks por outros motivos: Nora por falar muito bem o inglês e Cauby por ser o cantor mais conhecido daquela época (nada melhor prar divulgar o novo ritmo).
A partir da gravação de Cauby as coisas começaram a ficar mais intensas para o rock (os dois lançamentos, em 1955 e 57, foram bem sucedidos) e assim começaram a surgir novos nomes, dedicados 100% ao rock. Foi o caso dos irmãos Campello, Tony e Celly. Em 1958 eles lançaram o 78rpm com “Forgive Me” e “Handsome Boy”. Um dos primeiros nomes do rock brasileiro era uma mulher, ou melhor, uma garota de 16 anos, Celly Campello! Certamente ela também foi uma das primeiras roqueiras do mundo!!!!! Mas e daí, né?! Afinal estamos no Brasil.... Lançamento histórico. Cada lado para um irmão, Celly cantou “Handsome Boy”.
Ainda da 1ª geração, tem o compacto lançado por Ronnie Cord, em 1964, com o clássico “Biquini de Bolinha Amarelinha” e no lado B “Veludo Azul”. As duas músicas são versões - nessa época o rock autoral dividia espaço com versões e covers. “Biquini” fez grande sucesso na época do lançamento e voltou a ser tocada em 1976 por conta da trilha sonora da novela ‘Estúpido Cupido’.
A medida em que os anos passavam, as coisas foram ficando intensas para o lado do rock. A jovem guarda explodiu, dezenas de artistas eram lançados, programas de rádios e tvs, capas de revistas. Mas depois da onda da JG, tudo ficou mais nebuloso e todos se perguntavam o que aconteceria?! Dessa turma, sendo curto e grosso, só sobrou Roberto Carlos e Erasmo Carlos. Veio a Tropicália e sacudiu tudo. Na década de 1970 teve os que aproveitaram dessa mistura de experimentalismo, rock, bossa e mpb, e teve os que ignoraram. Em 1973, uma das maiores bandas de rock do Brasil, e filha direta do Tropicalismo, lançou um dos clássicos de sua discografia (são tantos!). Falo de Novos Baianos e do disco ‘Novos Baianos Futebol Clube’, que tem “Sorrir e Cantar Como Bahia”, “O Samba da Minha Terra”, “Cosme Damião”, “Os ‘Pingo’ da Chuva”... afff são todas! Coisa fina, coisa linda!
Em 1974 Rita Lee, finalmente 100% livre do Os Mutantes, lançou seu primeiro disco com o Tutti Frutti, ‘Atrás do Porto Tem Uma Cidade’. Recebeu críticas negativas, li algumas delas, e não fazem sentido. O disco é bom, cheio de clássicos, a banda fez um monte de shows, e foi se afinando cada vez mais. Só pra manter a rixa rsrs prefiro o ‘Atrás do Porto...’ ao ‘Tudo Foi Feito Pelo Sol’, que Os Mutantes lançou também em 74 (um dos mais vendidos da década).
(Todo esse material antigo que falo aqui, incluindo Cauby, Nora Ney... é só procurar no You Tube que tem tudo lá).
Não me pergunte o motivo, mas posso te garantir não ser coincidência, mas um ano depois do primeiro lançamento, também em junho, Rita Lee & Tutti Frutti lançou o grande clássico da discografia: ‘Fruto Proibido’, que só prova o quanto tocaram nesse período, porque a química é nítida no disco, a banda voando baixo! Dizer o quê de ‘Fruto Proibido’? Clássico do começo ao fim. Não tem uma que escapa. Disco que atravessa gerações.
Nesse mês de junho foi a geração 80 que mais lançou discos. São vários os clássicos. O primeiro dessa década foi um compacto lançado em 1981, que não fez grande sucesso, mas é de suma importância para o rock brasileiro. A Gang 90 & Absurdettes lançou o 1º compacto pelo selo independente HOT, de Nelson Motta. Com distribuição acanhada, não teve uma alta vendagem, mas fez estrago, porque mudou o rumo do rock brasileiro pra sempre. As músicas gravadas foram “Perdidos na Selva” e “Lilik Lamé” (versão de “Christine”, de Siouxsie and The Banshees). A Gang participou do Festival Shell na Globo, chamou a atenção e, como dizem, o resto é história.
Você querendo ou não, outro responsável por dar uma força ao rock, é Lulu Santos (e tem novamente as mãos de Nelson Motta). Já velho conhecido da cena rock desde os 70, ele lançou em 1982 o primeiro disco 'Tempos Modernos', que fez um mega sucesso e deixou pra sempre canções como “De Repente Califórnia”, “Areias Escaldantes” e “De Leve” (versão de Get Back).
Amigos de Lulu eram (e são) Herbert, Bi e Barone do Os Paralamas do Sucesso que, em 1983, lançou o 1º compacto com “Vital e Sua Moto” e “Patrulha Noturna”. O compacto vendeu 10 mil cópias, uma coisa estupenda pra época. Se hoje “Vital...” ainda toca nas rádios, imagine nessa época!!!
As ligações continuam, agora com Lulu Santos, que foi produtor do maravilhoso ‘Televisão’, 2º do Titãs, lançado em 1985. Beeeeem diferente do 1º disco, ‘Televisão’ já previa o que viria pela frente com músicas como “Pavimentação”, “Massacre”, “Não Vou Me Adaptar” e “Autonomia”. Lembro que “Televisão” tocou muito nas rádios, a banda ia em todos os programas possíveis de tv e foi aos poucos caindo no gosto da galera.
A postura da banda já era outra, um pouco mais agressiva. Lembro até de ver um dos últimos shows desse 2º disco, onde tocaram uma música que se chamava “O Grito”, e que depois virou “AA UU”. E aí está outra coincidência de data. Foi também em junho, mas de 1986, que Titãs lançou o grande disco de sua carreira... qual? Qual? Quaaaaal? 'Cabeça Dinossauro'! Aí o bicho pegou e a banda finalmente se consolidou no mercado e caiu de vez no gosto da galera. “Polícia”, “Bichos Escrotos” (censurada), “Família”, “Igreja”... Falar o quê???
1986 foi ano de muitos clássicos (vários deles com postagem no Sete Doses, descritos pelos protagonistas). Muitos desses clássicos tocaram a rodo nas rádios e na tv, fazendo inclusive parte de trilha de novela e tals. Porém há dois desses diversos clássicos que não chegaram à grande mídia, até porque foram lançados por bandas punks. Inocentes lançou o ‘Pânico em SP’ (produção de Branco Mello do Titãs) e o Cólera lançou o ‘Pela Paz em Todo Mundo’. Nem vou citar as músicas clássicas desses discos porque são todas. Dois discos fodásticos e necessários. Eu punk velho nem tenho o que dizer, de tão grandiosos esses lançamentos.
Um ano depois de vender mais discos do que qualquer outro artista de sua geração, com o ao vivo ‘Rádio Pirata’, e vindo de uma ascensão de 3 anos, o RPM em 1987 estava tentando sobreviver, porque o sucesso estrondoso e a exposição excessiva na mídia, fez os egos explodirem e a banda ruir. Nessa tentativa de sobrevida, Milton Nascimento juntou a banda em um momento de separação e gravou um single com as músicas “Feitos Nós” e “Homo Sapiens”. Em formato de vinil cheio, mais uma vez a gravadora mamou nas tetas do consumidor e, apesar de apenas duas músicas, era vendido como disco normal. Milton até conseguiu dar essa sobrevida ao RPM, mas a banda nunca mais voltou a fazer o sucesso que fez.
E pra fechar, o único lançamento dos 90 do mês de junho, mas não menos clássico que outros citados aqui: o 1º disco do Maskavo Roots, um clássico belíssimo dessa década que foi recheada de lançamentos de peso. Ok, esse disco não é tão conhecido como os primeiros de CSNZ, Raimundos, mundo livre s/a, Planet Hemp... mas não deixa de ser um disco e tanto! Na fila para entrar no estúdio e gravar, a banda estava em SP pronta para gravá-lo, mas o cronograma do Banguela atrasou, e o Maskavo ficou na capital paulista no aguardo e, enquanto isso, passou a ensaiar o disco. O resultado dessa espera e de todos esses ensaios é nítido nesse disco que tem a produção de Miranda e de Nando Reis. Uma pérola que ouço sempre!
Nenhum comentário:
Postar um comentário