Pessoal da Fluminense FM |
É impressionante ver o quanto o próprio brasileiro desdenha de sua cultura. Aqui falo da cultura pop, da música e de um pouco de tudo.
Fico embasbacado em ver o quanto os meios de comunicação desprezam a editoria de música. Em um tempo onde ela é ultra consumida, está ao alcance de todos, há lançamentos de diversos formatos a todo instante: cds, álbuns virtuais, discos, dvds, livros, shows, turnês, videoclipes, documentários, filmes, quadrinhos, entre outros produtos; mas sabe o que a “mídia especializada” faz com tudo isso? Nada. Absolutamente nada.
Você abre o jornal das grandes capitais, principalmente Rio-SP, e vê o tanto de eventos que tem, e ninguém faz cobertura disso. Ninguém dá uma linha sobre o show que iniciou a turnê x, sobre o show que artista x gravou o dvd, da tarde de autógrafos e tudo o que está por trás daquele lançamento.
Costumo fazer analogia com o futebol. Perceba o que o jornalismo esportivo, especializado em futebol, faz com uma única partida de futebol: vai ao treino, quer entrevista coletiva e se possível uma exclusiva, mostra o antes, durante e depois da partida. Entrevista os jogadores, mostra os melhores momentos, discute certos lances, e tudo o que gira em torno dessa partida e do campeonato em questão.
Perdidos na Noite |
Na cultura pop isso é completamente cabível. Quando eu trabalhava na MTV, todo ano apresentava projetos novos, programas novos. Entre eles o Ultrasom e o Quiz, que fizeram parte da grade durante alguns anos.
Outro projeto que apresentei mais de uma vez, foi um jornal em um formato de entretenimento, com convidados, opiniões, comentários, bem aos moldes dos programas sobre futebol. Sempre quis fazer um programa nesse formato. Mas por duas vezes a ideia foi recusada.
Enfim, quem pode fazer algo para ajudar a divulgar a cultura pop, a música, se nega. Não entende. O pior que isso não acontece só nos grandes jornais, revistas, nas grandes emissoras de tv fechadas ou abertas, nos grandes sites/portais da internet e também não só dentro da mídia que se diz especializada, segmentada. O medo de sair do lugar comum e sair da zona de conforto atinge também as gravadoras, os selos, as editoras e as grandes empresas que alimentam a cultura pop.
O departamento de marketing dessas empresas e o pessoal que cuida de certos conteúdos em agências de publicidade, seguem a risca o manual que aprenderam na faculdade. E ai de quem arriscar! Ai de quem sair do que está escrito!
Fábrica do Som |
Hoje em dia há um fator essencial para a criação que está cada vez mais escasso, exatamente por conta desses universitários bundões que cheiram a fralda e que tem medo até de sair da casa dos pais, que tomam conta desses departamentos: é o fator ‘Foda-se’.
O que acontece com essa editoria é a mesma coisa que acontece no futebol, e no próprio mercado fonográfico: quem manda não entende lhufas. É como qualquer Ministro brasileiro: não existe um especializado na área em que foi posto.
Há dois meses tive a chance de ir conversar com o dono de uma rádio aqui de SP. Eu e um amigo. Fomos levar algumas ideias, conteúdo diferenciado. Em certo momento o dono perguntou: “o que acham da rádio?”. O amigo respondeu na lata: “careta”. O dono arregalou os olhos, e falamos de ideias que queríamos aplicar. Programas que gostaríamos de fazer. Lembramos da MTV em seu início, digo entre 1990 e 1996, que foi um grande período, e é exatamente o período em que todos daquela geração lembram com carinho e saudades. Esse foi o período exato em que reinou o ‘Foda-se’. Não tem um que não fale: “foi o melhor período da MTV”. O dono da rádio ficou assustado (no bom sentido), mesmo sendo ideias simples. Ele até concordou com algumas colocações que fizemos. Mas o medo do 'Foda-se' o fez ficar na dele.
Por que você acha que em SP todos lembram da TV Mix, programa na TV Gazeta que tinha Astrid, Sérginho Groisman, Grace Gianoukas, Marcelo Mansfield? Porque era uma zona absoluta, onde o ‘Foda-se’ também reinava. Dá pra lembrar também do Fábrica do Som (Tv Cultura), Perdidos na Noite (Band), e tantos outros programas locais. Dá pra lembrar da Fluminense FM, do Circo Voador, do Lira Paulistana, Madama Satã, as revistas Pipoca Moderna e Roll. Era tudo ligado ao ‘Foda-se’. Um bom exemplo recente é o programa Pânico. Quer mais ‘Foda-se’ que aquele começo do Pânico na televisão? Fez até a Globo mudar.
MTV 1991 |
E sabe no que resultou todos esses ‘Foda-ses’? Em uma geração super criativa, em boas lembranças; em histórias que se tornaram livros, documentários e filmes. Tudo isso resultou em mudança de comportamento, na quebra de paradigmas. Infelizmente isso está escasso hoje, por causa de tanta gente bundona que toma conta das chefias desses meios de comunicação, e que cada vez mais tem medo de arriscar, de ligar o ‘Foda-se’.
Hoje esse medo, essa coisa bundona, a falta do ‘Foda-se’ atinge exatamente as áreas que sempre foram vistas como sendo de vanguarda. Agora tudo é padronizado, robotizado (inclusive os piercings e as tatuagens desse pessoal). Assim é mais fácil, como já disse, ninguém quer sair da zona de conforto.
Esse desdém à cultura pop brasileira deixa de arrecadar verba em publicidade e marketing, deixa de criar empregos, deixa de girar a economia, deixa de criar novos produtos. Todo mundo sai perdendo, principalmente quem poderia mais ganhar com isso.
PS: O livro 'Como a Geração Sexo, Drogas & Rock'n'Roll salvou Holywood' é um perfeito exemplo do que escrevi aqui.
PS: O livro 'Como a Geração Sexo, Drogas & Rock'n'Roll salvou Holywood' é um perfeito exemplo do que escrevi aqui.
Um comentário:
Paulo concordo com a tua opinião, mas certa vez ouvi do ex-diretor da MTV que música não dá audiência na televisão. Esse é o pensamento de quem comanda o entretenimento no Brasil. Abç
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