Como costumo fazer, dia desses publiquei um dos textos do blog na página do Facebook, e acabou que eu e Gabriel (Autoramas), trocamos opiniões nos comentários (A Morte do Rock Brasileiro?!?). Nos conhecemos desde os tempos de Brasília.
Por vezes sou mal interpretado em textos que escrevo sobre o futuro do rock no Brasil. Gosto de também ser mal interpretado rsrs. O que escrevo é sempre uma mistura de provocação, verdade, exagero, mas pé no chão, com certeza.
Em resumo, pra mim é assim: pode até ter bandas boas, mas nada de grande destaque. Nada que vá revolucionar, trazer algo novo, revigorar o gênero. Eu vejo shows de bandas novas quase toda semana. Às vezes até 3 shows, e não vejo nada que realmente mostre algo novo.
Criei o programa Ultrassom que a MTV produziu por duas temporadas, em 1998 e 1999. Era um programa de bandas novas, duas por programa, que era semanal. Recebíamos tanto material que foi preciso contratar uma pessoa pra ajudar a ouvir e fazer uma primeira peneira. Mesmo assim, com tanta banda, era difícil escolher de 8 a 10 por mês. Em uma conta esdrúxula eu achava uma banda a cada 20 ouvidas.
Mesmo nos anos 1980, eram pencas de bandas, para pouquíssimas boas. Costuma-se falar de Barão, Blitz, Lobão, Paralamas, Kid Abelha, Legião, Lulu Santos, Camisa de Vênus, Titãs, Ira!, Ultraje... Mas havia muito, mas muito mais. Pencas não conseguiram chegar a gravar, e outras pencas que conseguiram não vingaram nem no 1º disco. Perceba: Os Eles, Eletrodomésticos, Cheque Especial, Taranatiriça, Grafitti, a lista vai longe. Se for então escrever aqui os nomes das bandas que estouraram apenas uma música, o texto não terá fim.
Mesmo com o boom dos anos 1990, bandas ruins e sem força também ficaram no caminho, muitas não gravaram (apesar de já haver facilidades pra isso), e outras simplesmente não vingaram. E era um desespero. Digo isso por viver na pele, por estar bem na MTV, onde todos os artistas, grandes e pequenos, queriam aparecer.
Em todas essas décadas era assim: quantidade sem qualidade. Um bom momento para o rock brasileiro, pode soar estranho, foram os anos 1970. Mesmo fora do mainstream, das rádios e tvs, a cena estava ativa e cheia de bons nomes. Tinham festivais alternativos, shows em teatros - mais que isso, pois muitas vezes eram temporadas, e não apenas um ou dois shows. Tocava-se durante um mês no teatro X, depois ia pra outro, fazia-se um ou outro show solto, festivais. Era uma cena forte que gerou discos clássicos. Módulo 1000, Bicho da Seda, Ave Sangria, Som Imaginário, Joelho de Porco, Som Nosso de Cada Dia, O Terço, Made in Brazil, Rita Lee & Tutti Frutti. Nessa época arrisco em dizer que não havia quantidade, mas qualidade. Em plena ditadura militar, não era nada fácil ser cabeludo e fazer barulho.
Hoje, mais do que em qualquer outra época, temos muito mais quantidade do que qualidade. Além de ver shows, recebo muitos links. Um dos grandes problemas da cena atual são as letras. E isso não sou só eu que digo. Em um recente trabalho que fiz e que aborda o rock brasileiro, tanto artistas, quanto público, todos são unânimes em dizer que falta conteúdo.
Não quero citar nomes, mas existem ao menos sete ou oito bandas relativamente novas que podem vingar em 2016. Dessas, 2 ou 3 têm capacidade de durar além de dois ou três discos. Muita gente fala que o rock vai voltar, e não deixo de acreditar nisso, já que tudo é um ciclo. Depois de 20 anos, quem sabe a mídia não resolve investir no rock novamente. É possível.
Já existe uma cena nova. Ela é esquisita, desunida, sem ponto de referência, mas está aí. Em SP e outras poucas cidades que tenho conhecimento, estão voltando casas noturnas interessadas em shows autorais. Isso é bom sinal. Porém é pouco.
É necessário que a mídia participe, obviamente indo além das vias especializadas. Eu acredito que seja possível uma gravadora apostar em um casting rock, digo dois ou três nomes para se trabalhar. Quem sabe assim, outras rádios, tvs, jornais e revistas também passem a falar novamente do rock. Quem sabe até a MTV volte a falar de música, de rock!
Como em outras épocas, é preciso um movimento de explosão, todo mundo junto falando de vários artistas ao mesmo tempo. Todos esses canais de comunicação falando juntos de oito, dez nomes. Uma gravadora aqui lança dois nomes, outro selo ali lança mais dois, mais outra gravadora aposta em um...
Se assim for, e espero ser, como a história mostra, sobreviverão os fortes.
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