21 de janeiro de 2013

Série Coisa Fina: 18 - Patife Band

Em 5 e abril de 1988 assisti a um grande show da Patife Band. Ele aconteceu no saudoso Teatro Mambembe, em São Paulo.

Pra minha sorte era uma noite de sessão dupla. Mais cedo tocou a banda Anjo Caído, a qual eu era roadie. Na sequencia viria a Patife Band. Mas eram dois shows.

Pelo curto espaço de tempo entre um e outro, ficou acertado entre as bandas a divisão de equipamento. Entre um show e outro houve apenas uns 40 minutos de pausa para a passagem de som da Patife, saída e entrada do público. A formação da banda não era a mesma que havia gravado o Corredor Polonês. Se não me engano apenas o baixista Sidney estava na formação.

Foi um show incrível, de cair o queixo. Uma barulheira nervosa. Uma das coisas que me espantou nesse dia foi a atuação do grande baterista Zé Eduardo Nazário (Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, O Terço, Milton Nacimento, Taiguara) que tocou com a bateria invertida e lendo partitura. O guitarrista (acho que) Felipe Ávila, parecia um Jesus Cristo (barba e cabelo longos) e tocou sentado o tempo todo, também com a partitura na sua frente. (Essa formação está logo abaixo no vídeo ao vivo no Aeroanta)

Saí do Mambembe estupefato. Vi parte do show do palco e depois fui sentar junto à plateia. Além de ver essa grandiosa apresentação, pude conhecer a banda nos bastidores.

Em outra oportunidade vi Patife ao vivo novamente, mas isso em 1997, em um bar na Vila Madalena, o antigo Espaço Cultural. Havia pouca gente na plateia, o show foi bom, mas não foi uma coisa incrivelmente incrível como no Mambembe. Não sei, mas o contexto era outro...

Atualizando o texto, vi outros shows da Patife, com diversas formações (e vejo até hoje quando há oportunidade - a última em 2017). O do Mambembe ainda é o melhor deles.

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A princípio esse post faria parte da série O Resgate da Memória, mas depois de pesquisar as reportagens, desisti da ideia porque não gostei de nenhum texto que li. Gostei apenas desse do Estadão assinado por Luís Antônio Giron, por ter um bom resumo da carreira da banda, por falar dos dois discos lançados, da trajetória, e com algumas poucas e boas colocações de Paulo Barnabé.

Gostei até da comparação entre Patife Band e Titãs, coisa que eu nunca havia relacionado, apesar de ser grande fã das duas bandas.

Há também uma boa reportagem com Paulo Barnabé na Revista Bizz de 1987, da época do lançamento de Corredor Polonês, mas infelizmente não consigo mais acessar o CD ROM da revista. Essa reportagem inclusive ajudou a formação do disco se desfazer já que Paulo afirma logo no início que não se trata de uma banda e sim um projeto solo. O que não era mentira.

Paulo Barnabé, irmão de Arrigo, era baterista na banda do irmão. Compositor, instrumentista e arranjador, fez parte da turma da Vanguarda Paulista que também tinha Itamar Assumpção. Paulo é fera e sua importância para essa cena vanguardista não é pouca.

Os textos sobre a Patife Band eram tentativas de se parecerem rebuscados. Não sei, mas acho que as pessoas que escreveram sobre a banda queriam chegar perto do que era o som, mas não conseguiam, por filosofar demais, buscar referências estranhas. Nessa pesquisa que fiz para esse post, li texto que trazia referência até de Hamlet. Pelamordedeus!

Patife Band é rock. Uma espécie de King Crimson e Fear juntos. Paulo Barnabé não era um punk e a Patife também não, mas pelo som nervoso com letras tensas, leva ao universo do punk rock. Há todo tipo de rótulo que gostam de colocar: vanguarda, pós-punk, rock experimental. Nada disso. Não é preciso filosofar ou buscar um termo que resuma o som da banda. É rock nervoso, porrada. Pronto.

Era o que tinha de mais diferente na época. Não era para atingir as massas, e nem pra tocar no rádio. Tinha zero apelo popular e também nem todos os ditos alternativos gostavam da banda. Ela tinha (e ainda tem) seguidores fieis. Patife Band era diferente das bandas que estavam no mainstream, das bandas que estava no underground, das bandas punks, alternativas e pop.

Em relação as letras, Patife também é um ótimo exemplo de bom conteúdo, boas histórias, boas sacadas. Tudo perfeitamente encaixado da quebradeira toda.

Patife Band lançou dois grandes discos nos anos 1980: Patife Band (1985) e Corredor Polonês (1987). O primeiro é um mini LP com 6 músicas (independente lançado pela Baratos Afins, sendo que 3 delas foram regravadas no segundo.

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O Estado de São Paulo 10-ago-1988

Patife Band, a Preferência Pela Contramão
Contrariando o nome e os percursos convencionais, esta banda que nem é banda apresenta hoje antigas composições e músicas inéditas no Madame Satã
Por Luís Antônio Giron



Patife Band não é do tipo de grupo que começe (sic) ou continue. Nada tem de convencional. Ela quebra um silêncio de quatro meses com um único show, hoje, a partir das 21 horas, na tradicional Estação Madame Satã.

De patife, a banda não tem nada. Aliás, nem banda é. Trata-se de um projeto musical do paranaense Paulo Barnabé, 35 anos, desde 1983 convida instrumentistas para gravar discos e participar de shows. Já gravou dois discos, enfrentou o circuito alternativo, assinou contrato com grande gravadora, rescindiu o contrato e agora retorna aos porões. Um percurso estranho.

O som resultante desses cinco anos de tentativa e fragmento parece agora familiar ao grande público: batida pesada, ritmos assimétricos, canto falado, uso de recursos do punk e da vanguarda, mensagens agressivas. Há quem afirme ser um clone dos Titãs.

Mas é quase o inverso. Em 1985, Paulo bancou a prensagem do mini-LP Patife Band, e a banda iniciou um off-estrelato. Naqueles idos, os Titãs faziam um som hesitante entre o punk e o chique. Quando a Patife assinou com a WEA e lançou em abril do ano passado, o LP Corredor Polonês, os Titãs já haviam estourado com o álbum Cabeça Dinossauro (também da WEA), que exibia, em 1986, uma fórmula sonora tensa semelhante à da Patife Band de 1985.

O próprio Paulo Barnabé reconhece o parentesco de Pregador Maldito e Tô Tenso, da Patife, com rocks do tipo Cabeça Dinossauro e Polícia, dos Titãs. “De repente acham que eu estou imitando os Titãs”, diz. “Mas a Patife veio antes. Entre várias fontes de inspiração dos Titãs, acho que figura a Patife.” Os Titãs pasteurizaram, com talento, uma boa idéia. Já a Patife, não aguentou o “esquemão” de uma grande gravadora. Ao lançar o LP, em abril de 1987, ela não decolou. A WEA tinha um método, Paulo outro. “Não me adaptei ao esquema, embora reconheça que ele funcione”, conta Paulo. “A gravadora pede três anos até que possa investir pesado no músico alternativo, e eu não estava a fim de fazer carreira no rock. Quem faz carreira é advogado.”

A banda continuou como se tivesse gravado um segundo disco para um selo independente. Retornou à via-crucis alternativa, tentando shows aqui e ali, sendo sempre por um público fiel. Neste ano, apresentou-se no Mambembe e no Projeto SP. No show de hoje a noite, Paulo (vocal), Emerson Vilani (guitarra), Zé Português (baixo) e Zé Eduardo Nazário (bateria) querem mostrar novos arranjos para a exibindo antigas composições, como Chapeuzinho Vermelho e Poema em Linha Reta, e exibindo músicas inéditas, entre elas o rock The Big Stomach. Essa composição, alias, deverá dar o título para o próximo disco da banda, que será gravado até o fim do ano. Como uma boa banda alternativa, a Patife não tem grandes planos para depois do show de hoje. Dias 2 e 3 de setembro ela se exibe respectivamente em Salto e Piracicaba. Não há datas para shows em São Paulo. Antigrupos são assim mesmo.









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