10 de janeiro de 2013

10 Dias em Havana (Cuba)

Mercado de Havana
Neste momento em que escrevo estou em Cuba, em uma viagem a trabalho.

Existem duas Cubas: uma dos cubanos e outra dos turistas, estrangeiros e privilegiados. Aqui é tudo muito difícil para a população. O sistema político de Cuba é uma mentira. Da raiva de ver o que o governo faz com uma população tão legal, tão feliz, apesar de tudo.

Não há assento sanitário nas casas, não há absorvente, sabonete, papel higiênico e, por fim, não há trabalho. Nada. A população necessita de tudo.

Desde que a União Soviética acabou, no início dos 1990, Cuba deixou de receber uma ajuda muito preciosa que ia para o sistema de saúde e educação. Agora só recebe ajuda da Venezuela, mas com Hugo Chavez estando com o pé na cova (se já não morreu), há muita preocupação em relação ao futuro econômico cubano. A hora de abrir está chegando!

É até difícil imaginar como a população sobrevive, mas um dos modos é recebendo dinheiro dos parentes que moram fora, geralmente nos Estados Unidos, em Miami, e que mandam uma média de 100 dólares por mês, uma excelente quantia. Conheci um casal que recebe ajuda da filha que mora na Espanha. É preciso levar em conta que o salário mensal de Cuba é 10 Cucs + um saco de arroz e um de açúcar. (10 cucs são +ou- 13 dólares)

Hoje já é permitido que o cubano compre carro e casa, abra comércio (sempre na própria casa), mas ninguém tem dinheiro para isso e nem perspectiva de uma melhora financeira e social, portanto, essa permissão é quase que uma mentira. Quem compra é quem consegue economizar o dinheiro que recebe desses parentes que estão fora da ilha. Não é fácil ter imóvel, e também não é fácil pagar aluguel. Famílias inteiras moram juntas para rachar as despesas e, por exemplo, se um casal se separa, continua na mesma casa que passa a ter divisórias. Há lugares em que o pé direito é alto e um segundo andar é feito, mas de forma irregular, com madeira.

As pessoas que dizem gostar de Cuba, são pessoas que fazem parte da segunda Cuba, a dos ricos e estrangeiros. Porque se você vive e conhece a verdadeira realidade do país, vai querer ir embora. Fidel Castro acabou com com o lugar, destruiu. Seu irmão Raul ao invés de abrir de vez o país, engana a todos inventando permissões que são difíceis de se realizar. Diz que pode, mas não dá subsídios para que a coisa de fato aconteça, e os irmãozinhos ficam lá no palácio desfrutando de boa comida, TV a cabo, charutos e tudo o que há de melhor no mundo, enquanto o povo se fode. Que droga de comunismo é esse? Que droga de revolução é essa?

As pessoas hoje podem, por exemplo, abrir um restaurante, mas o fazem em suas próprias casas, pois não há a menor condição de se alugar um imóvel. Fui a um restaurante em um prédio residencial, toquei o interfone, disse que queria comer e abriram a porta. Subi pelo elevador, toquei a campainha. Haviam duas mesas na sala e duas em cada um dos dois quartos. Dessa forma acabei conhecendo muitas casas. Restaurante aqui é Paladar. A comida em Cuba não tem nada de especial. Come-se arroz e feijão, macarrão, carne, frutos do mar. Mas isso na segunda Cuba. Eu mesmo comi durante 8 dias no mesmo lugar, uma lanchonete colada ao hotel e que serve de tudo. Hoje, os cubanos já podem entrar nesse tipo de estabelecimento para consumir, mas poucos fazem isso. (os cubanos são proibidos de entrar em diversos lugares, mas a ideia é que isso acabe)

As ruas têm cheiro de óleo queimado e charuto. Fuma-se charuto aqui como se fuma cigarro no Brasil. Em qualquer lugar, a qualquer hora. Aqui ainda é permitido fumar dentro dos estabelecimentos. No chão há tocos de cigarros e charutos. Dos típicos carros antigos, raro são os que não soltam fumaça preta pelo carburador. Tudo velho, caindo aos pedaços, com peças recauchutadas, claro.

Havana é linda, apesar de decadente. Me chamou a atenção as árvores da cidade. Uma mais linda que a outra. Fui a um parque que me deixou de queixo caído. Parecia a floresta da Branca de Neve. Realmente incrível.

As ruas não têm nome e sim números, como em Nova York, e esses números são escritos em uma pedra que fica  na esquina das calçadas. Mas para você ver deve olhar pra baixo e não para cima. Não sei descrever, mas é uma pedra de uns 40 centímetros de altura que tem formato de pirâmide e em cada lado está escrito o número correspondente a rua. Nos primeiros dias ficava louco sem saber como o motorista sabia para onde estava indo, já que eu não via placas. Curioso, perguntei e me mostraram as pedras.

Encontrei com três brasileiras em uma feira livre (uma delas de Brasília, mundo pequeno...), que estão em Cuba para estudar medicina. Estão em Santa Fé. Perguntei a elas sobre a informação que me deram, de que é preciso levar lâmpada de casa quando for ao hospital. Disseram ser exagero, mas que falta sim muita coisa. A formação e os profissionais continuam ótimos, mas não há equipamento e material suficiente. No Brasil não é muito diferente (apesar de ser por conta de roubo).

Andando pelo centro, passei por uma senhora que estava sentada em frente a sua casa. Ao seu lado uma mesinha com uma caixa de sapatos. Dentro da caixa haviam quatro sabonetes. Dois Palmolive e dois Lux. Costuma-se cortar o sabonete em quatro para para dividi-lo com outras pessoas. De fato não há nada em Cuba. Até mesmo esse material de higiene básica do dia a dia, se você quiser, muitas dessas coisas só conseguirá no mercado negro.

Charutos são desviados das fábricas, material de limpeza e higiene são desviados dos hotéis. Consegue-se tudo, mas muito mais caro e sempre  de forma ilegal.

Internet e tecnologia de ponta, nem pensar. Até há cubanos com  IPhone, mas que servem apenas como telefone e câmera. Talvez seja a esperança de que em um futuro próximo, Cuba abrirá suas portas para o mundo real. A internet que tem fora dos hotéis é praticamente discada. Lembro que tudo (tudo!) é monitorado. No hotel onde estou, o preço da internet é 10 cucs a hora. Um roubo! Não há acesso as redes sociais... Não neste hotel. Os cubanos não tem isso.

Fui ao mercado de Havana. Totalmente deteriorado. A carne vendida fica em cima de uma bancada de madeira, sem proteção alguma, com moscas posando nos pedaços expostos, tendo ali cabeça de porco e galinhas inteiras.

Sexta feira passada resolvemos dar uma volta (eu e o pessoal que está comigo), apesar da intensidade do trabalho. Queríamos ouvir a música cubana, claro, mas não em um show para turista, com figurino de brilho, luzes coloridas (como aqueles shows de mulatas em Copacabana), e realizados em hotéis. A ideia era assistir algo mais underground em um barzinho pequeno, com músicos de primeira fazendo uma sonzera. Obviamente que isso não existe em Cuba.

Não assisti ao filme 7 Dias em Havana, mas estou louco de curiosidade pra ver se retrataram a verdade (claro que não!). Como disse, a cidade é lindíssima, percebo que a população é como no Brasil onde vivemos ferrados, mas sem deixar de fazer o carnaval. Não são tão abertos como nós brasileiros, mas isso é completamente compreensível pelo modo de vida deles. Cuba tem tudo para ser um país maravilhoso. A arquitetura, antiga, é linda. Prédios com apartamentos grandes, casas grandes. Como em todo lugar, há os bairros e moradias ultra humildes e há os bairros e moradias privilegiados.

Ok, a população brasileira é carente de saúde, educação, alimentação, saneamento básico, etc. Há muita desigualdade, desemprego, corrupção, injustiça, privilégios e mais uma tonelada de coisas ruins. Porém no Brasil nós podemos sonhar e ter esperança, coisa que os cubanos nem isso podem. É difícil, mas no Brasil um pobre pode se tornar rico, temos muitos exemplos disso e em diversas áreas (seja por sorte ou competência) . Em Cuba não há essa possibilidade. No Brasil você pode, por exemplo, sair do interior do Maranhão e ir para São Paulo ou Tóquio ou Nova York tentar uma vida melhor. Em Cuba não.  No Brasil somos ferrados, mas temos o direito de ir e vir, o que nos ajuda a procurar uma vida melhor. Em Cuba não. Os governantes não te dão nada, nem emprego e nem esperança, e não te deixam fazer nada. 

Depois de 10 dias finalmente voltei pra casa. Não via a hora. Há muito que falar de Cuba, mas o espaço é pouco. Há muito o que entender também. Uma das coisas chatas de lá, é que arrancam dinheiro de você de todas as formas. Até pra sair de Cuba foi preciso pagar 25 cucs, algo em torno de 30 dólares. Um microfone sem fio ficou apreendido no aeroporto por não poder entrar no país. Na hora de pegá-lo de volta cobraram 10% do valor.

Cuba merece mais. Poderá ser um lugar ótimo para turismo, para trabalho e é muito interessante como locação para cinema e publicidade. Se fosse um país normal, muita gente ia querer morar na ilha.

PS1: O jornal oficial de Cuba, o Granma, é em formato de tablóide, de poucas páginas e de reportagens pequenas e rasas. Bem menor que esses jornais entregues gratuitamente nas ruas em algumas cidades brasileiras.
PS2: Em Havana não há trânsito, já que são poucos os carros.




2 comentários:

Anônimo disse...

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1214341-cuba-poe-em-vigor-reforma-migratoria-que-facilita-viagens-ao-exterior.shtml

Anônimo disse...

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/1220639-cuba-devolve-propriedades-da-igreja-catolica-nacionalizadas-em-1961.shtml