24 de julho de 2009

Não Compre, Baixe!

Principalmente na era do vinil era muito difícil você ter tudo que quisesse. Isso por vários motivos: disco era caro (como é o CD hoje) e muita coisa era importada. Mesmo um disco do U2 ou Dire Straits era difícil de sair simultaneamente. Tudo chegava aqui com certo atraso de meses.
Agora imagine que, se era difícil conseguir um U2, Dead Kennedys, Gang of Four e XTC, por exemplo, era praticamente impossível, ao ponto de ser quase inimaginável ter uma cópia ou mesmo gravação em fita cassete.

Agora impossível mesmo era ter acesso as coisas independentes aqui do Brasil.
Como conseguir um disco do Sérgio Sampaio como o ‘Eu Quero Colocar Meu Bloco na Rua’? Como conseguir algo do Jars Macalé, Bixo da Seda, Ave Sangria, Sexo Explícito? Inviável!
Aí surgiu o CD. Tanto nós consumidores quanto as gravadoras, tivemos que recomeçar do zero com nossa coleção. E nessa as gravadoras picaretas passaram a só reeditar o material que de fato vendia. Muita coisa ficou pra história, mofando e embolorando nas prateleiras de arquivo dessas maledetas gravadoras.

Vou dar um exemplo bem normal. Até o Capital Inicial fazer sucesso com o Acústico, to falando de 2001, ou seja, apenas 8 anos atrás, a antiga gravadora da banda (se não me engano Polygram) não havia reeditado os discos do Capital em CD. Só no segundo semestre de 2001 que, vendo o sucesso da banda, a gravadora lançou uma caixinha com todos os CDs.
E até hoje é assim: muita coisa está nas mãos das gravadoras e elas não querem relançar. Charles Gavin fez um trabalho maravilhoso de garimpagem em algumas gravadoras, principalmente Warner, mas elas frearam esse tipo de lançamento por falta de grana.

A EMI até hoje não relançou (e nem vai) o único disco de Finis Africae, Mercenárias, King Kongo e outras bandas do mesmo porte que essas. Como elas podem nos privar disso? No caso do Finis, até sei que o pessoal da banda tentou pegar a máster para relançar o disco em CD por conta própria, mas a EMI não liberou. De matar, né?
E o primeiro disco solo de Supla que foi produzido pelo João Barone (Paralamas)? Nunca iremos ver e ouvir isso.

Por tudo isso fico maravilhado com o trabalho de pessoas que, por amor a esse material esquecido, vem aos poucos postando isso em blogs de download. Não me venham falar em download ilegal, pois ilegal é nos privar do que gostamos. De dois anos pra cá tenho aumentado consideravelmente minha CDteca com coisas independentes dos anos 1960, 1970, 1980 e 1990. E até mesmo coisas que não são independentes, mas que, como disse, são esquecidas pelas maledetas gravadoras.

Como eu poderia conseguir uma cópia do disco de Gerson Conrad (Secos & Molhados) com Zezé Motta? Ou o ‘Paêbirú’ de Zé Ramalho & Lula Cortês? Ou o único lançamento de Liverpool? Enfim, esse papo de download ilegal é conversa para boi dormir. É conversa de quem não sabe enxergar o futuro. É conversa de quem não quer se esforçar no trabalho.

Esse trabalho de garimpagem que diversos blogs tem feito é merecedor de prêmios. Nosso presidente corrupto poderia conceder uma medalha de honra a todos eles. Ao mesmo tempo essas maledetas gravadoras deveriam se envergonhar do que fazem com esses registros históricos que, queira ou não, são de suma importância para nossa história cultural.
O Planet Hemp não fala “não compre, plante!”? Eu digo “não compre, baixe!”


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