18 de junho de 2013

O Universo da Cultura Pop no Brasil 2


Não consigo entender o motivo pelo qual o profissional especializado em cultura pop não é valorizado. TVs, rádios, sites, jornais e revistas usam muito bem seus profissionais especializados, por exemplo, em esporte, economia e política. Até “especialistas” em celebridade existem!

Veja o que aconteceu com a própria MTV Brasil que se destruiu por causa de uma má gestão que durou pouco mais de 10 anos. Aproveito e pergunto: há algum veículo de comunicação que tenha ajudado, de forma significativa, a cultura pop brasileira nos últimos 10, 12 anos? Não, porque no país esse mercado praticamente não existe. É tudo muito irregular.

Pouco mais de 33 bilhões de dólares foram gastos em entretenimento no Brasil em 2010. Não é pouca coisa. A maior parte desse dinheiro foi aplicada em tv por assinatura e internet.

Aqui no Brasil consumir cultura é caro. Não deveria ser, mas essa é uma realidade. Esse é um dos motivos pelo qual se torna obrigação dos veículos especializados à divulgação. É papel da TV, do site, da revista, do rádio, estimular o consumo.

O brasileiro não consome cultura por falta de hábito, porque apesar do pouco dinheiro, a falta dele não é o principal motivo do desinteresse. O principal motivo é realmente a falta de hábito. Não sou eu que falo isso, são pesquisas encomendadas por institutos, fundações, federações.

Os números são de arrepiar. Poucos são os brasileiros que vão ao cinema ao menos uma vez ao ano (mais da metade da população nunca foi ao cinema). Grosso modo o brasileiro praticamente não lê. Raros são os que vão a museus, exposições, teatro, shows musicais, espetáculos de dança. Mais de 60% das cidades brasileiras sequer tem livraria. Em uma pesquisa da Fecomércio, 47% da população não realiza nenhuma atividade cultural ligada à leitura, cinema, teatro, dança, música, exposições.

Agora olha aqui uma prova do que falo: segundo a doutora em Ação Cultural e pesquisadora Isaura Botelho, a melhor forma de criar hábitos de cultura na população é a vivência. Ela afirmou que “o contato com a linguagem artística é que vai criar o hábito (de consumir cultura)”.

Ou seja, é fundamental a divulgação de cultura. Não é tudo, mas de suma importância. É aí que deveria entrar em cena programas voltados para esse tema. Os telejornais de respeito poderiam dar mais espaço para pautas culturais. As revistas e jornais também. Até mesmo os grandes portais da internet limitam suas seções de música e cinema.

Hoje a literatura infanto juvenil é algo muito forte, rica em lançamentos. Essa onda deve-se muito ao sucesso de Harry Porter. Há diversos livros de aventuras que misturam mistério, fantasia, magia, assassinato, amor, suspense. Hoje os jovens tem muito mais opções de leitura, no entanto onde você vê ou lê sobre esse tipo de literatura? Se formos pensar em rock, houve uma penca de lançamentos de biografias: Ozzy, Neil Young, Queen, Beatles, David Bowie, Bob Dylan, John Lennon, Anthony Kieds, Kiss, Slash, Ramones, Sex Pistols. De repente surgiu uma porção delas nas livrarias e onde você vê ou lê sobre esses lançamentos? Em nenhum lugar. Se muito, em uma ou outra revista, e mesmo assim sem aprofundamento.

As pessoas costumam ir muito mais ao cinema assistir aos blockbusters do que aos filmes “cabeça”. Então porque diabos esse gênero é tão ignorado pela imprensa? Nessas revistas semanais, uma única pessoa escreve sobre literatura, uma única pessoa escreve sobre música, uma única pessoa escreve sobre cinema. Essa pobreza e escassez de profissionais é lamentável, porque esse único profissional vai falar bem do que gosta e mal do que não gosta. É preciso investir em profissionais especializados, mas que entendam de áreas específicas. Não dá para um jornalista fazer uma crítica de Britney Spears e outra de Motorhead. Quem gosta dos filmes de Wood Allen não vai entender um filme como Hulk ou Homem de Ferro. No esporte há o especialista em automobilismo e outro em futebol. Assim como há o especialista em política nacional e o de política internacional.

O problema é exatamente esse: não se investe em jornalistas especializados em cultura, porque não há interesse em se aprofundar nessa editoria. Mas por quê? Quantos discos são lançados por mês? Quantos livros são lançados por mês? Quantos shows musicais não acontecem por mês? Quantas peças são encenadas por mês? Quantos filmes e DVDs são lançados por mês? Quantos artistas exsitem? Artistas da música, das artes cênicas, dos quadrinhos, das artes plásticas, das letras. Quantos deles são consagrados, quantos estão em ascensão e quantos estão começando?

O triste é que, mesmo a dita imprensa especializada em cultura pop não sabe o que fazer com sua matéria prima. Sequer sabe do poderoso conteúdo que tem.
(continua...)


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